Saturday, December 30, 2006


Olhei para a folha branca que tinha diante de mim. Estava pálida e limpa tal como quando eu a tinha pousado. Virgem e intacta olhava para mim à espera que eu escrevesse algo nela.
Todos os anos, quando a altura era propícia, eu reflectia no ano que tinha passado. Pensava e rezava sobre todos os acontecimentos, bons ou maus, grandes ou pequenos. Relembrava me de momentos, de pessoas, de livros de ocasiões etc E de tudo o que tinha acontecido guardava o seu melhor, porque do pior só se tiram lições e não lembranças.

Todos os anos escrevinhava promessas e desejos para o ano seguinte. A esperança de mudar, era algo que me invadia desde o primeiro dia do novo ano, o desejo de fazer tudo ao mesmo tempo, de dar uma grande volta, de tornar tudo melhor. O novo ano, era uma lufada de ar fresco na minha vida, mas este ar, ao contrário do que eu pensava durava sempre pouco tempo. Eu nunca me tinha apercebido da ilusão em que vivia nesta quadra, até ao dia em que falei com o Francisco.

Encontramo-nos num café perto de casa dele. Já não nos víamos à mais de um mês, eu tinha ido à neve, e para meu grande desgosto, tinha a marca dos óculos estampada no rosto. Ele vinha de Timor, tinha estado dois meses como Missionário, e trazia um enorme sorriso contagiante.
A conversa fluiu normalmente, falamos de sonhos, de projectos, de vidas.
No meio da conversa surgiu o tema da passagem do ano, ele disse-me que era dos acontecimentos que menos festejava, porque para ele a festividade que se vivia à volta deste acontecimento era exagerada e além disso preferia o Natal. Perguntei-lhe com curiosidade o que queria dizer com isso de preferir o Natal, e ele explicou-me:
- O Nascimento de Cristo, que todos preparamos ao longo do Advento é para mim dos acontecimentos mais importantes do Ano. Eu quero recebê-Lo sempre no meu coração, acolhê-Lo e crescer com Ele junto a mim. Mas este acontecimento que é festejado num dia simbólico, e que é de tal modo importante que marcou a história de toda a Humanidade, é “esquecido” dias depois, e quase abafado por outras festividades que se impõem. – olhou para mim, que o fixava com interesse e prosseguiu:
- Não estou a dizer que não se deve festejar a passagem do Ano, mas penso que tudo deve ser feito com peso e medida, nada de exageros nem de ilusões. Por exemplo, hás-de reparar que a maioria das pessoas quando lhes perguntas o que esperam do novo ano, as respostas mais comuns, serão os desejos, as ambições, os projectos. Tudo coisas grandes e ambiciosas, muitas vezes ilusórias e pouco credíveis. E depois quando lhes voltares a questionar a meio do ano, irás reparar que tudo aquilo em que se iriam aplicar no início do ano, tudo aquilo a que se propuseram, já muitas nem se recordam, e outras tristemente não conseguiram realizar.
Olhou para mim à espera que eu comentasse, e eu respondi-lhe com vergonha:
- Pois isso já me aconteceu muitas vezes, olhar para o novo ano com esperança, e traçar projectos, ter imensos desejos e ambições que na maior parte das vezes nem realizo e que muitas vezes nem consigo perceber porquê.
Ele sorriu-me. Percebia-me perfeitamente e disse-me:
- Há uns anos isso também me acontecia, até ao dia em que um Padre me disse para fazer tudo com calma e seguir a regra dos três Pês. Esta regra consiste basicamente em três palavras: Poucos, Pequenos e Possíveis. E eu aplico-a por exemplo aos projectos que faço para o Novo Ano, faço Poucos projectos, para não me dispersar, Pequenos , que ao contrário do que muitas pensam não é o oposto de serem ambiciosos, e Possíveis de se realizar.
Mas os projectos que faço para o Novo Ano, só são escritos e ponderados após uma reflexão pessoal e muita oração sobre o Ano que passou.
Nessa Oração, faço sempre uma coisa que a minha Mãe me ensinou, e que me têm ajudado muito a crescer especialmente na minha Fé. Em vez de pedir os doze desejos, ao som das doze badaladas, escrevo as Doze Graças que dou ao Senhor pelo Ano que passou. Escrevo-as por Ele, porque ainda agora Nasceu em mim, e já tanto me deu.
Se soubesses o tão bem que me sabe, Entregar-Lhe a minha oração de Graças. É olhar para o ano que passou e Ver a mãozinha d´Ele presente na minha vida, é Ver com os Olhos d´Ele os acontecimentos do Ano, bons e menos bons, é um ponderar e crescer na Fé.

Espantada e pensativa fiquei o resto da tarde a falar com o Francisco. No final do dia, levou-me a casa, e lançou-me um desafio:
- Oh Teresa, e se este ano mudasses a tua passagem de ano por Ele?
Respondi-lhe perplexa:
- Que queres dizer com isso?
- E se fizesses uma oração de Graças ?- disse-me a sorrir.
Olhei para ele, e vi o Olhar de Cristo, a lançar-me um desafio, como que a perguntar-me se queria crescer com Ele na Fé.

Chegada a casa, tirei uma folha de papel branca do meu caderno. Lembrei-me do Francisco, das suas palavras, do seu sorriso, e sorri também.
Permaneci algum tempo parada a pensar. Ao contrário dos outros anos, não me apetecia escrever promessas e falsos propósitos.
Rezei, pedi-Lhe que me ajudasse a Olhar para o ano que tinha passado com os Seus Olhos.

Peguei na caneta e escrevi:

Oração de Graças pelo Ano que passou:

1- Obrigado Pai pela família que me deste, que me tem apoiado muito durante toda a minha vida, mas que me apoiou especialmente este ano, sem se queixar, mesmo quando eu passei momentos menos bons, em que só me apetecia desistir de tudo.

2- Obrigado Pai, pelos amigos que tenho, e pelos que ainda vou conhecer, que me tem feito crescer como Pessoa, como Mulher e como Cristã, pois na amizade que mantenho com cada um deles, é um elo que mantenho contigo, e uma maneira de Te revelares.

3- Obrigado Pai, pela oportunidade que me deste de iniciar o Mestrado, pela oportunidade de continuar a estudar, e de adquirir novos conhecimentos que é das coisas que mais gosto e das que menos valor dou.

4- Obrigado Pai, pela casa, pela comida, pela roupa, por tudo o que me rodeia, desde das pequenas coisas do dia a dia, como ter água quente ou roupa lavada, até às grandes coisas como ao carro que conduzo e ao sitio onde estudo, e que muitas vezes não dou valor, mas que me servem de muito e que já fazem parte da minha rotina, e sem estas, nada seria igual.

5- Obrigado Pai, pela oportunidade que me tens dado de Servir os meus irmãos no Hospital, e de conhecer outras vidas tão diferentes da minha, de lhes oferecer o Teu Amor, e de lhes dar um pouco de mim, que é para isso que eu estou aqui, para Te dar a conhecer, servindo os Outros e entregando cada momento a Ti, confiando e acreditando.

6- Obrigado Pai, pelas viagens que este ano fiz, que me abriram os horizontes e me fizeram crescer tanto e amadurecer em termos pessoais e profissionais.

7- Obrigado Pai, pelo António, que me ajudou muito nos momentos menos bons que passei ao longo deste ano, como quando chumbei aquele exame, pois sem ele, a minha motivação para estudar seria menor, e não teria corrido como sabes que correu.

8- Obrigado Pai, pelas ocasiões que me aconteceram, como o acidente de carro que sofri, a perna que parti, porque mesmo não sendo ocasiões das quais me goste de relembrar, sei que estiveste sempre presente e consigo ver as Tuas mãos a pegar-me ao colo quando me sentei no chão com vontade de chorar. Deste me o apoio e a força que precisei para dar a volta às situações menos boas, e mesmo não as compreendendo deste me a Fé para perceber que sem estas eu não saberia apreciar os momentos bons da vida, ou seja os momentos opostos aos que passei.

9- Obrigado Pai, por todos os momentos que passei ao longo do ano, e dos quais me relembro com um sorriso nos lábios, como a passagem do ano lectivo, a festa de anos do João, o jantar da Sofia, tudo momentos em que estiveste presente e me deste um grande abraço, obrigado por partilhares comigo estes momentos bons da vida, em que a Felicidade nos invade e envolve como o Teu Amor por cada um de nós.

10- Obrigado Pai, por todas as “coincidências “ da vida que este ano senti acontecerem, e pelas “voltas que a vida dá”, porque tantas vezes te peço uma coisa, e sei que o que me dás é sempre o melhor para mim. Tantas vezes olho para o que me deste e me queixo, sem ver que o que recebi era tão melhor, e mais adequado à minha pessoa do que o que eu pedi.

11- Obrigado Pai, pelo Francisco, porque sem Ele eu não estaria aqui a escrever-Te, e a agradecer por cada coisa que aconteceu ao longo deste ano, sem ele eu não teria a noção da sortuda que sou, e do quanto me tens dado, sem o Miguel, eu estaria agora a escrever mil pedidos, em vez de estar a agradecer o que me tens dado, porque é tão fácil pedir, e tão difícil agradecer. Obrigado por Te dares a conhecer através dele, e por o guiares com o Espírito Santo, dando a conhecer a Tua palavra e a Tua vontade.

12- Obrigado Pai, por estares sempre presente na minha vida, Obrigado pelo apoio que me tens dado, mas principalmente Obrigado pelo Teu Amor, que não compreendo, porque é algo que me envolve e me absorve de uma maneira única. Obrigado por me aceitares como eu sou, e me fazeres crescer na Fé. Obrigado


Dobrei a folha e rezei. Sentia-me tão profundamente agradecida, como é Bom dar Graças pelo que temos, porque tantas vezes não temos noção, não damos valor ao que Ele nos dá, não temos noção do que é ser sermos Filhos muito Amados.
Nesse momento pedi-Lhe que me desse força, para com o Espírito Santo, iniciar o Novo Ano com um grande balanço, um grande impulso para fazer tudo por Ele, envolvida no Seu Amor que esse é sempre Novo.

Sunday, December 24, 2006


Num dia tão especial como o de hoje, em que vai Nascer o Nosso Salvador, decidi ceder o meu lugar, a uma pessoa que gostava muito de ter conhecido pessoalmente. Deixo-vos aqui um texto, que gosto muito, da tão querida Madre Teresa de Calcutá:

