Thursday, November 30, 2006


Entrei em casa a correr trazia os presentes em inúmeros sacos, deixei tudo à entrada, tirei o casaco, e corri para a sala. O barulho dos meus saltos faziam-se sentir pela casa, ecoavam continuamente, procurei-o por todas as divisões, e depois de percorrer toda a casa encontrei-o, sentado no chão da varanda a olhar para o céu. Tinha o bloco nas mãos, os lápis estavam espalhados pelo chão, o cabelo desalinhado, e um enorme sorriso.
Abracei-o e deixei-me estar ao seu lado por momentos, as palavras não se fizeram ouvir, o silêncio encheu todo o tempo, e então ele quebrou-o e falou:
- Que dia é hoje?
- Dezanove de Outubro, quinta feira, porque querido?
- Porque falta tanto tempo para o Natal.
-Sim é verdade….- respondi pensativa.
E ele continuou:
- Mas apesar de faltar tanto tempo, olho à minha volta e só vejo montras enfeitadas, anúncios festivos e pessoas como tu a comprar presentes…- respondeu amargamente.
- Desculpa mas já está tudo em saldos, eu não nado em dinheiro- respondi indignada.
- Eu sei, mas nem é isso que me incomoda é o espírito. Sabes o que significa Feliz Natal?- e sem me dar tempo para responder continuou - significa bom nascimento, ou seja o nascimento de Cristo, é como se fosse um aniversário simbólico, nós festejamos o nascimento de uma “Pessoa” que nos é tão importante que damos presentes uns aos outros, porque Ele está no meio de nós em cada um de nós, e ao darmos os presentes aos outros é como se Lhe déssemos a Ele, ou pelo menos é assim que deveríamos olhar para os presentes como algo simbólico, portanto não é suposto darmos o melhor e o mais caro da loja, mas sim algo verdadeiro, algo que Ele quisesse. Quando alguém faz anos, nós sabemos o que havemos de dar, temos uma ideia do que precisa, ou do que gosta, conhecemos a pessoa em questão e sabemos que lhe vamos dar algo que gosta, agora no caso de Jesus, que nos é tão próximo, em vez de Lhe darmos o que Ele verdadeiramente quer, damos-Lhe falsos presentes, gastamos dinheiro com coisas inúteis, vivemos para o consumismo, festejamos as datas apenas por festejar, fazemos de tudo isto um acontecimento social, quando é muito mais do que isso.
Continuei calada e surpreendida pelas palavras que proferia, dei-lhe a minha fria mão e deixei-o continuar.
- O nascimento do nosso Salvador, do filho de Deus feito Homem, passa-nos ao lado, só pensamos em nós, no que gostávamos de ter, só pensamos em formas de gastar menos dinheiro e comprar mais coisas, somos cada vez mais consumistas, e isso não é nem de perto nem de longe o espírito do Natal. Eu percebo que as pessoas gostem de dar presentes umas às outras, mas o Natal não é isso, é muito mais, é o nascer D´Ele dentro de nós, é a alegria de um nascimento, um nascimento tão grande que marcou a humanidade, um nascimento simples numa cabana, que mudou o mundo, que nos faz pensar em tudo antes e após ele ter ocorrido. Como é que se banaliza um acontecimento desta natureza?
A sua indignação, fez-me sentir um arrepio, ele tinha razão, senti-me envergonhada por ter desperdiçado tanto dinheiro, mas só queria aproveitar os saldos…que parva fui pensei tristemente.
- Não vale a pena esse olhar triste querida – e tocou me na cara com a sua mão doce, - ainda estás a tempo de mudar as coisas, não olhes para o Natal como uma simples maneira de dares algo as pessoas, pensa no Natal como o nascimento D´Ele, pergunta-Lhe o que quer receber de ti, pergunta-Lhe o que gostaria que Lhe desses.
Sorri-lhe e Ele prosseguiu:
-Achas que Ele quer as roupas que compras? Ou que vás aos saldos por Ele? Ou será que Ele quer que faças render os talentos que te deu, que te dês aos outros, que vivas cada Natal de uma maneira especial, que celebres o Seu Nascimento com humildade, que sirvas os outros, que vivas mais para os outros do que para ti.
Sabes o que Ele quer que Lhe dês?
Quer que TE Dês a Ele, que te entregues por Ele, para Ele e com Ele, sem medos, sem receios, sem preconceitos, com confiança, que Lhe entregues tudo aquilo que és, que te deixes moldar por Ele, que O deixes esvaziar e encher-Te por Dentro.

Permanecemos naquela varanda toda a noite, e foi no rosto do Pedro que O encontrei a falar-me sobre o seu Amor por cada um de nós deixei-me envolver suavemente, como quando a noite aparece e envolve o dia, como uma brisa de madrugada doce e leve mas que sabe tão bem!

Para a Maria João que tem um blog tão bonito que me faz pensar ( blog: Deus em tudo e em Sempre ), para o Joaquim que me faz Vê-Lo nas suas palavras ( blog: Que é a verdade )e para a Nônô que me inspira( blog: Fiat Lux ).

