Wednesday, April 18, 2007


Ainda me lembro da primeira vez que vi o Ricardo, estava ele sentado à entrada da capela onde mais tarde nos viríamos a casar. Entrei discretamente e reparei no sorriso daquele rapaz que falava a Deus com uma enorme alegria.

Os nossos olhares cruzaram-se e nunca mais me esqueci daquele olhar, penetrante, suspenso misterioso, olhava para mim como se nada mais interessasse, como se eu fosse a única pessoa daquele local.

Cruzamo nos mais vezes e aos poucos e poucos fomos nos dando a conhecer, a defesa que erguíamos desfez-se e cativamos mutuamente criamos laços e unimo-nos numa forte amizade que mais tarde foi a base para um namoro que teve como principal pilar a fé que ambos partilhamos em Cristo.

Hoje olho para a nossa relação e sinto orgulho por termos crescido tanto com o passar dos anos, não só em termos familiares, tivemos cinco filhos e quinze netos, mas também em termos de fé, crescemos juntos como casal, como amigos no Senhor.

Recordo aquele olhar que o Ricardo me lançou e vejo O olhar do Senhor, que nos ama totalmente, esse olhar é de tal maneira marcante e único, nesse Olhar é como se Deus se esquecesse de tudo o resto por nós, para Deus nós somos, cada um de nós é, Um filho muito amado, uma pérola preciosa que Ele cuida, trata, protege e molda!
Cada um de nós, com os seus defeitos e qualidades, que Ele aceita, cada um de nós que magoa, mas que Ele perdoa.

Este amor de Cristo é algo impressionante, só o consigo comparar ao Amor que senti quando os meus filhos nasceram, um amor sem limites, de entrega, de compaixão , um amor que se sente e que dá vontade de chorar, um amor transparente, verdadeiro, único, uma alegria enorme, um Amor que nos ultrapassa que nos enche por dentro, como o Amor que eu sinto pelo Ricardo que só me apetece sorrir-lhe sempre que o vejo, um amor sem fim, é esse o Amor de Cristo, um Amor que não tem principio nem fim, um amor incondicional, um amor de Pai, e é com esse Amor que eu quero viver sempre, porque só esse Amor me basta.

Sunday, April 08, 2007


Não me lembro de ter tido alguma vez medo de morrer. Lembro-me de ter menos de dez anos e de pensar na morte não na minha mas da dos que me rodeavam. Talvez a morte não me assustasse por me ser desconhecida, contudo um dia alguém que vivia perto da minha casa morreu, e eu só pensava com curiosidade em vez de medo, no dia em que eu iria morrer.

Chegado a casa perguntei à minha avó se eu podia morrer no dia seguinte, ela deve ter pensado que eu estava com medo e disse-me com um sorriso carinhoso que eu não ia morrer tão cedo, que ia ter muitos filhos, seria um dia também avô, e viveria muitos e longos anos.
Mas dias mais tarde, pensei que não me lembrava do dia em que tinha nascido, e pensei que tal como eu não tinha pedido para nascer, eu também podia não pedir e morrer, e pela primeira vez essa ideia assustou-me, e se o dia fosse nessa semana?

Estava a pensar nesses momentos de crescimento de duvida, de introspecção quando a Luísa apareceu à minha frente e perguntou-me em que pensava. Contei-lhe a minha história de infância e ela disse-me:
- Porque estavas a pensar nisso?- e abraçou-me com ternura como se falasse da morte fosse assunto proibido.
- Sabes Luísa – respondi-lhe- hoje estava a colocar a mesma duvida, e se a minha morte fosse amanhã? Sim amanhã, vinte e quatro horas na Terra, nem mais uma nem menos uma, que faria eu se o soubesse?
Olho para mim com um ar sério e disse:
- Oh João não digas parvoíces, nós não sabemos qual é o dia da nossa morte e ainda bem- respondeu-me
-E ainda bem, tens razão porque se soubéssemos de certeza que viveríamos profundamente infelizes porque sentiríamos revolta por uns viverem mais tempo do que nós, sentiríamos ansiedade até à chegada desse dia, e viveríamos pela metade, para supostamente aproveitarmos melhor a vida. Mas partindo do pressuposto que sabíamos que íamos morrer amanhã que faríamos de diferente, como seria esse nosso último dia?