Ele vem aí e quer amar-te

“Quero que saibas que cada vez que me convidas, eu venho sempre, sem falta. Venho em silêncio e de forma invisível, mas com um poder e um amor que não acabam.
Não há nada na tua vida que não tenha importância para mim. Sei o que existe no teu coração, conheço a tua solidão e todas as tuas feridas, as tuas rejeições e humilhações. Eu suportei tudo isto por causa de ti, para que pudesses partilhar a minha força e a minha vitória. Conheço, sobretudo, a tua necessidade de amor.
Nunca duvides da minha misericórdia, do meu desejo de te perdoar, do meu desejo de te bendizer e viver a minha vida em ti, e que te aceito sem me importar com o que tenhas feito. Se te sentes com pouco valor aos olhos do mundo, não importa. Não há ninguém que me interesse mais no mundo do que tu.
Confia em mim. Pede-me todos os dias que entre e que me encarregue da tua vida e eu o farei. A única coisa que te peço é que confies plenamente em mim. Eu farei o resto.
Tudo o que procuraste fora de mim só te deixou ainda mais vazio. Portanto, não te prendas às coisas passageiras. Mas, sobretudo, não te afastes de mim quando caíres. Vem a mim sem demora, porque quando me dás os teus pecados, dás-me a alegria de ser o teu Salvador. Não há nada que eu não possa perdoar.
Não importa o quanto tenhas andado sem rumo, não importa quantas vezes te esqueceste de mim, não importa quantas cruzes levas na tua vida.
Tu já experimentaste muitas coisas, no teu desejo de seres feliz. Porque é que não experimentas abrir-me o teu coração, agora mesmo, mais do que antes?”
Aproveito para vos deixar como presente de Natal, alguns blogs que recomendo que leiam, ou que dêem uma espreitadela, porque vale muito a pena:
www.portinhodeabrigo.blogspot.com é o blog da Xana, que nos serve de "abrigo" e onde encontramos uma boa amiga.
http://toquesdedeus.blogspot.com é o blog do Nuno Branco sj, que é Jesuita, e é sem dúvida dos Melhores blogs que existem, se não acreditarem dêem uma espreitadela, vale mesmo a pena,é tão bem escrito! E tem Deus presente em cada palavra.
www.jardimdeluz.blogspot.com é o blog da MC, que muitas vezes nos mostra a luz do caminho que nos leva ao Senhor.
www.esperaacreditaconfia.blogspot.com é um que considero fantástico, não por ser da minha querida amiga Inês, mas porque se derem uma espreitadela vão ver que tenho mesmo razão! Os pensamentos, textos, frases etc, que o enchem, envolvem-nos completamente como o Amor de Cristo!
www.sodeusbasta.blogspot.com é o blog de Dois Discípulos do Senhor que nos ajudam a compreender a Sua palavra.
www.fiat--lux.blogspot.com este é sem dúvida um blog muito bom, que vos aconselho a ir dar uma espreitadela. É da Nônô e da Sofia, e tem de tudo um pouco, dependendo dos dias, há dias em que nos faz pensar, dias em que nos faz rir, e dias em que nos faz Rezar.
www.espiritodivino.blogspot.com é um blog que vou muitas vezes para pensar, porque tem textos da "longe de ti" que apesar de muitas vezes serem partilhas pessoais, muitas vezes as dúvidas, os pensamentos etc de uns são também os meus.
www.queeaverdade.blogspot.com na minha mais sincera opinião é dos melhores blogs da blogosfera. O seu autor é o Joaquim, que através das suas Palavras nos transmite a Mensagem de Cristo.
www.almasemaspas.blogspot.com um blog que para minha grande pena só é escrito aos domingos, mas que vale mesmo a pena ir, porque os textos da MMaria, são verdadeiras obras-primas do Espirito Santo.
www.amar-tesomente.blogspot.com é o Blog do António Valerio sj, que é Jesuita, e partilha com todos os seus pensamentos. É um local óptimo para pensar e Crescer na Fé com a ajuda de Um Amigo do Senhor.
www.caminhandoaoencontro.blogspot.com é o blog de uma Catequista que partilha as experiências e vivências próprias de uma pessoa que ajuda e introduz muitas vezes outros na Fé Cristã.
www.deusemtudoesempre.blogspot.com é o blog da Maria João, que escreve muito bem e que nos transmite o Amor de Cristo de uma maneira especial através das suas palavras.
www.raparigadaaldeia.blogspot.com é o blog da Querida Gota de Chuva, que nos "molha " com a sua sabedoria, e nos faz pensar com a Graça do Espirito Santo no Amor de Cristo por cada um de nós.
www.parecianborrachos.blogspot.com , este é dos blogs que mais aconselho, por ser escrito por Jesuitas de vários países, que partilham experiências, orações, pensamentos e frases.
www.acreditarconfiarentregar.blogspot.com é o blog da Maria, que tantas vezes me põem a pensar, através dos seus textos que adoro.
www.euquecaminho.blogspot.com é o blog do Mike, que caminha como todos nós na Fé, e que nos vai fazendo rezar através dos seus textos e "obececações " . É um caminho que digo-vos vale muito a pena percorrer.
www.fidesintrepida.blogspot.com é o blog do Diogo, que escreve iluminado pelo Espirito Santo, e que nos põem a todos de boca aberta.
www.hajaoqhouver.blogspot.com é o blog do Zé Maria sj, que é Jesuita e escreve muito bem, faz parte do blog já referido anteriormente "parecian borrachos" e é das pessoas que mais me faz pensar em Cristo na nossa vida quotidiana.
www.pensarcristo.blogspot.com, é o blog do António e do Pedro, que eu considero meus amigos do Senhor, e que todos os dias nos dão a conhecer um bocadinho do caminho que percorremos juntos com Cristo, por Cristo e em Cristo.
www.entodoamaryservir.blogspot.com é o blog do Javier sj, que é um Jesuita espanhol, e que também faz parte do blog referido anteriormente "parecian borrachos". Leiam um bocadinho dos textos do Javier, porque depois já não vão conseguir parar de ler.
www.sonmishuellaselcamino.blogspot.com é o blog de outro caminhante, que nos ajuda a percorrer o Nosso Caminho com Cristo de uma maneira mais Cristã, fazendo nos Ver cada momentoda nossa vida com os Olhos de Cristo.
www.amorprimaveril.blogspot.com é o blog de dois amigos meus a Joana e o Pyny,que nos fazem rir e pensar no Amor que nos rodeia. Se estiverem num dia "não" dêem lá um saltinho para se rirem e verem o lado positivo das coisas, porque muitas vezes precisamos de uma gargalhada.
www.ilustrana.blogspot.com é o blog da Ana e que desenha maravilhosamente bem! Eu adoro cada um daqueles desenhos.

Saturday, December 23, 2006


Acabamos de Jantar, tal como nos anos anteriores, às dez e meia. A Inês foi para o quarto arranjar-se e eu fui arrumar a cozinha. Como sabia que ela ainda ia demorar, fui procurar os meus sapatos e engraxá-los.
Enquanto o fazia, pensava com o meu Espírito contente que daí a umas horas iria recebê-Lo, iria ao Seu encontro, iria estar com Ele. O meu coração encheu-se de felicidade e um sorriso esboçou-se na minha cara.

De seguida e como se fosse de propósito, Ela ligou-me, já não nos falávamos, à mais de três anos, muitos acharão isso impossível sendo ela minha irmã, mas na minha família sempre existiram discussões com demasiada frequência.
Olho para o telefone em silêncio, reconheço o número e penso:
- Porquê? Porquê hoje? - Deixo-o tocar, a Inês grita que o atenda, levanto-me e suavemente coloco o no meu ouvido. Já não ouvia a sua voz há tanto tempo, fala desalmadamente, quer que me encontre com ela rapidamente, pergunta-me onde vou, a que Missa, quer me abraçar, sente-se mal, precisa de mim.
Na minha cabeça mesquinha muitas perguntas se formulam, e a nossa discussão? E tudo o que te disse? E todas as palavras que me magoaram e que te magoaram? Tudo parecia ter inexistido, somente o Amor Por Ele nos uniu.
Ouvi-a durante mais de meia hora, e senti que não queria estar comigo para se sentir bem consigo mesma, nem queria estar comigo para O agradar, queria estar comigo, porque achava que como irmãos que somos, devíamos aproveitar o Nascimento de Deus para irmos ao Seu encontro juntos e ajoelharmo-nos perante Ele, sem ressentimentos, sem dores, sem tristezas.
Combinamos encontramo-nos depois da Missa, visto que a nossa conversa já se tinha prolongado bastante.

Desliguei o telefone meio alunado, teria sido um sonho? Duas lágrimas surgiram nos meus olhos, não sabia que Lhe Agradecer, se pelo o facto de Ele me ter perdoado, ou se pelo facto de me ter feito perdoar, porque ambas eram coisas tão difíceis.

-Quem era Luís? – Perguntou-me a Inês, espantada com a minha cara.
-Era a Ana, vamos ter com ela depois da Missa, pode ser? Precisamos de lhe falar - disse-lhe.

Lá fomos nós para a Missa, uma das Missas mais bonitas do Ano, receber o Menino que tinha nascido, e no final da noite, estivemos com a minha irmã que nos recebeu como Ele de braços abertos.

Chegamos a casa cansados, a Inês foi se deitar , e eu fui rezar, precisava de Lhe falar e de perceber o que tinha sido “aquilo” e o porquê deste acontecimento. Eu sei que não há coincidências, tudo acontece por uma razão de ser, porque Ele quer, porque é a Sua Vontade.
Rezei sobre o assunto com Ele ao meu lado. E já estava tão cansado que quase adormeci, nem sei se cheguei a fazê-lo mas Vi algo, imaginei que me contavam uma história , o que quer que seja que aconteceu foi especial, e sei que teve a Sua Mão.

Todo aquele sonho, começava na noite em que me encontrava, recuava apenas algumas horas, eu e a Inês iríamos a casa dos meus Tios dar e receber presentes. A Inês iria querer levar o Vinho, e alguns doces típicos, assim que saiu mais cedo para ir a casa do António, seu irmão, buscar o que tinha preparado. Fiquei sozinho a embrulhar os últimos presentes, a riscar nomes da lista, a fazer o que menos gostava mas que era necessário. Ouvi bater à porta, pensei ser a Inês, porque distraída como era esquecia-se sempre da chave em cima da cómoda, irritado levantei-me e abri a porta, e dei com uma Senhora Grávida à minha frente. Suada e cansada, com a roupa gasta a pobre senhora apareceu à minha frente. Nada me disse, e eu olhava-A desconfiado, porque me bateu à porta esta Mulher ?, Perguntei-Lhe se queria alguma coisa, se precisava de ajudava, e apeteceu-me fechar-Lhe a porta na cara ao ver que nada me dizia. Eu tinha tanto que fazer, tantos presentes para embrulhar, tantas pessoas a quem ligar, e ainda “perdia” tempo com uma Mulher grávida a esta hora?
Foi então que ela falou. Docemente me disse:
-Ele vai nascer, preciso que me deixes entrar.

Fiquei em pânico, pensei em ligar a algum hospital, ou falar com a Inês, que poderia eu fazer?

Calmamente entrou, e sentou-se numa cadeira a meu lado, fui Lhe buscar água e comida, perguntei-Lhe se queria ligar a alguém, mas Ela continuava calma e calada. Após algum tempo a minha exaltação parou, e reconheci-Lhe o Olhar. Ela sorriu e disse:
- Obrigado Luís, por nos receberes, agora Ele já pode nascer no Teu coração porque me acolheste, Confia N´Ele porque mesmo sendo tão pequenino e frágil vai encher o Teu coração de ternura.

Acordei, ou melhor voltei onde estava e sorri-Lhe, e percebi, parecia tudo tão claro.
Ele veio ao meu encontro, eu acolhi-O, e a minha irmã, oh a minha querida irmã, quis que eu fosse com Ela recebê-Lo, porque juntos iríamos receber o Seu Amor como Ele queria que fossemos, de mãos dadas, abrindo a porta a Maria para que O tivesse ao nosso lado, para que ambos o Abraçássemos e abraçássemos também o Seu Amor.

Fui me deitar, beijei a Inês na testa e agradeci-Lhe pelo Dia, estava desejoso de falar com a minha irmã, precisava tanto de lhe falar e de lhe agradecer por se ter deixado guiar pelo Espírito Santo.