Tuesday, November 21, 2006



Cheguei a casa cansado do trabalho de um longo dia. Pousei a pasta na entrada, beijei a Teresa e os miúdos, e fui directo ao computador, para acabar o relatório da semana anterior.
Este poderia ter sido um dia igual a outro qualquer, não fosse eu abrir o meu email, e dar de caras com uma nova mensagem: Uma mensagem de Deus.
Ao início pensei ser uma brincadeira parva dos meus sócios, que adoravam provocar-me por ser Católico, e apaguei-o, sem o ler, porque estava sem tempo e com pouca paciência.
Passaram dez minutos, e após eu escrevinhar e teclar bastante avançado apenas um paragrafo no meu relatório, o meu computador dá-me a indicação de que recebi um email, vou verificar e dou de caras com o mesmo titulo do email anterior: Uma mensagem de Deus.
Irritado porque estava convencido que tinha apagado o email, apaguei-o já sem pensar nos meus sócios, mas com receio que fosse um vírus.
O tempo passou lentamente e dei por mim a trabalhar a apagar o email que recebia constantemente. Não me passara pela cabeça abri-lo com medo de ficar sem relatório, e o meu computador avariar, até que já completamente fora de mim porque aquele email não parava de ser recebido, imprimi o relatório, coloquei as pastas mais importantes num cd, e abri o email, que dizia:

Meu Querido Luís:

Estava difícil teres algum tempo para o Teu Pai, cada vez tens menos tempo, e vives obcecado com o trabalho. Gostava que soubesses que te Amo muito, que és uma pessoa especial, e que se tantas vezes as coisas não correm como querias, não fiques triste mas aceita-as, porque a vida é assim mesmo.
Terás muitas questões ao longo de toda a tua vida, umas responderás, outras pensarás de outra maneira e as últimas ficaram sempre contigo.
Se seguires o Exemplo de teu irmão, e meu Filho, Jesus Cristo, irás ser Feliz.
Deves estar pensativo, e confuso pela razão deste email, pois bem, no meio do stress do dia, não me Ouves, no contacto com outros não me vês, e nem no silêncio da noite me consegues escutar. Por isso meu Filho faço te um desafio, que não sejas só Cristão por acreditares na morte e ressurreição de teu irmão, e meu Filho, Jesus Cristo, mas que sejas Cristão na tua vida, dando o exemplo aos outros, partilhando a vida de Jesus com Outros, dando-O a conhecer, vivendo de uma forma simples mas Feliz
(…)

Fiquei perplexo a olhar para o computador enquanto acabava de o ler, tinha três páginas, as lágrimas corriam-me pelas faces, Ele falava-me de tanta coisa que eu já devia saber, do Seu Amor por cada um de nós, do meu caminho com Ele sempre ao meu lado….Quando acabei de o ler corri pela casa para contar à Teresa e aos miúdos, liguei aos meus pais, quis ir contar ao Pedro, ao António e ao Miguel, Ele tinha me respondido.

Foi então que acordei de um sonho, sim porque tudo não tinha passado de um bonito sonho um sonho com Deus, a Teresa deu-me um beijo na cara e perguntou-me porque estava tão feliz, e eu disse-lhe:
- Porque Deus me falou, em sonhos, sabes quando tantas vezes me queixo que Deus não nos responde devidamente? Que nos devia falar como nós lhe falamos, que nos devia sussurrar, escrever, aparecer, em vez de mandar sinais, dar-nos a entender palavras através de acções de outros. Sabes quando me queixava que Ele só aparecia aos outros, e tantas vezes eu não o via?
- Sim- respondeu ela meia pensativa, enquanto me olhava curiosa.
- Pois bem eu estava erradíssimo, Deus fala-nos na maneira divina, nós é que somos humanos e não compreendemos a sua maneira de comunicar, queremos sempre seguir o caminho que nos parece mais fácil, queremos sempre ficar com as ovelhas que sobram em vez de procurar a perdida, queremos castigar o filho que gastou o dinheiro da nossa herança em vez de o receber, queremos amar para receber…nós temos tanto para aprender com Ele.
Ele mostra-nos o caminho que deve ser seguido, no nosso entender é difícil, mas é sem duvida o melhor caminho, porque acredita Teresa Ele só quer o nosso bem, e se nos comunica por palavras de Outros, por acções, por pequenos gestos, é porque é assim que deve ser, e é porque Ele sempre foi assim, discreto e simples, nunca quis chamar a atenção, mesmo quando fazia milagres.
Era impensável Ele fazê-lo de outra maneira, porque Nós temos que crescer com Ele ao nosso lado, temos que acreditar e confiar N´Ele, porque mesmo não o vendo como vemos as pessoas, não quer dizer que Ele não esteja aqui. E principalmente temos que O escutar, porque cada vez mais vivemos para nós e esquecemo-nos de Lhe falar, de O ouvir, de O ver.
E principalmente temos que fazer do Ser Cristão, não uma forma individual de Fé, mas um modo de vida, uma maneira de estarmos sempre com Ele e com os Outros, uma maneira de caminharmos com Ele para a Felicidade.