Ficou parada a olhar para mim sem saber o que dizer, e eu disse-lhe:
-Sabes se eu soubesse que amanhã era o meu ultimo dia, faria tudo da mesma maneira, viveria o dia com a mesma calma, apenas mudaria três atitudes, sairia do trabalho mais cedo para ir à missa, para Lhe agradecer pela vida que me deu, não te diria que ia morrer mas passaria todo o dia a repetir que te amava mesmo sabendo que tu o sabias, e iria jantar com os meus familiares que não me vêem muitas vezes, porque queria jantar com pessoas que me amam e a quem tantas vezes não consigo dar um pouco do meu tempo.
- Então irias trabalhar? Viverias esse dia com calma, sabendo que irias morrer? – perguntou-me incrédula.
- Sim Luísa, viveria na Paz do Senhor pois dai a algumas horas, iria ter a honra de O abraçar.

Tuesday, April 03, 2007



Sempre adorei as aulas de história, gostava de ouvir a Professora a contar histórias de acontecimentos passados e imaginar cada um deles, reis a governar, cavaleiros a combater, casas a ser erguidas, muralhas a serem construídas etc Para mim todas as aulas eram magicas e saia da sala com uma enorme vontade de saber mais de ler mais sobre cada batalha, cada rei e cada país.



Contudo um dia entramos num capitulo sem reis, sem batalhas, sem países, entramos no capitulo da Pré Historia, supostamente já o devíamos ter sido leccionado, mas devido a alterações no programa ficamos com o capitulo atrasado.


Ao inicio não gostei do novo capitulo, estranhei a mudança, rejeitei a ideia de não existirem batalhas, de só existirem homens nómadas a apreender a comer, a procurar abrigo e a pintar nas paredes das grutas.


Relembro me de uma aula em que deixei de lado a minha rejeição pela pré historia e a minha curiosidade invadiu me de novo, a Professora estava a contar como é que os primeiros Homens começaram a caminhar de pé, na posição erecta, porque ao inicio os Homens caminhavam como os animais em quatro patas, mas um dia um deles deve ter sido capaz de se levantar e deve ter visto as coisas de maneira tão diferente que nunca mais se baixou, pelo menos foi assim que eu imaginei o momento em que o primeiro Homem se ergueu como nós fazemos, imaginei um Homem macaco a levantar-se lentamente e de forma desequilibrada, agarrando-se a um tronco de uma árvore e observando maravilhado o meio que o rodeava, como se todas as árvores, todas as plantas e toda a terra fosse nova para ele, porque naquela posição tinha uma visão clara e aberta, uma visão completamente diferente da que tinha quando caminhava com as quatro patas.



No outro dia estava a pensar na imagem que tive nesse longínquo dia, do Homem macaco a levantar-se e a ver tudo de maneira tão diferente, porque este simples passo mudou toda a sua vida, foi um verdadeiro salto para ele. Olho para este salto que ele deu, e associo aos enormes saltos que muitas vezes temos que dar na nossa vida para vermos as coisas de maneira diferente, às vezes precisamos de dar um pequeno salto, para vermos as coisas de outra perspectiva, por exemplo ao nível da nossa fé.


A fé cresce e desenvolve-se com o tempo, mas precisa de ser cuidada, os laços tem que ser reforçados, e precisa de muitas vezes de mudar, ou seja de expandir, um salto na nossa fé, pode nos parecer algo enormíssimo e impossível, mas confiemos n´Ele porque dando-Lhe a nossa mão, e acreditando tudo é possível, porque a Deus nada é impossível.


Imagino o salto que terei de dar na minha fé, e assusto me como se estivesse perante um precipício, mas logo de seguida Ele dá-me a mão e puxa-me, e juntos saltamos de mãos dadas para o outro lado, para a outra margem, e quando olho para trás vejo a beleza do local por onde passei, e vejo que o salto valeu a pena, pois sem esse salto, eu não poderia usufruir da paisagem.


Agarro-Lhe a mão com mais força, e caminhamos juntos o resto do percurso que ainda é longo.

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