Nesse dia percebi que o que aos nossos olhos muitas vezes parece impossível, não o é aos Olhos de Deus, como era a minha zanga com a minha irmã, que eu achava irreconciliável. Lembrei-me de Madre Teresa de Calcutá: “ É fácil amar os que estão longe, mas nem sempre é fácil amar os que estão a nosso lado “.
Também percebi que não vivemos de Pão e água, de poder e de consumismo, mas vivemos apenas do Amor de Deus, porque este nos enche por dentro, nos envolve, e só este nos torna capazes de sermos quem somos. Porque sem Ele, nada sou, pois Ele é o centro da minha vida

Wednesday, December 20, 2006


Desta vez resolvi ceder o meu lugar a uma pessoa que escreve muito bem e por quem tenho uma grande admiração. Deixo-vos aqui o Conto de Natal, escrito no dia 18 de Dezembro de 2006 no DN pelo Prof. João César das Neves:

"Zacarias quase deslocou o ombro, empurrado pelas escadas do Templo no meio do tumulto. Além de arruinado, quando todas as suas pombas voaram para longe, fora espezinhado. Tudo isto por causa da fúria daquele estranho Nazareno, que espantara animais, derrubara mesas e espalhara o dinheiro. O vendedor de pombas até simpatizava com Ele, mas agora ficou furioso.Estava mesmo farto desta mania dos Messias! Costumava dizer que essas conversas eram boas para o negócio, mas com a destruição dessa tarde mudara de ideias. À medida que os anos avançavam, até as profecias iam ficando mais violentas... Que tempos estes!Ele conhecia como ninguém a influência dessa tradição. Lembrava-se bem de a presenciar logo nos primeiros dias do seu negócio no Templo, quando ainda era um rapazola inexperiente. Dessa vez fora por causa de um bebé apresentado aos sacerdotes. O velho Simeão, que todos por ali conheciam bem, fizera um enorme barulho, dizendo que o Messias tinha chegado. Na altura Zacarias, na sua juventude ingénua, ainda acreditara que alguma coisa iria suceder. Mas claro que nada aconteceu.Depois durante uns anos as profecias acerca do Messias estiveram calmas. Ouvia-se falar de revoltas, mas longe do Templo. Ele só se lembrava da comoção à volta de um estranho rapazinho e das suas perguntas aos doutores da Lei. Nunca ninguém soube quem era, mas falou-se disso durante anos. Agora, quando já toda a gente quase se esquecera das profecias, vinha este nortenho criar problemas.Será que Zacarias acreditava realmente que o Messias um dia viria? Muitas vezes fizera a si mesmo esta pergunta. Estava convencido que sim, que acreditava. O seu melhor amigo, o cambista José, costumava dizer que havia mais incrédulos entre os sacerdotes que entre os mercadores. Mas a questão decisiva, a que não conseguia dar resposta, era se teria coragem, quando Ele chegasse, para deixar tudo e segui-Lo. Para um rico era muito difícil fazer essas coisas.Ao menos, pensou meditativo, esse obstáculo fora eliminado: ele agora era pobre. Zacarias, esfregando o ombro, ia coxeando por ali, avaliando os estragos e ouvindo as conversas indignadas. Então viu João. Apesar de ser também nazareno e discípulo do profeta, pertencia a famílias influentes em Jerusalém e até era conhecido do Sumo Sacerdote. Zacarias, que nada tinha a perder, decidiu pedir-lhe explicações. João respondeu citando um salmo: "O zelo da Tua casa devora-me" (Sl 69,10).Então Zacarias repetiu a justificação que tantas vezes ensaiara para si mesmo. Os mercadores exerciam uma tarefa necessária e útil. Sem eles como haveria culto e sacrifícios no Templo? Estes visionários arruaceiros, com os seus sonhos e irritações, não percebiam nada da verdadeira religião! João limitou-se a murmurar o que todos tinham ouvido durante o tumulto: "Está escrito: a minha casa há-de chamar-se casa de oração (Is 56, 7), mas vós fazeis dela um covil de ladrões."Ficaram ambos em silêncio alguns segundos. Então João disse: "Sabias que hoje é o dia do Seu aniversário? Não é curioso que tenha feito uma coisa destas na sua celebração natalícia?" Zacarias não respondeu. João continuou: "Provavelmente antevê o que os mercadores farão, um dia, da festa do seu nascimento, como hoje fazem de todas as festas. Vocês transformam em negócio as coisas mais sagradas!" Depois acrescentou: "Que mais saberá Ele acerca da celebração futura do seu aniversário?"Nesse momento passou por ali um grupinho de crianças, que se divertiam a correr atrás dos animais fugidos. Eles gritavam: "Hossana ao Filho de David." Então os Sumo Sacerdotes e os doutores da Lei ficaram indignados e disseram: "Ouves o que eles dizem?" Respondeu-lhes Jesus: "Sim. Nunca lestes: 'Da boca dos pequeninos e das crianças de peito fizeste sair o louvor perfeito?' (Sl 8, 3)."Ao ouvir estas palavras, Zacarias teve um um sobressalto. Lembrou-se da frase que sempre mais o perturbara, o último versículo do livro do profeta Zacarias: "Naquele dia, já não haverá mais comerciantes no templo do Senhor do universo" (Zc 14, 21). Há muito que esta antevisão do seu homónimo o tinha incomodado na sua profissão. José, sabendo desta perturbação, costumava assegurar-lhe a rir que tirar os mercadores do Templo era impossível. Mas agora a profecia do dia do Senhor estava bem à vista. O Messias chegara!"Então aproximaram-se d'Ele, no Templo, cegos e coxos, e Ele curou-os." (Mt 21, 14). Era Natal. "

Tuesday, December 19, 2006

Uma coisa diferente:
-A Malu começou e pediu que a Xana, continuasse e depois passasse:

-Há uma estrela no Céu
A brilhar o meu caminho:
Jesus Cristo que nasceu
Num lugar tão pobrezinho.

-Esta pequena bola azul
Vai tomar o seu lugar
Levar-nos a Norte ou a Sul
Onde O formos encontrar!

-De Blog em Blog vai passar
Levando consigo esta canção
Para cada um lhe juntar
Um pedaço do seu coração.

-Xana, agora é contigo
Que Jesus quer brincar,
Apanha a bola, vou-ta chutar

A Xana continuou e passou para o Joaquim:
-Que bom é dizer:”Jesus,
Contigo eu quero brincar!
”Dás-me tanto Dessa Luz,
estendo as mãos pr’á agarrar!”

Que bom é depois passar
Essa Luz a um amigo
e dizer-lhe, a cantar,
“Toma, Jesus tá contigo!”

Vejo amigos em redor
tão importantes pr’a mim
"Vou passar-Te, meu Senhor
para o Bom Joaquim.

-Que bom é passar-Te assim
E Tu sorris, adoras isto!
"Abre os braços, Joaquim,
sente Aquele abraço em Cristo!

-O Joaquim continuou e passou para quem está escrito no fim:

Recebo-Te assim, Jesus,
Bem dentro do coração
O Teu amor me conduz
Vem dá-me a Tua mão.

-Quero brincar e saltar
Com a bolinha, Senhor,
Amar, amar, só amar
Viver sempre do Teu amor.

-Ser Santo como Tu,
Como o Espírito quiser,
Com a Xana e a Malu,
E quem connosco vier.

-Tenho que Te dar, Senhor,
É para isso que eu existo,
Passar-Te ao Pedro, ao António,
Pra que brilhes no Pensar Cristo.
-Refrão:Este blog tem uma bolinha azul,ó tem, tem, tem......
António, Pedro, agora recebei-O e enchei o Pensar Cristo da Sua presença, como sempre fazeis.

-Felizes por ter brinquedo,
Com esta bolinha brincarás!
Obrigado meu bom Jesus
Pelos amigos que nos dás!

-Da Malu que inventou o jogo
À Xana que o jogou,
Logo vem o Joaquim
Que a bola nos passou!
-Todos são bons amigos,
Por seguirem esta Luz...
Muito carinho deles sentimos,
Neste Caminho que nos seduz...

-Este blog tem uma bolinha azul,ó tem, tem, tem......

-Querida Gota de Chuva,
Nossa boa companheira:
toma a bola que te mandamos,
entra nesta brincadeira!

-Um beijinho às amigas
E um abraço aos senhores,
Nesta quadra nos despedimos,
num sorriso de mil cores!!!
-Refrão:Este blog tem uma bolinha azul,ó tem, tem, tem......
-Gota de Chuva, agarra esta simpática bola azul! E abraça-a no Amor de Cristo, como fazes connosco! Com um bei-jo-
Numa bola Te embrulharam
E És o maior presente
Até na cor acertaram:
o azul deixa-me contente ;)

Vejo na bola o mundo,
e Senhor, vejo-Te no centro
Em cada nosso passo, curto ou longo,
Que estejas sempre bem dentro

Por Ti, nossos caminhos se haviam de cruzar
E agora neste Natal
Sabe tão bem fazer equipa e jogar
Com esta família de amigos virtual

Dos queridos PBP e AVC, a bola me foi enviada
E como queremos a estória continuar,
segue agora numa grande jogada
para a linda Joana também Te agarrar

J, passo-te esta bola com um beijinho e muito carinho, e sei que lhe vais dar o melhor caminho. ;)
Refrão:Este blog tem uma bolinha azul,ó tem, tem, tem......

Agarrei esta bolinha
Com ambas as mãos
Foi o presente de uma amiguinha
Que guardei no coração

Tudo começou na Malu
Que quis Dá-Lo a conhecer
Logo outros se seguiram
Para O receber

Gostava de puder contar tudo aquilo que Ele me diz
Mas o tempo é tão pouco e eu tenho que O Dar a Outro
Assim que o melhor que vos posso dizer
É que o seu Amor por nós, é o que nos faz “mexer”

Agora esta bolinha vai continuar o seu caminho
Vou passá-La à Maria João
Que tem um grande coração
Para Lhe dar um beijinho

Refrão:Este blog tem uma bolinha azul,ó tem, tem, tem......

Maria João, que tens um grande coração
Esta bolinha é para partilhar
porque o que é bom é Dar
Espero que O recebas com um grande abração.

Maria João, passo-te a bolinha com um grande beijinho, para que Partilhes com Outros, o Amor d´Ele por cada um de nós.

Saturday, December 16, 2006


Há dias em que me custa mais levantar da cama. O despertador toca, e eu nem o oiço, ou desligo-o sem dar por isso. Dias em que olho à minha volta, e a torrada com manteiga derretida não me sabe a nada, a roupa quente causa-me desconforto, e o beijo doce dela passa-me despercebido.
Dias em que me irrito por tudo e por nada, em que olho à minha volta e só vejo negativismo, e o pior é que me deixo envolver por ele.

Estive recentemente num desses dias, era uma segunda-feira, acordei indisposto, desliguei o despertador, deixei-me dormir. Tomei um óptimo pequeno almoço, mas a correr, dei-lhe o beijo do costume, e fui trabalhar. Apanhei trânsito, irritei-me, cheguei atrasado, chateei-me com colegas, gritei com empregados, almocei rapidamente, trabalhei sozinho durante toda a tarde, cheguei a casa cansado e triste, tinha passado um dia a correr e do qual não recordava nada de bom. O negativismo apoderou-se de mim, o desespero invadiu-me, há muitos dias assim, dias em que não sinto tanto a presença d´Ele, em que não O procuro, não O vejo, e não O sinto.
Dias em que não dou valor aquilo que Ele me dá, em que acordo de manhã e nem o cumprimento, em que não Lhe agradeço pelos alimentos que me oferece, em que não penso na importância daquele suave beijo, em que olho à minha volta e não vejo com os Olhos d ´Ele. Dias em que sou puramente pecador, em que me deixo invadir por medos e receios, em que me inibo, em que me fecho no meu mundinho, e me acho melhor que os outros, dias em que “atropelo” pessoas com o meu egoísmo, e magoo outras com a minha arrogância, dias em que abafo o optimismo e não Oiço a Sua Voz, porque só quero ouvir a minha e não deixo que o silêncio se faça, e no meio deste Ele se revele.

Nesses dias, paro por momentos e rezo.
Rezo muito, porque sei que preciso de Lhe falar, penso no que fiz, e peço-Lhe perdão, e dou-Lhe graças por tudo. Nessa altura, olho para o dia que passou e Vejo realmente a Sua presença, escondida, simples, e discreta na minha vida. Vejo o Seu Olhar, na senhora que me estendeu a mão a pedir ajuda junto ao banco, o Seu Sorriso no Senhor que me vendeu o jornal, a Sua bondade no meu colega, a Sua Sinceridade na minha mulher.

Rio-me com Ele dos meus comportamentos, peço-Lhe perdão pelas minhas fraquezas, e pelos meus defeitos, e vou apreendendo com Ele a caminhar aceitando as minhas limitações.

Nesses dias em que tudo corre menos bem, janto sossegado, por Lhe ter falado. E olho à minha volta com um novo Olhar, deixando-me guiar pelos Seus Olhos, pois nessa altura, já sou outro, porque em vez de ver defeitos e fraquezas, em vez de me deixar invadir pelo negativismo, deixo-me invadir pelo seu Amor.
E o meu olhar fica mais próximo da Verdade, e então tudo me é mais claro. Vejo realmente as qualidades que Ele nos deu, olho à minha volta e observo os que as põem a render, fico tão contente quando as encontro! A Bondade, a Humildade, a Sinceridade, o Amor, a Entrega, o Serviço, a Simpatia, o Altruísmo, o Empenho, o Respeito, a Generosidade, a Alegria, a Simplicidade, a Criatividade, e tantos outros. Que Deus, Nosso Pai, nos deu, e nos deixa usar. Mas essas qualidades, também se pedem, e se acolhem, porque não as temos todas, e só Ele nos dá esses Dons, como marcas do Seu Amor por nós.
E adormeço, agradeçendo-Lhe pelos talentos, que nos ofereceu, sabendo que no dia seguinte tudo será diferente porque irei apenas observar as qualidades que me fazem apreciar cada vez mais as pessoas. E o meu dia será fantástico, porque quando O deixamos estar ao nosso lado, e fazer parte do nosso dia, este corre sempre melhor.