Calei-me a agradeci-Lhe pela minha vida, e pelo meu sonho que me tinham feito pensar na minha vida e passar a fazer desta um momento continuo de oração.

Sunday, November 12, 2006


Ainda me lembro do dia em que a vi pela primeira vez. Já passaram tantos anos, mas o seu rosto permanece intacto na minha memória, o seu sorriso, a sua voz, tudo ressoa como se ainda estivesse ao meu lado.

Eu era um simples miúdo de rua, igual a tantos outros, de calças sempre rasgadas, descalço, com a mesma camisa todos os dias, e uma tristeza profunda nos olhos. Não me recordo da minha infância antes do seu aparecimento. Talvez tenha sido como afirma Freud, recalcada. Sei que vivi sempre na pobreza, a minha mãe morreu quando eu era ainda uma criança com pouco mais de dois anos, o meu pai era soldado e combatia com os rebeldes contra o regime. Guardo poucas memórias do meu pai, porque raramente estive com ele, não sei onde nasceu, nem onde morreu, só me lembro das suas partidas, que eram constantes, chegava e partia, até que um dia só partiu.
Éramos nove irmãos, eu era o segundo mais novo, a maioria já não era vivo, só sabia que tinham existido porque a minha irmã mais velha, os tinha conhecido a todos, e contava-me histórias de quem tinham sido, mesmo só tendo cada um deles vivido praticamente um ano.

Foi num dia normalíssimo, que a Ilda chegou a Malawi, vinha com um sorriso enorme, que transparecia alegria. A sua roupa era simples, mas bem mais nova do que a minha, trazia pouca bagagem, mas muito para dar.
Ficou encarregue de nos ajudar a estudar, dava-nos aulas todos os dias. Lembrou-me ainda com saudade, das suas aulas, alegres palestras em que aprendíamos tudo de uma forma simples. Roubava-nos gargalhadas, e fazia-nos dar valor ao dia a dia, mesmo quando tudo parecia não ter qualquer valor.
Depois das aulas, uns iam para a apanha da fruta, outros iam trabalhar para obras.
Eu andava sempre a arranjar novos trabalhos, em casa éramos cada vez menos à medida que os anos passavam, mas eu não deixava de ser uma boca para alimentar. Juntava os trocos de vários trabalhos, arranjos, ou carregamentos e dava tudo à minha irmã que tentava, já com tenra idade gerir a nossa humilde casa. O que eu chamava “casa “ não passava de uma cabana de palha e destroços amontoados, cujo interior era sombrio, tínhamos várias panelas, a madeira num canto , e mantas para nos taparmos no chão de terra batida. A bacia estava lá fora junto ao ribeiro. Debaixo da grande árvore, a minha irmã guardava as sementes, o milho, a farinha e o pouco azeite que muitas vezes conseguíamos arranjar.
Não sei se a minha família era cristã, julgo que não. Mas eu sou, comecei a ter aulas de catequese com a Ilda. Ela dava nos aulas normais, em que nos ensinava a ler, a escrever e a fazer contas. Contudo depois do almoço, chamava-nos e lia-nos o catecismo. Foi a partir dela que O conheci. Foi ela que me contou a história da vida D´Ele, foi ela que Mo deu a conhecer. Muitos de nós não compreendíamos as histórias que ela nos contava, mas à medida que o tempo passava, fomos percebendo cada vez melhor as parábolas que ela lia, os exemplos que dava, e os desenhos que fazia.
Guardo daqueles tempos, belíssimas recordações, no meio de toda a pobreza, no meio de toda a tristeza, todos os voluntários nos deram uma grande ajuda. Se hoje sou quem sou, sei que o devo a Ele e a eles, que nunca deixaram de acreditar em mim, que me ajudaram a sair da pobreza, que me estenderam a mão quando eu mais precisei.
Mas apesar de lhes ter agradecido, nunca lhe consegui agradecer a ela. Partiu antes de eu sequer ter pensado nisso.

Eram cinco da manhã, estava eu já a dormir, quando vários assaltantes entraram na casa das irmãs, atacaram a capela, e tentaram roubar o dinheiro que estava no seu interior, a Ilda tinha o sono muito leve, sei disso porque sempre que estive doente esteve ao meu lado e bastava eu estar com a respiração menos regular que ela acordava sobressaltada e acudia-me.
Levantou-se e viu-os de relance, eram três, queriam bater nas irmãs, em pânico foi chamar os outros voluntários, todos tentaram ajudar as irmãs a sair dali, no meio da confusão da fuga, um tiro ouviu-se, e quebrou o silêncio da noite. Passos soaram ao longe, e a escuridão encobriu o rosto triste das pessoas, que se teria passado?
Os voluntários aflitos, procuravam-se uns aos outros, e no meio da escuridão, encontram-na junto ao altar, caída como se tivesse a dormir, estava sobre o Crucifixo que tentara proteger, trespassada, mas com um enorme sorriso, fazia lembrar o Cristo do Sorriso, que no meio do sofrimento transmite alegria, e no meio da dor, Amor.

