Sunday, April 08, 2007


Não me lembro de ter tido alguma vez medo de morrer. Lembro-me de ter menos de dez anos e de pensar na morte não na minha mas da dos que me rodeavam. Talvez a morte não me assustasse por me ser desconhecida, contudo um dia alguém que vivia perto da minha casa morreu, e eu só pensava com curiosidade em vez de medo, no dia em que eu iria morrer.

Chegado a casa perguntei à minha avó se eu podia morrer no dia seguinte, ela deve ter pensado que eu estava com medo e disse-me com um sorriso carinhoso que eu não ia morrer tão cedo, que ia ter muitos filhos, seria um dia também avô, e viveria muitos e longos anos.
Mas dias mais tarde, pensei que não me lembrava do dia em que tinha nascido, e pensei que tal como eu não tinha pedido para nascer, eu também podia não pedir e morrer, e pela primeira vez essa ideia assustou-me, e se o dia fosse nessa semana?

Estava a pensar nesses momentos de crescimento de duvida, de introspecção quando a Luísa apareceu à minha frente e perguntou-me em que pensava. Contei-lhe a minha história de infância e ela disse-me:
- Porque estavas a pensar nisso?- e abraçou-me com ternura como se falasse da morte fosse assunto proibido.
- Sabes Luísa – respondi-lhe- hoje estava a colocar a mesma duvida, e se a minha morte fosse amanhã? Sim amanhã, vinte e quatro horas na Terra, nem mais uma nem menos uma, que faria eu se o soubesse?
Olho para mim com um ar sério e disse:
- Oh João não digas parvoíces, nós não sabemos qual é o dia da nossa morte e ainda bem- respondeu-me
-E ainda bem, tens razão porque se soubéssemos de certeza que viveríamos profundamente infelizes porque sentiríamos revolta por uns viverem mais tempo do que nós, sentiríamos ansiedade até à chegada desse dia, e viveríamos pela metade, para supostamente aproveitarmos melhor a vida. Mas partindo do pressuposto que sabíamos que íamos morrer amanhã que faríamos de diferente, como seria esse nosso último dia?

Ficou parada a olhar para mim sem saber o que dizer, e eu disse-lhe:
-Sabes se eu soubesse que amanhã era o meu ultimo dia, faria tudo da mesma maneira, viveria o dia com a mesma calma, apenas mudaria três atitudes, sairia do trabalho mais cedo para ir à missa, para Lhe agradecer pela vida que me deu, não te diria que ia morrer mas passaria todo o dia a repetir que te amava mesmo sabendo que tu o sabias, e iria jantar com os meus familiares que não me vêem muitas vezes, porque queria jantar com pessoas que me amam e a quem tantas vezes não consigo dar um pouco do meu tempo.
- Então irias trabalhar? Viverias esse dia com calma, sabendo que irias morrer? – perguntou-me incrédula.
- Sim Luísa, viveria na Paz do Senhor pois dai a algumas horas, iria ter a honra de O abraçar.

8 comments:

joaquim said...

Só a comunhão com Ele, nEle e por Ele com os outros, nos pode dar essa certeza de real esperança de que a vida não acaba, pelo contrário, deixa de estar à merçê do tempo, para estar repleta de eternidade no gozo indiscritivel de Deus.
Então para quê a ansiedade, a preocupação, mas apenas a vontade de tudo viver segundo a Sua vontade, transmitindo aos outros essa paz que apenas nos pode vir de Jesus, que nos deu a paz, "mas não a paz como o mundo vos dá».
Obrigado Joana por mais este lindo texto que nos faz reflectir em algo tão importante como a morte, que para uns é coisa boa, porque leva para melhor, para outros é coisa má, porque vivem na "desesperança".
Abraço em Cristo

sedente said...

1 abrç fraterno em Cristo Ressuscitado.

Maria João said...

Fizeste-me lembrar uma coisa que uma amiga minha me disse uma vez: "Temos tanto medo da morte, mas é o momento em que vamos ter com o Pai. Apesar de ser doloroso, ao mesmo tempo é maravilhoso. Vamos ter com o Pai!"

Não tenho aparecido, eu sei. O trabalho é muito e tenho tentado postar apenas textos para o blog não parar. Além disso, desde que estou nos missionários combonianos vivo mais a Fé com missão e isso ocupa o nosso tempo. Graças a DEus que ocupa! Afinal, "ser missionário é fixe"!

beijinhos grandes em Cristo

Pi said...

Joana
Acredito que a vida na sua essência é uma resposta a um Deus que nos deu liberdade de Lhe dizer sim ou não. As minhas relacções humanas, o meu trabalho, a minha amizade no Senhor contigo, etc são importantissímos, mas no entanto, são temporários... E a todos os momentos, Deus de Amor pergunta-me: Pedro, queres passar a eternidade comigo? E consoante os meus pensamentos e atitudes, Lhe digo sim ou não.

Deste modo, consigo dar respostas a realidades como aqueles que nascem deficientes. Deus deu-lhes pouco, mas também lhes pedirá pouco. Enquanto que a mim deu-me mais, e pedirá-me mais contas( parábola dos talentos).

Penso que não devemos ter medo da morte nem estar preocupada com ela. Deus nos chamará quando Ele assim o entender. Entretanto, "façamos todo o bem que nos é possível", para sermos felizes agora e depois no Céu. E como tal, vivamos a vida, como um grande presente que Deus nos deu, e que assim o é. Obrigado Senhor por este dom que me deste.

Grande beijinho
Pedro

António Valério,sj said...

Que bonito, Joana! Fazes-me sentir o que é viver entre o agora e o que será depois. Se morrer é ir para o céu, também assusta deixar tudo isto aqui.Viver a comunhão com o essencial cada dia é o que nos prepara para desejar o eterno. No fundo, está sempre ao nosso alcance. Boa Páscoa e um beijinho mt grande em Jesus

Catequista said...

É um tema sério, o da morte. Acho que não tenho medo, mas tb é verdade que não penso muito nele. Não sei se devia...
No fundo acho que não quereria saber se morreria amanhã ou não. Não sei como reagiria e talvez a ânsia de aproveitar as últimas 24 horas me impedissem de as viver bem. Jesus disse que ninguém sabe o dia e a hora. Por alguma razão o será...
O importante será viver a vida em pleno, próxima de Jesus e no cumprimento dos seus mandamentos.
Um abraço

Ver para crer said...

Só devemos temer uma morte"macaca", por acidente ou assassínio. Ou então se não estamos preparados para dar contas a Deus.
Um abraço.

silvino said...

a intemporal incerteza, o momento da minha morte. o sentido da morte q só existe numa vida repleta de sentido. obrigado por me relembrares isso.

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