Monday, December 11, 2006


Cheguei à porta de casa, rodei a chave lentamente, entrei. Pousei os sacos no chão e arrastei-me até ao quarto.
Sentei-me na beira da cama, e chorei em silêncio, chorei como já não me lembrava de chorar há muito tempo.
Mesmo sendo um choro silencioso, Ela ouviu e caminhou em pequenos passos até mim, apareceu ao meu lado e perguntou-me:
- Que se passa Joaquim?
Continuando a olhar para o chão, respondi-lhe:
-Estou triste. – E pus as mãos na cara.
Acariciou-me a cabeça, deu-me um doce beijo na testa e insistiu:
- Mas que se passa Joaquim? Que te perturba?
Demorei algum tempo a responder-lhe e no meio dos soluços disse-lhe:
- O mais estranho e estúpido é que não se passa nada.
-Joaquim, se não se passasse nada não estarias aqui a chorar…- respondeu-me com ternura.
- eu sei, mas – parei por momentos de falar, limpei as lágrimas que me enchiam o rosto com a palma das mãos e continuei – não aconteceu nada de diferente, foi um dia igual a todos os outros, acordei e fui para o Hospital fazer voluntariado, brinquei com os miúdos, li histórias, cantei, fizemos pinturas, corri com eles por entre as macas com os seus grandes companheiros a perseguirem-nos ou seja “ o soro “, e no meio de toda aquela brincadeira, igual às brincadeiras de tantos outros dias, encontrei uma menina que me fez pensar.
Senti a sua mão pousada no meu ombro, como que a incentivar-me a continuar, e fiz-lhe a vontade:
- Chama-se Bianca, não tem mais de um ano, estava na sua cama a brincar quando eu apareci, as enfermeiras disseram-me para ter cuidado, que era uma menina “ especial”, filha de uma senhora de alterne com HIV, tinha fibrose quistica* e tinha sido abandonada, estava ao encargo da santa casa da misericórdia. Não deixava ninguém tocar-lhe, e mordia com facilidade, era uma criança com um olhar triste.
Aproximei-me lentamente da sua cama, ao início estranhou e lançou-me um olhar furiosa, deitei-lhe a língua de fora, fiz montes de palhaçadas e ela continuava sem ceder, entretida num canto olhava para a parede e ignorava-me.
Continuei a fitá-la, fiz-lhe cócegas, escondi-me, mas nada, ela simplesmente nem olhava para mim.
Então, e apesar do olhar desconfiado das enfermeiras, agarrei-a por trás e coloquei-a rapidamente às minhas cavalitas, sentei-me no chão e finge que era um cavalo, percorri toda a sala com ela em cima de mim, a fazer as figuras mais ridículas de sempre, mas continuei, porque ouvi a sua gargalhada surgir, e após esta muitas outras surgiram, deitei-a na cama e beijei-lhe a barriga fiz-lhe cócegas com ela a ver, abracei-a, “atirei-a “ ao ar, pu-la ao meu colo, andei com ela por todo o lado, durante mais de duas horas, e as suas gargalhadas soaram por todo o corredor. As enfermeiras estavam de tal maneira chocadas que me pediram para lhe dar o jantar. Dei-lhe como se fosse minha filha, com muitos “ aviões “ e “barquinhos “ de colher à mistura, e apesar de ter ficado cheia de nódoas comeu tudo. E no fim adormeceu no meu colo, com um sorriso nos lábios e com a cabeça no meu ombro. Pousei a na cama e sai, não queria perturbar o sono daquele pequeno anjo.
Nesse momento parei e chorei.
- Porque choras? Não vejo motivo para chorares…- respondeu-me.
Ainda com lágrimas nos olhos respondi-lhe:
- Choro porque ao pousá-la na cama e vê-la sorrir senti um vazio dentro de mim, como se me tivessem tirado algo. Sai do hospital logo a seguir caminhei para o metro, e as lágrimas corriam me pela cara como se tivesse perdido alguém. Chorei de pena por aquela menina, porque sei que vai acordar sem ninguém ao seu lado, porque sei que é triste a situação que vive, porque olho para ela e sinto me mal, por ter a vida que tenho por me queixar tanto, quando comparado com ela nada me tenho a queixar.
Choro porque gostava de puder fazer algo por ela, e sei que nada posso fazer, choro porque como ela à milhares, choro porque me senti triste ao vê-la feliz, porque sei que não o é, porque vi nos seus olhos o reflexo da tristeza, porque sei que é uma pessoa doente e que dificilmente vai ser adoptada.
Tirou-me as mãos da cara e fez-me olha-la nos olhos, nesse momento sem que eu pudesse dizer algo mais respondeu:
- Não chores Joaquim, como ela à muitos mais nisso tens razão, mas vê o lado positivo das coisas apesar de não ter família ao menos deram-lhe a oportunidade de nascer, apesar de estar doente e de puder não vir a ser adoptada teve direito ao dom da vida, apesar de acordar e de não estares ao seu lado Ele estará sempre com ela e tu irás vê-la de vez em quando, e apesar de estar triste com o Amor que tu lhe dás irá passar a estar feliz. Sentes te mal por teres a vida que tens, por te sentires um sortudo em relação a ela, então torna-a sortuda e ajuda-a estando ao seu lado e apoiando-a, dá-lhe aquilo eu és, como hoje fizeste.
Podes te sentir triste e impotente face à situação dela, podes achar que fizeste tão pouco mas fizeste muito, sabes o que te diria a minha amiga Madre Teresa de Calcutá? – e sem que eu pudesse responder continuou: - “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar.
Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.” – Parou por momentos e prosseguiu:
- Vais ver que tudo se vai resolver, confia N´Ele, mesmo que não percebas, dar-lhe-ás o Seu Amor porque só este basta. Reza por ela Joaquim, para que cresça n Graça de Deus pede-lhe por ela, porque Ele diz “ pedi e recebereis “ e agradece, agradece por tudo o que Ele te dá.

Nesse momento olhei-a nos olhos e soube que era Maria, a minha mãe , que me falava, e abracei-a. Beijou-me a cara e sussurrou-me:
-Confia n´ Ele para que Seja feita a Sua vontade.

* doença genética, que provoca problemas digestivos graves e respiratórios, a esperança média de vida ronda os trinta anos.

Sunday, December 10, 2006


Chovia imenso como em qualquer dia de Inverno, entrei na sala encharcada e atrasada.
Sentei-me onde calhou, pousei as coisas e apontei tudo o que tinha perdido, como maneira de recuperar o tempo que tinha passado.
Dez minutos depois de ter entrado na sala, deram-me um bilhete simples de papel amarrotado, arrancado com desespero de um caderno. Abri-o com uma enorme surpresa. Estavam apenas duas linhas escritas com uma letra grossa e borrada:

Estou grávida
Espera por mim no fim da aula.

Não sabia que dizer, para um bilhete dizia demasiado. Eu era nova na turma por isso fiquei supreendida por alguém vir ter comigo, visto que eu conhecia mal as pessoas que me rodeavam, só falara com duas ou três , só entrava para ter duas aulas e ia para casa estudar.
Olhei à minha volta, para ver se conseguia detectar algum nervosismo no ar, alguém a olhar para mim, ou um sorriso triste. Mas ninguém olhou para mim, perguntei à pessoa que me deu o bilhete quem lhe tinha dado, e ela disse que lhe tinham posto na mochila e tinha o meu nome no verso.

A aula passou lentamente, não consegui parar de pensar na pessoa que precisava de falar comigo.
Esperei no meu lugar que alguém viesse ter comigo, o intervalo já estava a meio quando ela apareceu.
Era a rapariga mais popular daquela turma, magra e alta, cabelo arranjado como se viesse de uma festa, maneira de vestir arrojada. Corada e nitidamente preocupada sentou-se ao meu lado. Conhecia a de “olá e adeus” já tínhamos falado pelo menos três vezes mas todavia não éramos amigas.
Perguntei-lhe:
- Porque vieste ter comigo? o que escreveste é verdade ?- respondeu-me logo de seguida.
- Eu sei que não me conheces muito bem , mas sei que és das únicas pessoas que me podes ajudar.
- Que posso fazer por ti? – perguntei surpreendida. Parecia uma história de loucos, ela mal me conhece, e ainda quer que eu a ajude - Pensei.
-Acho que estou grávida, que posso fazer para sabê-lo? – perguntou.
- Vai à farmácia e faz o teste de gravidez - respondi naturalmente.
Respirou fundo e disse-me:
- Ninguém sabe disto...
- Eu sei que não tenho nada haver com isso – disse e continuei- mas, tens que me contar mais ou menos as coisas, não quero pormenores, é que se não me contares eu não sei do que estás a falar…
- Não me aparece à dois meses – respondeu
- Isso não quer dizer que estejas grávida- ripostei.
- Não mas … dormi com uma pessoa . – disse–me
- É teu namorado?
- Não.
- Então dormes com uma pessoa que nem namoras? – perguntei chocada.
- Bem íamos andar…
- Não te percebo mas a tua intimidade é algo que deixas que todos tenham acesso?
- Não mas íamos andar… - respondeu me secamente
- Sim claro… usaste algum método contraceptivo?
- Não….
- Não??! Mas vives em que século? Sabes a quantida de doenças que podes apanhar? – perguntei mais que chocada.
- Eu estava bêbada e ele também.
- Ainda para mais… desculpa mas vocês são uns irresponsáveis! - disse-lhe irritada.
- Eu sei, mas não volta a acontecer.- respondeu me e olhou para mim em desespero, eu sem saber o que lhe dizer respondi:
- Vai fazer o teste e depois diz me qualquer coisa, manda me uma mensagem, tens aqui o meu número.- respondi chateada pelas respostas que me tinha dado.
- Por favor não digas a ninguém.- sussurrou.
- Claro que não.- respondi

Sai da sala a pensar. Caminhava no meio das poças quando me lembrei d ´Ele.
Falei com Ele e disse-lhe:
-Eu sei que não sou ninguém para a julgar , mas há o minimo ... Sabes como eu sou em relação a essas coisas cada vez acho que as pessoas tem menos valores, não tem princípios, desde quando é que se dorme bêbada com alguém que mal se conhce?
E no instante em que O questionei lembrei-me da frase:
" Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra" Jo 8, 1-11
Soube então que não a devia julgar, quem era eu para a julgar? Eu que era tão pecadora ou mais que ela? Os pecados não são mensuráveis.

As questões surgiam na minha cabeça, tinha tanto em que pensar. Porque é que me contou tudo isto? Será que queria falar com Ele e não comigo?
Pedi-Lhe perdão por a ter julgado mesmo que inconscientemente, porque devia era falar com ela e tentar perceber o que se passava e o que podia fazer para ajudá-la, tal como Ele faria no meu lugar.

Nessa mesma tarde, recebi uma mensagem, dizia que o teste tinha dado positivo. Liguei-lhe, choramingava. Tentei acalma-la e dizer lhe que devia contar aos pais, recusava-se a fazê-lo visto que os pais achavam que ela era uma miúda de dezoito anos típica, que saia à noite com amigos, que se vestia bem, e que nunca tinha tido namorado.
Como podia ela dizer aos pais, que esta já não era a primeira vez que fazia o que tinha feito? Como podia dizer aos pais que estava grávida de um rapaz bastante mais velho e que estavam bêbados naquela noite? Ela que os pais julgavam que nunca bebia… Fiquei perplexa, será que aqueles pais conheciam a filha que tinham?
Pedi-lhe que nos encontrássemos, mas ela queria ir ter com o pai da criança que tinha no ventre, o que era compreensível.