Nunca me esqueci dela, talvez pela sua presença numa etapa muito importante da minha vida, talvez porque acompanhou o meu crescimento, talvez porque foi quase uma mãe para mim, a mãe que nunca tive.
Chorei como nunca tinha chorado quando o P. Charles me disse que ela tinha ido para o Céu, não é que não quisesse que ela fosse, mas não queria que fosse tão cedo. Tinha saudades dos rebuçados de mentol com cheiro a mofo, que ela nos dava depois das boas notas, dos beijos de bom dia logo pela manhã, do abraço forte e seguro, como se nos envolvesse, antes de nos deitarmos, das palestras, do olhar doce, do sorriso que preenchia toda a sala.

Hoje falo dela a qualquer pessoa, porque acho que foi um exemplo de uma pessoa Santa, dou a conhecer os seus feitos que me marcaram a mim e a muitos.
Marcou-me profundamente a Sua maneira de estar na vida, a sua persistência, o seu Amor, mas principalmente a sua entrega por Ele.
Nunca desistiu de cada um de nós, mesmo quando fazíamos tudo mal, mesmo quando não compreendíamos, mesmo quando a magoávamos.
Tinha trinta e cinco anos quando morreu, era tão jovem, contudo tinha tanto para dar.
Mesmo tendo vivido pouco tempo, viveu a vida na sua plenitude, viveu-a correndo riscos, abdicando da sua pessoa, vivendo para os outros, não se protegendo mas dando-se, porque é dando que se recebe.
Deixou casa, família e amigos, para nos vir ajudar a crescer com Cristo presente nas nossas vidas.
Ouviu O Seu chamamento, e não teve medo, não pensou no amanhã, somente viveu o presente, sem recear a morte, porque confiou totalmente N´Ele, entregou-se por Ele, para Ele e com Ele. Não pensou em nela própria, nos sonhos que tinha, nos projectos que gostava de fazer, nos percursos que ainda achava que ia percorrer, apenas confiou N´Ele, porque sabia que Ele só queria o melhor para Ela. Sacrificou a sua vida, abdicou do seu tempo, de regalias de hábitos tudo em nome D´Ele.

Olho para trás e vejo a sorte que tenho em tê-la conhecido, agradeço a Deus ter me posto a Ilda no meu caminho, peço-Lhe que me guie para Seguir o seu exemplo de bondade , de entrega, de Serviço, de humildade, de Vida, e peço-Lhe também que a tenha no Seu colo para que no Seu Amor encontre a paz.





Em memoria da leiga Idalina Gomes e do P. Waldyr, Padre jesuíta brasileiro.

Wednesday, November 08, 2006



Era um dia normal igual a tantos outros, sai de casa para andar de bicicleta, o vento batia-me na cara, o cheiro do pão fresco enchi-me os pulmões e fazia me crescer água na boca. Pousei a bicicleta no paredão, e caminhei por entre as árvores, sentei-me no chão duro, o sol punha-se e eu admirava a sua beleza e simplicidade
Foi então que depois de um longo momento de calma e relaxamento, fui observando o que me rodeava com atenção, as árvores eram poucas, o mar ainda estava longe, as lojas iam-se abrindo a pouco e pouco, e a luz penetrava na cidade.
Á medida que o tempo passava com mais atenção eu observava o que me rodeava, e foi aí que para meu grande espanto comecei a pensar na vida.
Ao olhar para todos os lados, dei por mim rodeada de cartazes, com a típica publicidade moderna :
“ Não deixe para Amanhã o que pode Ter hoje”, “ comece a pagar só em Fevereiro”, “ Nós damos-lhe o que quer “… e foi no meio de todas essas mensagens de marketing que comecei a pensar na nossa sociedade e na vida humana.
Dei por mim a pensar na conversa que tive com o António no dia anterior em casa dele, recordei as palavras dele como se estivesse à minha frente:

