Monday, May 28, 2007


Há dias cheguei a casa estoirada, parecia que o meu corpo cedia ao peso da roupa. Como se umas calças de Lycra e uma t-shirt fossem suficientes para me deixarem sem forças… Na verdade estava mesmo cansada, tinha estado a correr durante duas horas. O suor escorria-me pelo pescoço, e descia pelas minhas costas, mas sentia me bem, quando corria tudo o que estava a minha volta e dentro de mim desaparecia; árvores, rostos, lojas, angustias, tristezas, pensamentos, deixava me levar pela dor “de burro”, e pelo sofrimento de querer parar.
Fui me deitar, dormi mais de dez horas, mas acordei ainda mais cansada.
Ao inicio pensei que o cansaço se devesse ao facto dos meus músculos estarem doridos, podia ter sido de ter feito exercício a mais, mas os dias passaram e o cansaço persistia, pensei que estava doente, mas a febre não aparecia e dores também não, contudo no meio de tudo isto o cansaço persistia e aumentava de dia para dia.

Um dia não pude mais, estava farta de sentir este cansaço, de não parar para pensar, e tive que o enfrentar, não fui correr, não fui ler, parei simplesmente, e dei por mim a entrar numa capela, já não o fazia há tanto tempo.
Sentei me no primeiro banco logo à entrada, e não rezei. Fiquei simplesmente parada a pensar, percebi que o cansaço era algo que eu sentia cá dentro não era um cansaço físico. Olhei para o altar, e vi O, olhava-me com olhos de Amor e perguntava-me porque não Lhe falava desse cansaço que sentia.
Fiquei ali em silêncio, enquanto Ele me falava, dizia-me que me abrisse a Ele, mas eu continuava teimosamente fechada.

O tempo passou, e Ele continuava a insistir , não desistia e dizia-me, para Lhe dizer o que me preocupava. Eu respondi-Lhe que não era nada de especial, que havia quem tivesse em situações bem piores, e que Ele devia era ir ao encontro desses, que eu cá me arranjava, foi então que Ele me disse:
- Teresa pára, não percebes que te amo intensamente, e que não gosto de te ver assim? Desde quando é que as preocupações dos outros são mais do que as tuas? Tu és minha filha muito amada, e para mim as tuas angustias e as tuas alegrias, são importantes.Partilha comigo, fala filha, não te feches sobre ti mesma, deixa-Me ajudar-te.
Fiquei a olhar para aquele rosto, cheio de Amor, que sofria por mim, e pedi-Lhe que me perdoasse.
Ia começar a falar, quando Ele me disse:
- Sabes esse cansaço que sentes, eu também o sinto, eu sei porque estás tão cansada por dentro.
Fiquei perplexa a olhar para Ele, lembrei me que Ele me conhecia mesmo antes de eu própria me conhecer. Abri a boca pela primeira vez e disse-Lhe:
- Estou cansada, parece me que a cruz que carrego é mais pesada, ou então fiquei mais fraca.- e calei-me à espera que me respondesse.
-É verdade que estás cansada, mas a cruz que carregas é a mesma desde do dia em que nasceste, parece te mais pesada, pensas que enfraqueceste, mas na verdade, o que se passa é que a tens carregado sozinha.
- Sozinha? –perguntei incrédula.
- Sim, essa cruz sempre a carregamos os dois, mas ultimamente puxaste o peso todo para o teu lado, e apenas Me deixas acompanhar o teu passo. Não me deixas tocar na tua cruz, aliviar te o peso, não a partilhas Comigo, por isso é que te parece mais pesada.
Calou-se e eu corei, nem sabia que Lhe dizer, estava tão envergonhada, mas respondi-Lhe:
- Senhor perdoa-me, mas penso sempre que os meus problemas são tão pequenos, não te quero preocupar, e também não sei como lidar com eles .- nesse momento as lágrimas escorreram-me pela cara, e senti uma mão sobre a minha.
- Não chores, as tuas angustias, as tuas alegrias, as tuas preocupações, mesmo que te pareçam pequenas são tuas, e só por isso interessam-Me, partilha Comigo o que sentes, deixa-Me ajudar te e carregaremos juntos a Cruz.
Não te isoles, não rezes menos só porque te sentes triste, Eu estou sempre aqui, partilha comigo a tua vida, não me abras a porta só quando tens a casa arrumada, deixa-me ajudar te a limpar o teu quarto, deixa-Me abraçar te.
Ouve-Me, deixa-Te guiar por mim, confia.