Rezei muito naquela noite, pedi-Lhe que me ajudasse a falar-lhe como Ele me fala.
Pedi-Lhe que estivesse com ela, que a fizesse confiar n´Ele, e que tomasse a decisão certa, receava que ela fosse pelo o caminho mais fácil, que eu sabia não ser o caminho certo para aquele bebé.
Lembrei-me de Maria, e das suas palavras ao Anjo: " Eis a Serva do Senhor, faça-se em mim Segundo a Tua Palavra" Lc 1 38-39, e pedi-Lhe, que lhe desse a força para confiar N´Ele como Maria, sem medos, aceitando a vida daquele bébé.

No dia seguinte encontrei a na escola, com o ar mais natural do mundo fumava o quarto cigarro às dez para as oito da manhã. Fez-me sinal para não falar sobre nada, e ouvi a sua conversa banal com as amigas de longa data.
Senti-me estranha ao observá-las, saberia alguém que ela tinha um bebé dentro de si?
No fim das aulas falei com ela, expliquei-lhe o que achava, disse lhe o que Ele me dizia, e depois de muito falar ela respondeu-me:
- Não posso. Nem quero. Eu sei que tens razão fui uma irresponsável, mas se eu o tiver agora tenho a vida estragada. Além disso os meus pais não sabem nem sonham, nem podem saber!
Fiquei furiosa, ela queria fazer um aborto, discuti, tentei persuadi-la, mas nada… ela já tinha tomado a decisão.
- E o que acha o Pai da criança? – disse-lhe eu.
- Ele diz que eu é que sei, a barriga é minha, além disso, isto ainda nem é um bébé- disse e continuou - hoje vou a um ginecologista, depois logo vejo quando o faço.
Ainda tentei explicar-lhe porque é que não o devia fazer, mas já nem me ouvia, falei-lhe de associações que lhe podiam ajudar, pedi-lhe para ao menos falar com algum familiar, abanava a cabeça e já decidida disse-me:
- Não o quero, para mim isto não é um bébé, não percebes? Não é nada! - disse -me irritada.
Triste e desolada, caminhei para casa tropeçando nas minhas próprias lágrimas de fraqueza como é que se pode dizer que não a um filho? Para mim a vida é um dom de Deus e mesmo que não fosse desejado ou esperado, eu dava-lhe a oportunidade de viver, continuei a pensar no que faria eu na situação dela e tive a certeza que tinha aquele bébé, sim porque para mim já era um bébé, embora pequenino, embora ainda não passasse de um embrião, mas todos já fomos embriões faz parte do nosso crescimento enquanto humanos. Se não fosse um bébé então ela não estaria grávida estaria doente ou algo do género, mas a palavra grávida significa estar à espera de bébé. Pedi-Lhe perdão por não ter sido capaz de a ajudar, perguntei-Lhe que devia fazer, ligar aos pais dela e avisar? Mas eu nem tinha o seu número de casa! Falar com amigas? Mas ninguém me conhecia e achei que não era correcto espalhar algo tão intimo só para a “obrigar”a pensar.

Os dias passaram e eu rezei por aquele bebé, várias vezes discuti com ela aquele assunto, mas ela não nunca cedeu. Foi ao ginecologista e este deu-lhe o contacto de uma clínica em Espanha, três semanas depois, foi a essa clínica com o Pai da criança e duas amigas, disse aos pais que ia passar o fim de semana a casa da melhor amiga. O aborto foi assim feito, já ela estava grávida de três meses, por aspiração.

Quando regressou, veio ao meu encontro, eu nada lhe tinha perguntado, mas ela disse-me que antes de o fazer já não queria, porque tinha medo, mas que a agarraram e o fizeram, e segundo ela “ ainda bem que assim foi”, depois foi encaminhada para uma psicóloga, que lhe disse para não se dar com pessoas como eu, que era assim que ficava traumatizada.

Cheguei a casa desfeita, não tinha sido capaz, porquê? Questionei? a única altura que podia ter “salvo “ um bebé não o fiz, chorei de dor, e de tristeza. Só pensava naquele bebé, que já era um bebé, e que mesmo sendo tão pequenino merecia viver, mas que não o deixaram...

Senti o seu abraço envolver-me com Amor, disse-me que eu tinha feito tudo o que podia, que a culpa não era minha, que a decisão de o fazer não tinha sido minha e que rezasse não só pelo bebé mas também por aquele rapariga.

Rezar por ela? Ela que o matou, ela que é egoísta e que só faz disparates e que não assume o que faz? Ela que foi ao meu encontro para no fundo dizer me que vai fazer um aborto e que eu nada posso fazer para a impedir?

Sim por ela, porque ela precisa, que o Espírito Santo a ilumine e lhe dê força. Não te lembras que é importante amar mesmo os que nos viram a cara, pedir pelos nossos inimigos, pedir pelos que achas que não merecem? É verdade pede por Ela, porque Ela é a que mais precisa da tua oração.

E assim foi e ainda hoje, rezo por ela, porque sei que Ele aos poucos vai entrando dentro dela, e vai se revelando como faz em cada um de nós, e mesmo que ainda não o sinta, o Amor dele vai envolve-la e ela vai ficar tão surpreendida e tocada por esse Amor sem limites que Lhe vai pedir ajuda e Ele vai perdoa-la e levá-la ao colo como faz com cada um de nós.

Saturday, December 02, 2006


Apanhei o autocarro dez minutos antes do costume, tinha me levantado mais cedo do que era costume, contudo não tinha sono, vinha meia pensativa a caminhar pelo interior deste veiculo, quando um senhor se levantou para sair, gentilmente ocupei lhe o lugar. Era junto à janela como eu gosto, porque assim faço toda a viagem com uma mão no bolso a segurar no terço, e outra pousada no colo, vou com os olhos sempre postos na janela e vou agradecendo a Deus pelo dia, pelas pessoas, pelo que me rodeia, pela vida.

Não sei quanto tempo passou desde o momento em que me sentei, perdida em pensamentos com o Senhor, e o momento em que Ela chegou.
Era bastante mais velha do que eu, devia ter quase trinta anos, alta e de cabelo apanhado loiro, rosto ligeiramente pintado, um olhar muito bonito e um sorriso triste.
Muito calada, sentou-se ao meu lado e com as mãos suadas tocava constantemente na cadeira da frente como se estivesse a tocar piano.
Ficamos ambas em silêncio durante alguns minutos, eu em oração, e ela pensativa.
Até que o silêncio foi quebrado pela sua doce voz, que se dirigiu a mim como se já me conhecesse há imenso tempo:
- Estou cheia de problemas…- disse. A sua voz tremia devido ao nervosismo. Calou-se repentinamente e parecia esperar pela minha resposta. Eu olhei-a nos olhos sem saber que lhe dizer, visto que não a conhecia e ainda para mais, a conversa tinha sido iniciada do “ nada “ e sem um “ olá “, ou um “ bom dia “. Mas apesar da minha perplexidade ela continuou como se falando sozinha:
- Estou super stressada não sei se vou ser despedida do meu terceiro emprego em dois meses, um amigo meu morreu à dois dias, a minha irmã está internada com Pneumonia e o meu namorado com quem tinha uma relação à onze anos acabou esta semana comigo e já está a namorar com outra….- afirmou sem pausas. Eu ainda meia atordoada com tanta informação continuei a olhá-la nos olhos, com um ar meio aparvalhado.
Ela calou-se, as lágrimas ao contrário do que eu esperava não lhe invadiram os olhos ,mas apenas se viam dentro dela, escorrendo espessas, grossas sempre a verter no seu interior, sem parar, inundando tristeza.
Não fiquei mais de um minuto em silêncio, tinha que falar com Ela.
- Calma, eu sei que te deves sentir mal, mas vais ver que vai tudo correr bem, confia.
Tantas vezes olhamos à nossa volta e vemos a vida como um beco sem saída, mas tens que olhar melhor tens que olhar com os Olhos de Cristo, tens que fazer do sofrimento, da dor, da tristeza, Amor, Entrega, Alegria. Porque a vida é muito mais do que nós pensamos, a vida que nos foi dada por Deus, é um dom, é algo fantástico que nós simples seres humanos limitados, distorcemos e não compreendemos.

Calei me repentinamente como que espantada com tudo o que tinha dito, e rapidamente retomei:

- Vamos ver cada caso: o teu emprego, não sei que fazes, nem sei se vais ser despedida mas independentemente do que acontecer, tens que ver o lado positivo, porque mesmo tendo tido vários empregos vais ganhando experiência, e mesmo que muitas vezes nada te faça sentido, vais ver que mais tarde fará. Quanto ao teu amigo, tenho muita pena que tenha morrido, mas tens que aceitar a morte como parte da vida, quando nos morre alguém querido custa-nos porque não a compreendemos, por não sabermos o que acontece por termos medo, mas Jesus ressuscitou, e mostrou-nos que a morte não é o fim, temos que ter Fé, e se não a temos, devemos pedi-la porque a Fé pede-se cultiva-se e cresce com o Amor de Deus.
A tua irmã está internada com Pneumonia, reza por ela e pede ao Senhor que a salve se tiver alguma Missão para ela, senão que a leve para junto d´Ele para que fique envolvida no seu Amor. Sei que é um pedido difícil, mas é o que eu faço.
Relativamente ao teu namorado, tens que ser realista, se já está a namorar com outra, na minha opinião, e por mais anos que tenhas namorado com ele, e por mais que te custe tens que partir para outra, porque uma relação de tantos anos na minha sincera opinião, não se acaba de um momento para o outro e muito menos se recomeça outra logo a seguir, assim que se isso aconteceu e se não encontras explicação para isso, reza e Entrega a Deus as tuas preocupações partilha com Ele a tua vida, porque Ele vai te ajudar.

- Mas isso é o que faço, eu peço-Lhe um sinal, que Ele nunca me dá.- respondeu–me amargamente.

-Não podes pedir sinais, poque Ele dá, só que nós não os vemos, somos piores que os cegos, porque não queremos ver, Ele fala-te por palavras, por Gestos, por acções, Ele Fala-te no silêncio, na brisa nas pessoas, tens que estar atenta e Ouvir o que Ele tem para te dizer.
E se te sentires desesperada ou triste – e quando ia acabar a frase ela abanou a cabeça como que concordando com o que eu dizia., então prossegui:

- Bem quando eu me sinto desesperada ou triste penso em três coisas: Primeiro tenho a certeza que os meus problemazinhos comparados com os de muito boa gente são insignificantes, os meus problemazinhos, comparados com a criança órfã e com Sida que trabalha e que não sabe o que não é ter fome, não são nada! Sei que pode parecer extremista e horrível comparar-me com os que estão pior, mas acho que é assim que se deve fazer olhar para os outros e ver que há tantos que estão tão mal e estamos nós a queixarmo-nos, temos é que ajudá-los e temos que perceber o quanto insignificantes são os nossos problemas, portanto toca a desvalorizar e a arranjar soluções porque tudo tem solução, segundo lembro-me da frase “ Quando se fecha uma porta, Deus abre-nos uma janela “ , e terceiro faço uma reflexão para perceber se o que não correu bem, se foi por eu não ter deixado Deus participar nas minhas escolhas e ter vivido para mim, ou se foi quando eu estava a viver para Ele, que elas simplesmente aconteceram. E então aí percebo, se eu estava a viver para mim, passo a viver para Deus, porque só assim vou alcançar a felicidade, vou passar a querer que os outros tenham mais, vou passar a querer servir vou sair do meu mundinho e perceber que o meu umbigo não é o que me rodeia. Se eu estava a viver para Deus mas as coisas não correram como eu esperava, fico triste mas procuro perceber em que parte é que me afastei da vontade D´Ele e com humildade aceito que errei e recomeço dando-Lhe a mão com força para que juntos caminhemos de novo.

Fiquei supreendida quando a minha boca se fechou, só senti o forte abraço que me deu envolver-me. Levantou-se e agradeceu-me a chorar, ouvi os seus passos ao longe e fiquei a pensar que nem sabia o seu nome.