“- Cada vez mais as pessoas querem ter a chamada “satisfação imediata “, querem ter tudo no momento, estão a ficar mal habituadas, como se todos os seus desejos fossem e devessem ser realizáveis.
Já não fazem projectos a longo prazo, querem ter tudo no momento, só a palavra agora é que interessa. A maioria só pensa nelas, porque a sociedade as incentiva a isso. Porque é muito mais fácil pensar em nós no que nos outros, porque é muito mais fácil ser egoísta, do que abdicar de mim para pensar no outro, porque é muito mais fácil fazer a minha Vontade do que a D´Ele.
Não faças a essa cara, não concordas comigo?- perguntou-me e prosseguiu :
- Então olha vou-te dar um exemplo: o caso do Aborto, a sociedade em vez de incentivar as pessoas a terem mais filhos e em vez de lhes facilitar a vida de modo a que a taxa de natalidade aumente, o que faz? Promove a chamada “liberdade de escolha” ou “ direito da mulher “ que na realidade são termos utilizados como fachada da politica de morte e que só servem para as pessoas pensarem cada vez mais nelas, para acharem que primeiro estão elas e depois está o bebé que vai nascer.
As pessoas parecem cada vez mais, crianças mimadas que querem ter tudo o que desejam, já não sabem o que é sonhar, porque não sonham sabes porque não sonham? Porque sonhar implica não ter tudo, sonhar é desejar algo, sonhar é traçar metas, é ter objectivos. Não sabem o que é partilhar porque não partilham, só querem ter ter e ter, como se o mundo girasse a volta do seu umbigo. Fazem birras quando não tem o que querem no momento “agora”, precisam de se satisfazer momentaneamente. A nossa sociedade no caminho em que se encontra têm tendência a incentivar acção individualista de mais, no sentido de só pensarmos em nós e no nosso bem-estar, como se a única coisa importante fosse o nosso mundinho. Para nos sentirmos completos temos que interagir com os outros, o Homem é um ser social, precisa dos outros, não imagino alguém que seja feliz pensando só em si, e não pensando nunca nos que a rodeiam.
É assim que muitas vezes nos afastamos de Deus sabias? Não O ouvimos, só pensamos em Nós, e Ele fala-nos muitas vezes através dos outros.
Não paramos para Falar com Ele, porque é que ao menos não O Ouvimos? Talvez porque não paramos, temos cada vez mais os dias preenchidos, os minutos contados, os segundos “ à tira “ para Nós, todo o tempo do mundo para nós e nem O deixamos falar connosco, nem Lhe damos espaço na nossa vida.
Muitos pensam que Ele tem culpa de tudo, mas é muito mais fácil responsabilizar os outros do que a nós mesmos. Muitas vezes não O vemos porque estamos ocupados, e preenchemos a nossa vida de tal maneira que não paramos e não O escutamos, nem O vemos, mesmo quando Ele nos abre portas, e janelas, mesmo quando nos acena ao longe, estamos cegos, não O vemos. Só nos vemos a nós como se a nossa cara fosse reflectida em cada esquina e os nossos caprichos estivessem escritos nas paredes.

Mas aí esta a beleza de todo o Seu Amor, porque Ele nunca desiste de nós mesmo quando nós desistimos Dele, porque Ele se entrega totalmente a cada um, Ele confia, Ele ama-nos como nenhum outro. Um Amor incompreensível aos olhos dos Homens, um Amor que não espera nada em troca, um Amor total, de entrega, de confiança, um Amor que O Fez e faz sofrer, um Amor que não é egoísta nem oportunista, um Amor de Pai. “

Após ter pensando nas palavras dele, rezei, e pedi ao Pai que nos iluminasse a todos, para O vermos no nosso dia a dia, mesmo nos pequenos gestos, para pararmos para pensar, para termos objectivos a longo prazo, para não sermos egoístas, para não vivermos como dizem os anúncios: para termos o que queremos quando queremos, ou seja agora.
Para sermos felizes como Ele foi, dando nos aos outros.

Tuesday, November 07, 2006


Sempre fui daquelas pessoas que planeavam a vida antes desta acontecer. Vivia mais o futuro do que o presente, combinava tudo para segunda-feira estando ainda na terça anterior, em Fevereiro já tinha programado as férias do Verão, do Inverno e da passagem do ano. Sempre fui muito prático e rotineiro, com tudo organizado ao pormenor, contava os minutos, dias, meses, reorganizava tudo para inserir mais um ou outro compromisso. Queria aproveitar todo o tempo, programava todos os segundos, queria ter uma vida organizada, não queria apanhar sustos ou correr riscos em determinadas situações.
Decoro datas com imensa facilidade, tal como nomes e acontecimentos, se me perguntassem onde estive nesse mesmo dia há seis ou sete anos era capaz de responder com precisão.
Normalmente ia a todos os convites, mas tentava seleccionar os que mais me interessavam, para não me acontecer, o que era mais frequente, ter dois programas em conflito.
Quando era miúdo, esperava ansiosamente que saísse o meu horário para organizar as tardes de estudo, as idas ao cinema, as explicações e as tardes com a Rita. Também gostava de receber o horário dos testes para organizar os fins-de-semana que ia a casa do meu pai, e os que podia ir a jantares e festas ou ficar em casa a estudar.
Olho para trás e revejo-me, dia após dia a escrevinhar em agendas, a anotar datas, acontecimentos, compromissos, a programar dias, horas, minutos, a viver a vida que ainda não existia, sempre fui assim um programador nato, uma pessoa que planeava a vida ao pormenor, que criava expectativas de como tudo ia ser.
Até ao dia em que tudo mudou, tinha grandes expectativas, planeei tudo ao pormenor e ao contrário do que eu esperava após cinco longos anos, tudo correu ao contrário do que esperava, foi uma enorme desilusão, fiquei muito triste comigo mesmo, tinha planeado tudo, não tinha arriscado e contudo tudo tinha corrido mal.
Como podia ter errado? No meio de tantos planos, que tinha corrido mal? Estava tudo tão organizado, ao pormenor mesmo...
Rezei, pedi-Lhe que me ajudasse a compreender o que tinha feito mal, e foi no meio do silêncio da noite que O ouvi como se me sussurrasse ao ouvido, que tentasse ser mais “livre” planeando menos, sendo mais impulsivo, nada de extremos, mas vivendo os dias sem preocupações futuras, planeando com antecipação mas sem exageros. Deu-me todas as indicações que precisava, tinha que parar mais vezes para pensar, não viver a vida como se fosse só compromissos de agenda, ou encontros daí a sete meses, aproveitar cada momento bem planeado, sem preocupações, sem pressões, porque a vida é um caminho que vamos percorrendo, e muitas vezes ao tentarmos fazer atalhos percorremos o caminho mais longo e árduo.