Ajoelhei-me e permaneci ali o resto da tarde, partilhando com Ele a minha vida, e pedindo-Lhe que nunca me abandonasse porque sem Ele nada sou.

13 comments:

Tiago Madeira said...

Obrigado por mais um toque que chega ao íntimo da alma.
Estamos juntos.
Obrigado pelo carinho e amizade.

Nuno Branco, sj said...

Joaninha ja tinha saudades das tuas histórias. Fazem-me bem lê.las, descansa-me ;)
um beijinho grande para ti! :)

Presidente said...

Leio 1º parágrafo com um sorriso conivente nos lábios. E a certeza de proximidade nas orações.
Falta às vezes sensibilidade e coragem para encarnarmos S.Cireneu...e ajudar a transportar as cruzes. Rezo para essa percepção...
Um beijinho ;)

sedente said...

Depois de 1 jejum prolongado dos teus textos, sabe bem ler as tuas palavras de novo.
abrç+

silvino said...

uóh, quem corou fui eu.

isso de segurar na própria cruz para não incomodar ninguém serviu-me que nem uma luva :/

..a recusa da ajuda visível e invisível q ele me dá.. o q vale é q ele é mais teimoso do q eu e não desiste de mim! eheh

Catequista said...

As saudades que tinha de ler as tuas estórias!
Fico feliz pelo regresso e por este texto que me levou a pensar também na minha vida...

Um abraço

joaquim said...

Em primeiro lugar obrigado por reapareceres.
A história serviu-me bem, como uma luva.
Verdadeiramente Jesus Cristo não ama mais os que mais sofrem, ou menos sofrem, ama a todos por igual e quer fazer parte da vida de todos e em todos os momentos.
Ele até se preocupou com a falta de vinho!
Obrigado Joana por voltares ao convivio e nos lembrares que Ele quer carregar a nossa cruz connosco e também com aqueles que Ele mesmo vai colocando nas nossas vidas.
Hoje durmo mais descansado: já li uma história da Joana!
Abraço amigo em Cristo

Leonor said...

ADOREI JOANA!!! Ia agora deitar-me e pensei vir cá ver se finalmente tinhas voltado e tive uma óptima surpresa. Obrigada! Graças a ti até vou dormir melhor. :D

Pi said...

Joana
Que bom ler te de novo.
Com Ele é tudo mais fácil e faz mais sentido.
Beijinho grande
Pedro

paulo,sj said...

Joana!

Muito obrigado... Talvez este texto esteja ligado com o Espírito Santo que anima quem passa, quem fala, quem chora, quem ri, quem agradece, quem ama, quem vive, quem grita, que se cansa, quem liberta, quem se entrega, quem torna o dia banal num dia especial...

Não estamos sós e devia ser um conhecimento mais presente e mais constante no nosso pensamento...

Um beijinho!

A Capela said...

ah, hoje acertei no dia de vir. é de uma ternura a tua história, e, acredito que verdadeira, pois Ele de verdade te conhece e se importa com as mais pequeninas preoupações e tristezas que tenhas.

Bjinho Joana.

Maria João said...

Que saudades tinha dos teus posts!

É verdade! Nem sempre deixamos que o Pai nos ajude a carregar a cruz. Esquecemo-nos que Ele também sofre connosco... E sofre muito mais, quando queremos puxar a cruz mais para o nosso lado.

Obrigado por este momento.

beijos em Cristo

António Valério,sj said...

Então Joana? =) Estou contigo nestes silêncios, com saudades das tuas estorias. Partes sempre de muito fundo e consegues levar para muito longe. Rezo por ti... beijinho

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