Passaram muitos anos desde esse encontro no autocarro, nesse dia fiquei pensativa e confusa tinha a tratado por “tu “ sem a conhecer e tinha-lhe falado D´Ele sem saber se acreditava.
Já não era a primeira vez que isto me acontecia. Ainda hoje vem ter comigo pessoas que nunca vi na vida e contam-me coisas íntimas, preocupações desejos, tristezas e alegrias. Partilham a sua vida, e se eu antes não compreendia e só me questionava “ porquê? “ , hoje sei que querem falar com Ele, sei vem ao meu encontro porque Ele Lhes fala através de cada um de nós, também, na altura não compreendia como é que eu que nem sequer tinha jeito para falar com as pessoas, que sou tímida, e que coro com facilidade, como é que proferia com tanta certeza frases tão belas e tão lógicas, mas hoje sei que é o Espírito Santo que me invade e que me faz dizer-lhes o que Ele me diz, que me faz sentir a Sua presença em mim, e que me fazer transbordar de Fé para os outros, servindo-os com o Seu Amor.

Thursday, November 30, 2006


Entrei em casa a correr trazia os presentes em inúmeros sacos, deixei tudo à entrada, tirei o casaco, e corri para a sala. O barulho dos meus saltos faziam-se sentir pela casa, ecoavam continuamente, procurei-o por todas as divisões, e depois de percorrer toda a casa encontrei-o, sentado no chão da varanda a olhar para o céu. Tinha o bloco nas mãos, os lápis estavam espalhados pelo chão, o cabelo desalinhado, e um enorme sorriso.
Abracei-o e deixei-me estar ao seu lado por momentos, as palavras não se fizeram ouvir, o silêncio encheu todo o tempo, e então ele quebrou-o e falou:
- Que dia é hoje?
- Dezanove de Outubro, quinta feira, porque querido?
- Porque falta tanto tempo para o Natal.
-Sim é verdade….- respondi pensativa.
E ele continuou:
- Mas apesar de faltar tanto tempo, olho à minha volta e só vejo montras enfeitadas, anúncios festivos e pessoas como tu a comprar presentes…- respondeu amargamente.
- Desculpa mas já está tudo em saldos, eu não nado em dinheiro- respondi indignada.
- Eu sei, mas nem é isso que me incomoda é o espírito. Sabes o que significa Feliz Natal?- e sem me dar tempo para responder continuou - significa bom nascimento, ou seja o nascimento de Cristo, é como se fosse um aniversário simbólico, nós festejamos o nascimento de uma “Pessoa” que nos é tão importante que damos presentes uns aos outros, porque Ele está no meio de nós em cada um de nós, e ao darmos os presentes aos outros é como se Lhe déssemos a Ele, ou pelo menos é assim que deveríamos olhar para os presentes como algo simbólico, portanto não é suposto darmos o melhor e o mais caro da loja, mas sim algo verdadeiro, algo que Ele quisesse. Quando alguém faz anos, nós sabemos o que havemos de dar, temos uma ideia do que precisa, ou do que gosta, conhecemos a pessoa em questão e sabemos que lhe vamos dar algo que gosta, agora no caso de Jesus, que nos é tão próximo, em vez de Lhe darmos o que Ele verdadeiramente quer, damos-Lhe falsos presentes, gastamos dinheiro com coisas inúteis, vivemos para o consumismo, festejamos as datas apenas por festejar, fazemos de tudo isto um acontecimento social, quando é muito mais do que isso.
Continuei calada e surpreendida pelas palavras que proferia, dei-lhe a minha fria mão e deixei-o continuar.
- O nascimento do nosso Salvador, do filho de Deus feito Homem, passa-nos ao lado, só pensamos em nós, no que gostávamos de ter, só pensamos em formas de gastar menos dinheiro e comprar mais coisas, somos cada vez mais consumistas, e isso não é nem de perto nem de longe o espírito do Natal. Eu percebo que as pessoas gostem de dar presentes umas às outras, mas o Natal não é isso, é muito mais, é o nascer D´Ele dentro de nós, é a alegria de um nascimento, um nascimento tão grande que marcou a humanidade, um nascimento simples numa cabana, que mudou o mundo, que nos faz pensar em tudo antes e após ele ter ocorrido. Como é que se banaliza um acontecimento desta natureza?
A sua indignação, fez-me sentir um arrepio, ele tinha razão, senti-me envergonhada por ter desperdiçado tanto dinheiro, mas só queria aproveitar os saldos…que parva fui pensei tristemente.
- Não vale a pena esse olhar triste querida – e tocou me na cara com a sua mão doce, - ainda estás a tempo de mudar as coisas, não olhes para o Natal como uma simples maneira de dares algo as pessoas, pensa no Natal como o nascimento D´Ele, pergunta-Lhe o que quer receber de ti, pergunta-Lhe o que gostaria que Lhe desses.
Sorri-lhe e Ele prosseguiu:
-Achas que Ele quer as roupas que compras? Ou que vás aos saldos por Ele? Ou será que Ele quer que faças render os talentos que te deu, que te dês aos outros, que vivas cada Natal de uma maneira especial, que celebres o Seu Nascimento com humildade, que sirvas os outros, que vivas mais para os outros do que para ti.
Sabes o que Ele quer que Lhe dês?
Quer que TE Dês a Ele, que te entregues por Ele, para Ele e com Ele, sem medos, sem receios, sem preconceitos, com confiança, que Lhe entregues tudo aquilo que és, que te deixes moldar por Ele, que O deixes esvaziar e encher-Te por Dentro.

Permanecemos naquela varanda toda a noite, e foi no rosto do Pedro que O encontrei a falar-me sobre o seu Amor por cada um de nós deixei-me envolver suavemente, como quando a noite aparece e envolve o dia, como uma brisa de madrugada doce e leve mas que sabe tão bem!

Para a Maria João que tem um blog tão bonito que me faz pensar ( blog: Deus em tudo e em Sempre ), para o Joaquim que me faz Vê-Lo nas suas palavras ( blog: Que é a verdade )e para a Nônô que me inspira( blog: Fiat Lux ).

Tuesday, November 21, 2006



Cheguei a casa cansado do trabalho de um longo dia. Pousei a pasta na entrada, beijei a Teresa e os miúdos, e fui directo ao computador, para acabar o relatório da semana anterior.
Este poderia ter sido um dia igual a outro qualquer, não fosse eu abrir o meu email, e dar de caras com uma nova mensagem: Uma mensagem de Deus.
Ao início pensei ser uma brincadeira parva dos meus sócios, que adoravam provocar-me por ser Católico, e apaguei-o, sem o ler, porque estava sem tempo e com pouca paciência.
Passaram dez minutos, e após eu escrevinhar e teclar bastante avançado apenas um paragrafo no meu relatório, o meu computador dá-me a indicação de que recebi um email, vou verificar e dou de caras com o mesmo titulo do email anterior: Uma mensagem de Deus.
Irritado porque estava convencido que tinha apagado o email, apaguei-o já sem pensar nos meus sócios, mas com receio que fosse um vírus.
O tempo passou lentamente e dei por mim a trabalhar a apagar o email que recebia constantemente. Não me passara pela cabeça abri-lo com medo de ficar sem relatório, e o meu computador avariar, até que já completamente fora de mim porque aquele email não parava de ser recebido, imprimi o relatório, coloquei as pastas mais importantes num cd, e abri o email, que dizia:

Meu Querido Luís:

Estava difícil teres algum tempo para o Teu Pai, cada vez tens menos tempo, e vives obcecado com o trabalho. Gostava que soubesses que te Amo muito, que és uma pessoa especial, e que se tantas vezes as coisas não correm como querias, não fiques triste mas aceita-as, porque a vida é assim mesmo.
Terás muitas questões ao longo de toda a tua vida, umas responderás, outras pensarás de outra maneira e as últimas ficaram sempre contigo.
Se seguires o Exemplo de teu irmão, e meu Filho, Jesus Cristo, irás ser Feliz.
Deves estar pensativo, e confuso pela razão deste email, pois bem, no meio do stress do dia, não me Ouves, no contacto com outros não me vês, e nem no silêncio da noite me consegues escutar. Por isso meu Filho faço te um desafio, que não sejas só Cristão por acreditares na morte e ressurreição de teu irmão, e meu Filho, Jesus Cristo, mas que sejas Cristão na tua vida, dando o exemplo aos outros, partilhando a vida de Jesus com Outros, dando-O a conhecer, vivendo de uma forma simples mas Feliz
(…)

Fiquei perplexo a olhar para o computador enquanto acabava de o ler, tinha três páginas, as lágrimas corriam-me pelas faces, Ele falava-me de tanta coisa que eu já devia saber, do Seu Amor por cada um de nós, do meu caminho com Ele sempre ao meu lado….Quando acabei de o ler corri pela casa para contar à Teresa e aos miúdos, liguei aos meus pais, quis ir contar ao Pedro, ao António e ao Miguel, Ele tinha me respondido.

Foi então que acordei de um sonho, sim porque tudo não tinha passado de um bonito sonho um sonho com Deus, a Teresa deu-me um beijo na cara e perguntou-me porque estava tão feliz, e eu disse-lhe:
- Porque Deus me falou, em sonhos, sabes quando tantas vezes me queixo que Deus não nos responde devidamente? Que nos devia falar como nós lhe falamos, que nos devia sussurrar, escrever, aparecer, em vez de mandar sinais, dar-nos a entender palavras através de acções de outros. Sabes quando me queixava que Ele só aparecia aos outros, e tantas vezes eu não o via?
- Sim- respondeu ela meia pensativa, enquanto me olhava curiosa.
- Pois bem eu estava erradíssimo, Deus fala-nos na maneira divina, nós é que somos humanos e não compreendemos a sua maneira de comunicar, queremos sempre seguir o caminho que nos parece mais fácil, queremos sempre ficar com as ovelhas que sobram em vez de procurar a perdida, queremos castigar o filho que gastou o dinheiro da nossa herança em vez de o receber, queremos amar para receber…nós temos tanto para aprender com Ele.
Ele mostra-nos o caminho que deve ser seguido, no nosso entender é difícil, mas é sem duvida o melhor caminho, porque acredita Teresa Ele só quer o nosso bem, e se nos comunica por palavras de Outros, por acções, por pequenos gestos, é porque é assim que deve ser, e é porque Ele sempre foi assim, discreto e simples, nunca quis chamar a atenção, mesmo quando fazia milagres.
Era impensável Ele fazê-lo de outra maneira, porque Nós temos que crescer com Ele ao nosso lado, temos que acreditar e confiar N´Ele, porque mesmo não o vendo como vemos as pessoas, não quer dizer que Ele não esteja aqui. E principalmente temos que O escutar, porque cada vez mais vivemos para nós e esquecemo-nos de Lhe falar, de O ouvir, de O ver.
E principalmente temos que fazer do Ser Cristão, não uma forma individual de Fé, mas um modo de vida, uma maneira de estarmos sempre com Ele e com os Outros, uma maneira de caminharmos com Ele para a Felicidade.

Calei-me a agradeci-Lhe pela minha vida, e pelo meu sonho que me tinham feito pensar na minha vida e passar a fazer desta um momento continuo de oração.

Sunday, November 12, 2006


Ainda me lembro do dia em que a vi pela primeira vez. Já passaram tantos anos, mas o seu rosto permanece intacto na minha memória, o seu sorriso, a sua voz, tudo ressoa como se ainda estivesse ao meu lado.

Eu era um simples miúdo de rua, igual a tantos outros, de calças sempre rasgadas, descalço, com a mesma camisa todos os dias, e uma tristeza profunda nos olhos. Não me recordo da minha infância antes do seu aparecimento. Talvez tenha sido como afirma Freud, recalcada. Sei que vivi sempre na pobreza, a minha mãe morreu quando eu era ainda uma criança com pouco mais de dois anos, o meu pai era soldado e combatia com os rebeldes contra o regime. Guardo poucas memórias do meu pai, porque raramente estive com ele, não sei onde nasceu, nem onde morreu, só me lembro das suas partidas, que eram constantes, chegava e partia, até que um dia só partiu.
Éramos nove irmãos, eu era o segundo mais novo, a maioria já não era vivo, só sabia que tinham existido porque a minha irmã mais velha, os tinha conhecido a todos, e contava-me histórias de quem tinham sido, mesmo só tendo cada um deles vivido praticamente um ano.