Fez-me ver a graça da oração que nos ensina e conduz.Passei a fazer da vida uma oração constante em tudo o que faço até nos pequenos gestos do dia a dia.

Passei a planear tudo com mais calma, tendo uma agenda mais livre, reflectindo mais no dia a dia, e não vivendo mais o futuro que o presente. Comecei a estar mais tempo em casa, com os meus filhos, passei a divertir-me mais e a fazer o que muitas vezes achava que não tinha tempo. Não devemos ser nem impulsivos nem planeadores, devemos ser equilibrados, porque no meio está mesmo a virtude.

Porque tantas vezes no meio do stress do dia a dia não O ouvimos e Ele tem tanto para nos dizer.

Monday, November 06, 2006


Conheci o Jorge há mais de seis anos em casa de uns amigos. Rapidamente simpatizamos um com o outro, no meio de encontros em jantares, cafés e cinemas, ficamos amigos.
Os meses foram passando e aproximamo-nos com o tempo. Começamos a namorar em meados de Janeiro, quando o vento frio se fazia sentir na cara, e o vermelhão nos assentava nas orelhas e nas faces. Ainda me lembro do sorriso dele quando me olhou naquele dia, parecia a pessoa mais feliz do mundo, tal como eu.
Partilhávamos tudo, apontamentos, livros, bilhetes , músicas, gostos, momentos. Éramos o típico casal adolescente apaixonado.
O nosso namoro resistiu, a exames, a pressões de amigos, a encontros e desencontros , à distância, e a pouco mais…Foi numa manhã chuvosa, depois de ter tido aula de guitarra que me ligou para casa:
- Querida, precisamos de falar.
Pensei que lhe tivesse acontecido alguma coisa na faculdade, fiquei preocupada, apanhei o eléctrico e fui ter com ele conforme combinado.
- Que se passa Jorge?- perguntei, enquanto o olhava nos olhos, e lhe tocava com a minha mão na dele.
- Estive a pensar e tens que mudar…
- Mudar? Como assim? - perguntei perplexa.
- Tens que crescer! Há tanta coisa em ti que me irrita. Namoramos há tanto tempo e continuas com as mesmas ideias retrógradas em relação a tanta coisa, tens que deixar de ser tão egoísta e pensar também em mim.
Não sabia que lhe dizer, eu já sabia que ele queria que eu mudasse em relação a muita coisa, eu concordava que tinha de mudar mas não sabia como o fazer, e além disso não concordava com todas as mudanças que ele quase me impunha.
Se no inicio eu achava piada às posições politicas dele, agora enervavam-me porque me impunha que pensasse da mesma maneira que ele, se antes gostava que me elogiasse por andar tão “tapadinha” em termos de vestuário, actualmente ficava triste por insistir comigo para andar mais “despida “.
Foi no meio de uma discussão semelhante que acabamos, eu não conseguia mudar como ele queria que eu mudasse, eu não conseguia passar a ser a pessoa que ele queria que eu fosse, eu não conseguia deixar de ir à baixa às nove da manhã, mesmo sendo sábado, só para tomar um café e ler os jornais, eu não conseguia deitar-me tarde e não estudar todos os dias. Eu não conseguia cortar o cabelo mais curto, usar mini-saias, e sair á noite, dia sim, dia não consoante as festas do caloiro. Eu não conseguia deixar de ser eu.
Bem sei que numa relação a dois, deixamos o eu para nascer o Nós, e sabia que tinha de mudar em relação a muita coisa como pessoa, tinha deixar de pensar só em mim, para pensar mais nele, e em nós, tinha de ser mais sensível, tinha que dar mais importância ao dia a dia e não planear tanto, tinha que saber crescer.
Foi no meio de tantos pensamentos, discussões, desilusões e tristezas que acabamos efectivamente, ao contrário do que eu pensava não fiquei de rastos por termos acabado. Fiquei triste como é normal, mas não de rastos, rezei para que o Jorge continuasse a vida dele, e conseguisse ser feliz ao lado de alguém que não eu, que o preenchesse e o completasse da maneira que eu não conseguia fazer.
Tinha um desejo de mudar, mas não sabia como, fui-me aproximando de Deus, Ele mais do que ninguém compreende-me, ama-me como eu sou incondicionalmente, mesmo quando faço tudo mal, mesmo quando caio, Ele está sempre ao meu lado. O Amor de Deus fez-me pensar, no amor que os outros têm por mim, Ele não me obriga a mudar, Ele não me impõem decisões, Ele não me pressiona, Ele ama-me como eu sou. E foi assim que mudei, mudei porque Ele me moldou, e conduziu-me, porque me amou sempre e nunca deixou de acreditar em mim.

