Thursday, March 15, 2007




Não tenho aptidão natural para lidar com as pessoas no geral. Gostava imenso de ter, de me dar logo a conhecer, de me abrir aos outros e deixá-los entrar. Mas não sou assim, simplesmente ponho defesas, fico desconfiado e no fim, dou metade do que podia dar.

Sempre fui assim com a maioria das pessoas, mas especialmente com o namorado da minha irmã. Os meus amigos dizem que já não tenho idade para fazer “birras”, e que devia era ir ver uma “futebolada” com ele para logo nos entendermos.
Na verdade já temos idade para pormos de lado as divergências e apertarmos as mãos, contudo aquele feitio dele, a maneira como se comporta na minha casa, e o que faz à minha irmã, faz me “ferver” em pouca água.

Isto foi sempre assim, até ao início da Quaresma. Estava a reflectir na minha caminhada desta Quaresma, neste tempo de recolhimento, de oração intensa, de silêncio interior e de conversão, quando a minha irmã entrou no meu quarto e informou-me que o Francisco ia jantar a nossa casa e partiria connosco para a casa de campo.
Irritado interrompi o meu momento a sós com Deus, semi cerrei os olhos e levantei me bruscamente.
Só me apetecia gritar, como era possível? Ele que só maltratava a minha irmã, mas que dizia que gostava dela, ele que nos envergonhava perante convidados, ele que só sabia irritar-me e tirava gozo disso, ele ia passar um fim de semana na minha casa, debaixo do mesmo tecto, no meu quarto.

Nesse momento de irritação, de revolta e de crise, Ele falou-me, foi ao meu encontro, pedi-Lhe que me perdoasse por ter interrompido a oração, mas naquele momento não estava com cabeça para Lhe falar. Perguntou-me porquê, e expliquei-Lhe que o namorado da minha irmã que eu não simpatizava iria estar ao meu lado durante alguns dias a chatear me a cabeça. Permaneceu em silêncio, e depois disse-me:
- É isso que te preocupa?
Fiquei pálido, como é isso que me preocupa? Estamos perante uma coisa irrisória, uma pessoa indecente, mal-educada e chata que vem viver debaixo do meu tecto e é apenas e só namorado da minha irmã como queres que me sinta?
Senti que se ria, não por gozo, mas um riso de Pai, que desfaz os nós que os filhos fazem, os nós das complicações, os nós da amargura, da tristeza, da dor. Um riso carinhoso, despreocupado e envolvente.
- Porque não o recebes como me receberias a Mim?
Perante aquela pergunta respondi-Lhe chocado:
- Estás me a dizer para recebe-lo como se fosses Tu que fosses dormir ao meu lado naquele quarto? Colocando diante dele todas as regalias, luxos, e mordomias que faria perante Ti? Queres que lhe dê o que te daria a Ti? Todo o meu Amor carinho, dedicação e interesse? Oh Senhor, perdoa me não sei se sou capaz- disse-Lhe tristemente.
- Quero. Quero que o recebas como se fosse Eu, em carne e osso que estivesse debaixo do teu tecto, porque como sabes e muitas vezes te esqueces Eu, estou em cada um de vós e não só nos que vês como amigos, eu estou no vagabundo que te pede dinheiro, estou no chefe que te maltrata, estou no colega que te olha de lado, estou na idosa que esta internada, na criança que chora na rua, estou em todos e em cada um, mesmo naqueles que não Me revelam, e me escondem, Eu permaneço sempre neles.
Também estou no Francisco e tu não me vês, mas Eu estou lá, dentro do seu coração.
Por isso vai, e recebê-o como me receberias a Mim dando lhe o melhor de ti, e não te preocupes porque sei que és capaz, basta acreditares cegamente, mete os planos de lado, e dá o melhor de ti, sem limitações, entrega-te ao outro como o farias se fosse Eu que estivesse ao teu lado, porque sou.

Perante as suas palavras, e após um momento de longo silêncio, aceitei o enorme desafio que Ele me propunha e parti para a sala, arranjei coragem e força, e abracei o Francisco logo quando entrou, custou-me abrir os braços e envolvê-lo, custou-me mudar de atitude e dar o primeiro passo, custou-me dar-lhe a cama de cima, no meu quarto na casa de campo, mesmo não gostando da de baixo, custou-me imenso, mas valeu a pena. Fui eu que dei o primeiro passo, e ele sentiu que algo tinha mudado e gostou, e cooperou para que a nossa relação melhorasse, ao inicio deve ter estranhado mas o amor facilmente se mutiplica em amor, e quando demos por nós já tínhamos colocado as divergências de lado, e laços tinham sido criados.

No final da semana agradeci-Lhe pela oportunidade que me deu de crescer no seu Amor, e pedi-Lhe que me perdoasse por ser tão egoísta, mesquinho e infantil.
- tenho tanto que crescer e que mudar, que preciso de fazer Senhor?
Senti que me colocava uma mão no ombro e dizia-me:
-Confia em Mim totalmente, sem receios, sem medos, coloca-te diante de Mim, sem defesas , dá-Me as tuas preocupações as tuas angustias as tuas alegrias, todo o teu ser, não fiques pela metade. Porque Eu moldar-te-ei.

Comecou assim a minha caminhada nesta Quaresma com grandes desafios, mas que com Ele se tornam mais fáceis de realizar, porque me dá a mão e me agarra, dando me força para fazer mais e melhor.

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