Foi num dia normalíssimo, que a Ilda chegou a Malawi, vinha com um sorriso enorme, que transparecia alegria. A sua roupa era simples, mas bem mais nova do que a minha, trazia pouca bagagem, mas muito para dar.
Ficou encarregue de nos ajudar a estudar, dava-nos aulas todos os dias. Lembrou-me ainda com saudade, das suas aulas, alegres palestras em que aprendíamos tudo de uma forma simples. Roubava-nos gargalhadas, e fazia-nos dar valor ao dia a dia, mesmo quando tudo parecia não ter qualquer valor.
Depois das aulas, uns iam para a apanha da fruta, outros iam trabalhar para obras.
Eu andava sempre a arranjar novos trabalhos, em casa éramos cada vez menos à medida que os anos passavam, mas eu não deixava de ser uma boca para alimentar. Juntava os trocos de vários trabalhos, arranjos, ou carregamentos e dava tudo à minha irmã que tentava, já com tenra idade gerir a nossa humilde casa. O que eu chamava “casa “ não passava de uma cabana de palha e destroços amontoados, cujo interior era sombrio, tínhamos várias panelas, a madeira num canto , e mantas para nos taparmos no chão de terra batida. A bacia estava lá fora junto ao ribeiro. Debaixo da grande árvore, a minha irmã guardava as sementes, o milho, a farinha e o pouco azeite que muitas vezes conseguíamos arranjar.
Não sei se a minha família era cristã, julgo que não. Mas eu sou, comecei a ter aulas de catequese com a Ilda. Ela dava nos aulas normais, em que nos ensinava a ler, a escrever e a fazer contas. Contudo depois do almoço, chamava-nos e lia-nos o catecismo. Foi a partir dela que O conheci. Foi ela que me contou a história da vida D´Ele, foi ela que Mo deu a conhecer. Muitos de nós não compreendíamos as histórias que ela nos contava, mas à medida que o tempo passava, fomos percebendo cada vez melhor as parábolas que ela lia, os exemplos que dava, e os desenhos que fazia.
Guardo daqueles tempos, belíssimas recordações, no meio de toda a pobreza, no meio de toda a tristeza, todos os voluntários nos deram uma grande ajuda. Se hoje sou quem sou, sei que o devo a Ele e a eles, que nunca deixaram de acreditar em mim, que me ajudaram a sair da pobreza, que me estenderam a mão quando eu mais precisei.
Mas apesar de lhes ter agradecido, nunca lhe consegui agradecer a ela. Partiu antes de eu sequer ter pensado nisso.

Eram cinco da manhã, estava eu já a dormir, quando vários assaltantes entraram na casa das irmãs, atacaram a capela, e tentaram roubar o dinheiro que estava no seu interior, a Ilda tinha o sono muito leve, sei disso porque sempre que estive doente esteve ao meu lado e bastava eu estar com a respiração menos regular que ela acordava sobressaltada e acudia-me.
Levantou-se e viu-os de relance, eram três, queriam bater nas irmãs, em pânico foi chamar os outros voluntários, todos tentaram ajudar as irmãs a sair dali, no meio da confusão da fuga, um tiro ouviu-se, e quebrou o silêncio da noite. Passos soaram ao longe, e a escuridão encobriu o rosto triste das pessoas, que se teria passado?
Os voluntários aflitos, procuravam-se uns aos outros, e no meio da escuridão, encontram-na junto ao altar, caída como se tivesse a dormir, estava sobre o Crucifixo que tentara proteger, trespassada, mas com um enorme sorriso, fazia lembrar o Cristo do Sorriso, que no meio do sofrimento transmite alegria, e no meio da dor, Amor.

Nunca me esqueci dela, talvez pela sua presença numa etapa muito importante da minha vida, talvez porque acompanhou o meu crescimento, talvez porque foi quase uma mãe para mim, a mãe que nunca tive.
Chorei como nunca tinha chorado quando o P. Charles me disse que ela tinha ido para o Céu, não é que não quisesse que ela fosse, mas não queria que fosse tão cedo. Tinha saudades dos rebuçados de mentol com cheiro a mofo, que ela nos dava depois das boas notas, dos beijos de bom dia logo pela manhã, do abraço forte e seguro, como se nos envolvesse, antes de nos deitarmos, das palestras, do olhar doce, do sorriso que preenchia toda a sala.

Hoje falo dela a qualquer pessoa, porque acho que foi um exemplo de uma pessoa Santa, dou a conhecer os seus feitos que me marcaram a mim e a muitos.
Marcou-me profundamente a Sua maneira de estar na vida, a sua persistência, o seu Amor, mas principalmente a sua entrega por Ele.
Nunca desistiu de cada um de nós, mesmo quando fazíamos tudo mal, mesmo quando não compreendíamos, mesmo quando a magoávamos.
Tinha trinta e cinco anos quando morreu, era tão jovem, contudo tinha tanto para dar.
Mesmo tendo vivido pouco tempo, viveu a vida na sua plenitude, viveu-a correndo riscos, abdicando da sua pessoa, vivendo para os outros, não se protegendo mas dando-se, porque é dando que se recebe.
Deixou casa, família e amigos, para nos vir ajudar a crescer com Cristo presente nas nossas vidas.
Ouviu O Seu chamamento, e não teve medo, não pensou no amanhã, somente viveu o presente, sem recear a morte, porque confiou totalmente N´Ele, entregou-se por Ele, para Ele e com Ele. Não pensou em nela própria, nos sonhos que tinha, nos projectos que gostava de fazer, nos percursos que ainda achava que ia percorrer, apenas confiou N´Ele, porque sabia que Ele só queria o melhor para Ela. Sacrificou a sua vida, abdicou do seu tempo, de regalias de hábitos tudo em nome D´Ele.

Olho para trás e vejo a sorte que tenho em tê-la conhecido, agradeço a Deus ter me posto a Ilda no meu caminho, peço-Lhe que me guie para Seguir o seu exemplo de bondade , de entrega, de Serviço, de humildade, de Vida, e peço-Lhe também que a tenha no Seu colo para que no Seu Amor encontre a paz.





Em memoria da leiga Idalina Gomes e do P. Waldyr, Padre jesuíta brasileiro.

Wednesday, November 08, 2006



Era um dia normal igual a tantos outros, sai de casa para andar de bicicleta, o vento batia-me na cara, o cheiro do pão fresco enchi-me os pulmões e fazia me crescer água na boca. Pousei a bicicleta no paredão, e caminhei por entre as árvores, sentei-me no chão duro, o sol punha-se e eu admirava a sua beleza e simplicidade
Foi então que depois de um longo momento de calma e relaxamento, fui observando o que me rodeava com atenção, as árvores eram poucas, o mar ainda estava longe, as lojas iam-se abrindo a pouco e pouco, e a luz penetrava na cidade.
Á medida que o tempo passava com mais atenção eu observava o que me rodeava, e foi aí que para meu grande espanto comecei a pensar na vida.
Ao olhar para todos os lados, dei por mim rodeada de cartazes, com a típica publicidade moderna :
“ Não deixe para Amanhã o que pode Ter hoje”, “ comece a pagar só em Fevereiro”, “ Nós damos-lhe o que quer “… e foi no meio de todas essas mensagens de marketing que comecei a pensar na nossa sociedade e na vida humana.
Dei por mim a pensar na conversa que tive com o António no dia anterior em casa dele, recordei as palavras dele como se estivesse à minha frente:

“- Cada vez mais as pessoas querem ter a chamada “satisfação imediata “, querem ter tudo no momento, estão a ficar mal habituadas, como se todos os seus desejos fossem e devessem ser realizáveis.
Já não fazem projectos a longo prazo, querem ter tudo no momento, só a palavra agora é que interessa. A maioria só pensa nelas, porque a sociedade as incentiva a isso. Porque é muito mais fácil pensar em nós no que nos outros, porque é muito mais fácil ser egoísta, do que abdicar de mim para pensar no outro, porque é muito mais fácil fazer a minha Vontade do que a D´Ele.
Não faças a essa cara, não concordas comigo?- perguntou-me e prosseguiu :
- Então olha vou-te dar um exemplo: o caso do Aborto, a sociedade em vez de incentivar as pessoas a terem mais filhos e em vez de lhes facilitar a vida de modo a que a taxa de natalidade aumente, o que faz? Promove a chamada “liberdade de escolha” ou “ direito da mulher “ que na realidade são termos utilizados como fachada da politica de morte e que só servem para as pessoas pensarem cada vez mais nelas, para acharem que primeiro estão elas e depois está o bebé que vai nascer.
As pessoas parecem cada vez mais, crianças mimadas que querem ter tudo o que desejam, já não sabem o que é sonhar, porque não sonham sabes porque não sonham? Porque sonhar implica não ter tudo, sonhar é desejar algo, sonhar é traçar metas, é ter objectivos. Não sabem o que é partilhar porque não partilham, só querem ter ter e ter, como se o mundo girasse a volta do seu umbigo. Fazem birras quando não tem o que querem no momento “agora”, precisam de se satisfazer momentaneamente. A nossa sociedade no caminho em que se encontra têm tendência a incentivar acção individualista de mais, no sentido de só pensarmos em nós e no nosso bem-estar, como se a única coisa importante fosse o nosso mundinho. Para nos sentirmos completos temos que interagir com os outros, o Homem é um ser social, precisa dos outros, não imagino alguém que seja feliz pensando só em si, e não pensando nunca nos que a rodeiam.
É assim que muitas vezes nos afastamos de Deus sabias? Não O ouvimos, só pensamos em Nós, e Ele fala-nos muitas vezes através dos outros.
Não paramos para Falar com Ele, porque é que ao menos não O Ouvimos? Talvez porque não paramos, temos cada vez mais os dias preenchidos, os minutos contados, os segundos “ à tira “ para Nós, todo o tempo do mundo para nós e nem O deixamos falar connosco, nem Lhe damos espaço na nossa vida.
Muitos pensam que Ele tem culpa de tudo, mas é muito mais fácil responsabilizar os outros do que a nós mesmos. Muitas vezes não O vemos porque estamos ocupados, e preenchemos a nossa vida de tal maneira que não paramos e não O escutamos, nem O vemos, mesmo quando Ele nos abre portas, e janelas, mesmo quando nos acena ao longe, estamos cegos, não O vemos. Só nos vemos a nós como se a nossa cara fosse reflectida em cada esquina e os nossos caprichos estivessem escritos nas paredes.

Mas aí esta a beleza de todo o Seu Amor, porque Ele nunca desiste de nós mesmo quando nós desistimos Dele, porque Ele se entrega totalmente a cada um, Ele confia, Ele ama-nos como nenhum outro. Um Amor incompreensível aos olhos dos Homens, um Amor que não espera nada em troca, um Amor total, de entrega, de confiança, um Amor que O Fez e faz sofrer, um Amor que não é egoísta nem oportunista, um Amor de Pai. “

Após ter pensando nas palavras dele, rezei, e pedi ao Pai que nos iluminasse a todos, para O vermos no nosso dia a dia, mesmo nos pequenos gestos, para pararmos para pensar, para termos objectivos a longo prazo, para não sermos egoístas, para não vivermos como dizem os anúncios: para termos o que queremos quando queremos, ou seja agora.
Para sermos felizes como Ele foi, dando nos aos outros.