E hoje namoro com o Luis, que me aceita como eu sou, com os meus mil defeitos e as mil minhas qualidades, que se entregou totalmente sem receios e confiando totalmente e acreditando na nossa relação, que cresce comigo na Fé, que partilha comigo um namoro a três, eu ele e Deus.

Friday, November 03, 2006


Ligou-me numa noite, estava eu sentado a ler. Esfreguei os olhos para ver as horas e pensei “ quem me ligará a esta hora?” a muito custo, levantei-me da cadeira e arrastei-me até à mesa para atender.
Ouvi um choro trémulo do outro lado, era ela.
As palavras eram murmúrios na escuridão, “comidas “ pela tristeza.
Sussurrei-lhe que se acalmasse e perguntei-lhe que se passava.
Respondeu-me, mais calma, mas triste:
- Nuno, entrei em Beja.
Aquela hora, admito que não soube responder, disse-lhe apenas com um ar meio perplexo:
- Mas entraste em Medicina certo?
- Sim, mas em Beja.
- Não te preocupes vai correr tudo bem! Já entraste! Não vês?! Entraste no que querias!
Depois de muita conversa à volta do assunto, ambos cansados decidimos falar no dia seguinte.
Pousei o telefone, fechei o livro e chorei.
Não sei se era um choro de alegria ou de tristeza, talvez fosse um misto dos dois.
Por um lado sentia-me tão contente por ela ter conseguido, porque se havia pessoa que merecia entrar era ela! Esforçava-se imenso, aplicava-se sempre e sacrificava-se por tudo. Mas por outro lado sentia-me profundamente triste, porquê na Beja? Porquê tão longe? E as nossas tardes juntos a falarmos de tudo e de nada, os nossos risos ao telefone diariamente, os nossos cafés sobre livros ou os nossos passeios à baixa?
Deitei-me logo de seguida pensando para mim mesmo, que jamais lhe daria a entender que estava triste, tinha neste momento, de ser um amigo à altura e ajudá-la a ir para a frente, mesmo que me custasse a sua partida.

Os dias passaram tranquilamente, ou pelo menos eu tentava que fossem tranquilos, ela andava apressada de um lado para o outro preparando tudo para a sua partida.
Jantamos várias vezes, tentado arranjar outras soluções, mas ia tudo parar ao mesmo, ela tinha que ir para a Beja.
O dia D chegou, chuvoso, tal como o meu espírito estava, levantei-me cedo, e rezei, pedi a Deus que a ajudasse nos dias difíceis que se seguiam, que lhe desse força para fazer aquilo que devia, que fosse o Seu Companheiro de todas as horas.
Sai de casa, liguei o carro e fui buscá-la, as malas eram tantas que parecia que íamos os dois para a china durante um ano. Chegados ao aeroporto, ficamos lá duas horas, o voo atrasou-se, ainda tivemos uma complicação à entrada com o check in visto que levávamos uma mala com ossos…
Chegou o derradeiro momento a despedia, foi simples e rápida, para que de ambos os lados não houvessem lágrimas.

Chegada à Beja, sentiu muitas dificuldades, a tristeza de estar longe de casa, as saudades dos amigos, a adaptação, o viver sozinha… tudo obstáculos para quem estava habituado a viver num berço de ouro.
Cada vez que lhe ligava ouvia o choro, a tristeza as palavras de revolta, e acalmava-a dizendo o que sentia, que tudo ia correr bem, perguntava-me como tinha eu tanta certeza, e eu dizia-lhe porque Ele estava com ela, e nada corre mal, quando Ele está ao nosso lado.
Rezei tantas vezes sobre a ida dela, pedi-lhe que também a mim me desse forças para lhe ajudar no que podia.
E no meio do silêncio da Oração, ouviu-o como se um sussurro se tratasse, Disse-me que não me preocupasse que tudo ia correr bem, se ela ia para a Beja era porque era a Vontade Dele, e que muitas vezes não a percebemos, mas que tudo tem uma razão de ser.
Ao contrário do que muitos julgam Ele não nos impõem um caminho, Ele mostra-nos o caminho certo, mas nós é que escolhemos se aceitamos o desafio ou se nos deixamos ficar, Ele respeita as nossas decisões, porque nos ama incondicionalmente, e nos aceita como somos.
Nem toda a gente largaria tudo para seguir um sonho, muitos recusariam e preferiam ficar em casa com todas as vantagens e protegidos, sem arriscar, muitos perderiam oportunidades mas ela não. Ela era mais forte do que julgava, ela iria conseguir ultrapassar os obstáculos, e crescer. Crescer a todos os níveis, viria diferente, com a cabeça mais arrumada do que já era, viria fortalecida. Ela seria capaz de confiar Nele, de se entregar e de acreditar em tudo o que Ele lhe dizia, ela seria humilde e aceitaria o seu caminho, mesmo que este lhe parecesse longo e difícil, ela caminharia no meio de tudo apenas com o Seu Amor porque este lhe bastaria para transformar as tristezas do dia em alegrias, o sofrimento em Amor, a revolta em esperança… Com Ele ao seu lado tudo seria mais fácil, porque seria a dois, porque sozinha ela não conseguia.
Eu sabia que Ele tinha razão, tudo têm uma razão de ser, se era esse o caminho dela, então só teria que o percorrer com Ele ao seu lado sempre.