Tuesday, November 07, 2006


Sempre fui daquelas pessoas que planeavam a vida antes desta acontecer. Vivia mais o futuro do que o presente, combinava tudo para segunda-feira estando ainda na terça anterior, em Fevereiro já tinha programado as férias do Verão, do Inverno e da passagem do ano. Sempre fui muito prático e rotineiro, com tudo organizado ao pormenor, contava os minutos, dias, meses, reorganizava tudo para inserir mais um ou outro compromisso. Queria aproveitar todo o tempo, programava todos os segundos, queria ter uma vida organizada, não queria apanhar sustos ou correr riscos em determinadas situações.
Decoro datas com imensa facilidade, tal como nomes e acontecimentos, se me perguntassem onde estive nesse mesmo dia há seis ou sete anos era capaz de responder com precisão.
Normalmente ia a todos os convites, mas tentava seleccionar os que mais me interessavam, para não me acontecer, o que era mais frequente, ter dois programas em conflito.
Quando era miúdo, esperava ansiosamente que saísse o meu horário para organizar as tardes de estudo, as idas ao cinema, as explicações e as tardes com a Rita. Também gostava de receber o horário dos testes para organizar os fins-de-semana que ia a casa do meu pai, e os que podia ir a jantares e festas ou ficar em casa a estudar.
Olho para trás e revejo-me, dia após dia a escrevinhar em agendas, a anotar datas, acontecimentos, compromissos, a programar dias, horas, minutos, a viver a vida que ainda não existia, sempre fui assim um programador nato, uma pessoa que planeava a vida ao pormenor, que criava expectativas de como tudo ia ser.
Até ao dia em que tudo mudou, tinha grandes expectativas, planeei tudo ao pormenor e ao contrário do que eu esperava após cinco longos anos, tudo correu ao contrário do que esperava, foi uma enorme desilusão, fiquei muito triste comigo mesmo, tinha planeado tudo, não tinha arriscado e contudo tudo tinha corrido mal.
Como podia ter errado? No meio de tantos planos, que tinha corrido mal? Estava tudo tão organizado, ao pormenor mesmo...
Rezei, pedi-Lhe que me ajudasse a compreender o que tinha feito mal, e foi no meio do silêncio da noite que O ouvi como se me sussurrasse ao ouvido, que tentasse ser mais “livre” planeando menos, sendo mais impulsivo, nada de extremos, mas vivendo os dias sem preocupações futuras, planeando com antecipação mas sem exageros. Deu-me todas as indicações que precisava, tinha que parar mais vezes para pensar, não viver a vida como se fosse só compromissos de agenda, ou encontros daí a sete meses, aproveitar cada momento bem planeado, sem preocupações, sem pressões, porque a vida é um caminho que vamos percorrendo, e muitas vezes ao tentarmos fazer atalhos percorremos o caminho mais longo e árduo.

Fez-me ver a graça da oração que nos ensina e conduz.Passei a fazer da vida uma oração constante em tudo o que faço até nos pequenos gestos do dia a dia.

Passei a planear tudo com mais calma, tendo uma agenda mais livre, reflectindo mais no dia a dia, e não vivendo mais o futuro que o presente. Comecei a estar mais tempo em casa, com os meus filhos, passei a divertir-me mais e a fazer o que muitas vezes achava que não tinha tempo. Não devemos ser nem impulsivos nem planeadores, devemos ser equilibrados, porque no meio está mesmo a virtude.

Porque tantas vezes no meio do stress do dia a dia não O ouvimos e Ele tem tanto para nos dizer.

Monday, November 06, 2006


Conheci o Jorge há mais de seis anos em casa de uns amigos. Rapidamente simpatizamos um com o outro, no meio de encontros em jantares, cafés e cinemas, ficamos amigos.
Os meses foram passando e aproximamo-nos com o tempo. Começamos a namorar em meados de Janeiro, quando o vento frio se fazia sentir na cara, e o vermelhão nos assentava nas orelhas e nas faces. Ainda me lembro do sorriso dele quando me olhou naquele dia, parecia a pessoa mais feliz do mundo, tal como eu.
Partilhávamos tudo, apontamentos, livros, bilhetes , músicas, gostos, momentos. Éramos o típico casal adolescente apaixonado.
O nosso namoro resistiu, a exames, a pressões de amigos, a encontros e desencontros , à distância, e a pouco mais…Foi numa manhã chuvosa, depois de ter tido aula de guitarra que me ligou para casa:
- Querida, precisamos de falar.
Pensei que lhe tivesse acontecido alguma coisa na faculdade, fiquei preocupada, apanhei o eléctrico e fui ter com ele conforme combinado.
- Que se passa Jorge?- perguntei, enquanto o olhava nos olhos, e lhe tocava com a minha mão na dele.
- Estive a pensar e tens que mudar…
- Mudar? Como assim? - perguntei perplexa.
- Tens que crescer! Há tanta coisa em ti que me irrita. Namoramos há tanto tempo e continuas com as mesmas ideias retrógradas em relação a tanta coisa, tens que deixar de ser tão egoísta e pensar também em mim.
Não sabia que lhe dizer, eu já sabia que ele queria que eu mudasse em relação a muita coisa, eu concordava que tinha de mudar mas não sabia como o fazer, e além disso não concordava com todas as mudanças que ele quase me impunha.
Se no inicio eu achava piada às posições politicas dele, agora enervavam-me porque me impunha que pensasse da mesma maneira que ele, se antes gostava que me elogiasse por andar tão “tapadinha” em termos de vestuário, actualmente ficava triste por insistir comigo para andar mais “despida “.
Foi no meio de uma discussão semelhante que acabamos, eu não conseguia mudar como ele queria que eu mudasse, eu não conseguia passar a ser a pessoa que ele queria que eu fosse, eu não conseguia deixar de ir à baixa às nove da manhã, mesmo sendo sábado, só para tomar um café e ler os jornais, eu não conseguia deitar-me tarde e não estudar todos os dias. Eu não conseguia cortar o cabelo mais curto, usar mini-saias, e sair á noite, dia sim, dia não consoante as festas do caloiro. Eu não conseguia deixar de ser eu.
Bem sei que numa relação a dois, deixamos o eu para nascer o Nós, e sabia que tinha de mudar em relação a muita coisa como pessoa, tinha deixar de pensar só em mim, para pensar mais nele, e em nós, tinha de ser mais sensível, tinha que dar mais importância ao dia a dia e não planear tanto, tinha que saber crescer.
Foi no meio de tantos pensamentos, discussões, desilusões e tristezas que acabamos efectivamente, ao contrário do que eu pensava não fiquei de rastos por termos acabado. Fiquei triste como é normal, mas não de rastos, rezei para que o Jorge continuasse a vida dele, e conseguisse ser feliz ao lado de alguém que não eu, que o preenchesse e o completasse da maneira que eu não conseguia fazer.
Tinha um desejo de mudar, mas não sabia como, fui-me aproximando de Deus, Ele mais do que ninguém compreende-me, ama-me como eu sou incondicionalmente, mesmo quando faço tudo mal, mesmo quando caio, Ele está sempre ao meu lado. O Amor de Deus fez-me pensar, no amor que os outros têm por mim, Ele não me obriga a mudar, Ele não me impõem decisões, Ele não me pressiona, Ele ama-me como eu sou. E foi assim que mudei, mudei porque Ele me moldou, e conduziu-me, porque me amou sempre e nunca deixou de acreditar em mim.

E hoje namoro com o Luis, que me aceita como eu sou, com os meus mil defeitos e as mil minhas qualidades, que se entregou totalmente sem receios e confiando totalmente e acreditando na nossa relação, que cresce comigo na Fé, que partilha comigo um namoro a três, eu ele e Deus.

Friday, November 03, 2006


Ligou-me numa noite, estava eu sentado a ler. Esfreguei os olhos para ver as horas e pensei “ quem me ligará a esta hora?” a muito custo, levantei-me da cadeira e arrastei-me até à mesa para atender.
Ouvi um choro trémulo do outro lado, era ela.
As palavras eram murmúrios na escuridão, “comidas “ pela tristeza.
Sussurrei-lhe que se acalmasse e perguntei-lhe que se passava.
Respondeu-me, mais calma, mas triste:
- Nuno, entrei em Beja.
Aquela hora, admito que não soube responder, disse-lhe apenas com um ar meio perplexo:
- Mas entraste em Medicina certo?
- Sim, mas em Beja.
- Não te preocupes vai correr tudo bem! Já entraste! Não vês?! Entraste no que querias!
Depois de muita conversa à volta do assunto, ambos cansados decidimos falar no dia seguinte.
Pousei o telefone, fechei o livro e chorei.
Não sei se era um choro de alegria ou de tristeza, talvez fosse um misto dos dois.
Por um lado sentia-me tão contente por ela ter conseguido, porque se havia pessoa que merecia entrar era ela! Esforçava-se imenso, aplicava-se sempre e sacrificava-se por tudo. Mas por outro lado sentia-me profundamente triste, porquê na Beja? Porquê tão longe? E as nossas tardes juntos a falarmos de tudo e de nada, os nossos risos ao telefone diariamente, os nossos cafés sobre livros ou os nossos passeios à baixa?
Deitei-me logo de seguida pensando para mim mesmo, que jamais lhe daria a entender que estava triste, tinha neste momento, de ser um amigo à altura e ajudá-la a ir para a frente, mesmo que me custasse a sua partida.

Os dias passaram tranquilamente, ou pelo menos eu tentava que fossem tranquilos, ela andava apressada de um lado para o outro preparando tudo para a sua partida.
Jantamos várias vezes, tentado arranjar outras soluções, mas ia tudo parar ao mesmo, ela tinha que ir para a Beja.
O dia D chegou, chuvoso, tal como o meu espírito estava, levantei-me cedo, e rezei, pedi a Deus que a ajudasse nos dias difíceis que se seguiam, que lhe desse força para fazer aquilo que devia, que fosse o Seu Companheiro de todas as horas.
Sai de casa, liguei o carro e fui buscá-la, as malas eram tantas que parecia que íamos os dois para a china durante um ano. Chegados ao aeroporto, ficamos lá duas horas, o voo atrasou-se, ainda tivemos uma complicação à entrada com o check in visto que levávamos uma mala com ossos…
Chegou o derradeiro momento a despedia, foi simples e rápida, para que de ambos os lados não houvessem lágrimas.

Chegada à Beja, sentiu muitas dificuldades, a tristeza de estar longe de casa, as saudades dos amigos, a adaptação, o viver sozinha… tudo obstáculos para quem estava habituado a viver num berço de ouro.
Cada vez que lhe ligava ouvia o choro, a tristeza as palavras de revolta, e acalmava-a dizendo o que sentia, que tudo ia correr bem, perguntava-me como tinha eu tanta certeza, e eu dizia-lhe porque Ele estava com ela, e nada corre mal, quando Ele está ao nosso lado.
Rezei tantas vezes sobre a ida dela, pedi-lhe que também a mim me desse forças para lhe ajudar no que podia.
E no meio do silêncio da Oração, ouviu-o como se um sussurro se tratasse, Disse-me que não me preocupasse que tudo ia correr bem, se ela ia para a Beja era porque era a Vontade Dele, e que muitas vezes não a percebemos, mas que tudo tem uma razão de ser.
Ao contrário do que muitos julgam Ele não nos impõem um caminho, Ele mostra-nos o caminho certo, mas nós é que escolhemos se aceitamos o desafio ou se nos deixamos ficar, Ele respeita as nossas decisões, porque nos ama incondicionalmente, e nos aceita como somos.
Nem toda a gente largaria tudo para seguir um sonho, muitos recusariam e preferiam ficar em casa com todas as vantagens e protegidos, sem arriscar, muitos perderiam oportunidades mas ela não. Ela era mais forte do que julgava, ela iria conseguir ultrapassar os obstáculos, e crescer. Crescer a todos os níveis, viria diferente, com a cabeça mais arrumada do que já era, viria fortalecida. Ela seria capaz de confiar Nele, de se entregar e de acreditar em tudo o que Ele lhe dizia, ela seria humilde e aceitaria o seu caminho, mesmo que este lhe parecesse longo e difícil, ela caminharia no meio de tudo apenas com o Seu Amor porque este lhe bastaria para transformar as tristezas do dia em alegrias, o sofrimento em Amor, a revolta em esperança… Com Ele ao seu lado tudo seria mais fácil, porque seria a dois, porque sozinha ela não conseguia.
Eu sabia que Ele tinha razão, tudo têm uma razão de ser, se era esse o caminho dela, então só teria que o percorrer com Ele ao seu lado sempre.

Os anos passaram, hoje olho para ela com um ar cúmplice, temos ambos trinta e oito anos, a vida na Beja parece apenas uma história longínqua, porque já tanta coisa aconteceu desde essa viagem, Ele tinha razão ela conseguiu.
Olho para trás e vejo, o curso que tirou, a sua ida a África como missionária, o seu casamento, os filhos. É uma pessoa completamente realizada a todos os níveis.
E se ontem as dificuldades pareciam muitas, hoje olha para elas e sorri-Lhe por lhe ter dado a oportunidade de ser feliz.

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