Os anos passaram, hoje olho para ela com um ar cúmplice, temos ambos trinta e oito anos, a vida na Beja parece apenas uma história longínqua, porque já tanta coisa aconteceu desde essa viagem, Ele tinha razão ela conseguiu.
Olho para trás e vejo, o curso que tirou, a sua ida a África como missionária, o seu casamento, os filhos. É uma pessoa completamente realizada a todos os níveis.
E se ontem as dificuldades pareciam muitas, hoje olha para elas e sorri-Lhe por lhe ter dado a oportunidade de ser feliz.

Wednesday, November 01, 2006


Olhava para as fotografias e nem conseguia acreditar que era a mesma pessoa. Ouvia as histórias e ria-me. Era mais magra, mas o sorriso rasgado, os olhos penetrantes, o nariz arrebitado, faziam-me reconhecê-la.

Benedita nasceu à mais de cinquenta anos, é uma grande amiga dos meus pais.
Era a segunda de oito filhos, nasceu no Porto numa família de classe média. Seu Pai era professor e sua mãe tinha o curso de enfermagem embora não o exercesse.
Não era pobres mas também não eram ricos. Apesar de nunca terem passado fome, as roupas passavam de mão em mão, tal como os livros, e os brinquedos, mas não deixavam de ser felizes por isso.
Não iam de férias para muito longe, nunca andavam de carro, e prescindiam de algumas coisas como telefone e roupas novas com frequência.
Cresceu como todas outras crianças, entre reguadas e travessuras, entre risos e gargalhadas, era rebelde, teimosa e muito impaciente. Gostava de roubar doces, de vestir calças, de andar com os sapatos sujos, de subir às árvores como os rapazes e de ler os livros “proibidos” da escola.
Mas no meio de toda esta normalidade, Benedita conseguia ser diferente, ajudava a mãe em casa, fazia companhia às pessoas do lar ao pé da escola, ajudava os irmãos e os amigos a estudar para os testes. Ao contrário da maioria dos mortais, Benedita confiava mais em Deus do que nos Homens, e fazia tudo pelos outros.
Á medida que os anos foram passando, Benedita cresceu muito, mas especialmente a nível espiritual com Deus ao seu lado.
Foi para a faculdade, onde conheceu o Manuel, tirou o curso e casou, fez voluntariado, teve filhos, foi missionária, deu aulas.

A minha mãe sempre me disse que a Tia Benedita era uma Santa. Cada vez que ela o dizia, eu ria-me, como podia a Tia Benny ser uma Santa? Santos, pensava eu, eram pessoas especiais que faziam coisas inacreditáveis como S. Francisco Xavier que foi evangelizar para o Oriente, deixando tudo, partindo numa altura em que mal se conheciam caminhos e rotas, arriscando, a própria vida para dar a conhecer Deus aos outros.
Ou como S.Estevão, o primeiro mártir cristão, que morreu apedrejado enquanto pregava.
Como poderia ser uma pessoa como a Tia Benny Santa? A tia levava-nos ao cinema todas as semanas, ia me buscar à escola de jardineiras e ténis, corria pela casa toda só para me fazer cócegas, bebia coca cola enquanto “devorava “ a Agatha Christie. Era uma pessoa igual a tantas outras que tinha ela de especial para ser considerada Santa?

Foi então que me apercebi do outro lado da minha Tia, um lado que eu conhecia mas ao qual não dava importância, a Tia Benny, levava nos ao cinema quando os meus pais não estavam em Portugal, ia me buscar à escola quando os meus avós estavam doentes, ajudava os amigos na cozinha, mesmo sabendo que não tinha jeito nenhum, só para fazer companhia e animá-los quando se sentiam tristes, fazia voluntariado na igreja da paroquia, e levava a jantar todas as semanas um senhor de um lar, que não tinha família.
A minha tia no meio de tanta normalidade era especial, porque se entregava aos outros totalmente, nunca a ouvi queixar-se, mesmo quando estava tudo a correr mal.
Quando estava muito doente, perguntei-lhe se precisava de alguma coisa, e ela só me respondeu:
- Preciso que rezes por mim, para que Deus me dê força para Ser para os outros e não para mim, porque os meus problemas são tão pequenos comparados com os de Outros.
Nunca pensava em si, só queria servir a Deus.
Hoje quando penso nela, olho à minha volta e vejo no meio de tanta normalidade, alguns Santinhos que nos rodeiam sem muitas vezes nos apercebemos.

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