Saturday, December 23, 2006


Acabamos de Jantar, tal como nos anos anteriores, às dez e meia. A Inês foi para o quarto arranjar-se e eu fui arrumar a cozinha. Como sabia que ela ainda ia demorar, fui procurar os meus sapatos e engraxá-los.
Enquanto o fazia, pensava com o meu Espírito contente que daí a umas horas iria recebê-Lo, iria ao Seu encontro, iria estar com Ele. O meu coração encheu-se de felicidade e um sorriso esboçou-se na minha cara.

De seguida e como se fosse de propósito, Ela ligou-me, já não nos falávamos, à mais de três anos, muitos acharão isso impossível sendo ela minha irmã, mas na minha família sempre existiram discussões com demasiada frequência.
Olho para o telefone em silêncio, reconheço o número e penso:
- Porquê? Porquê hoje? - Deixo-o tocar, a Inês grita que o atenda, levanto-me e suavemente coloco o no meu ouvido. Já não ouvia a sua voz há tanto tempo, fala desalmadamente, quer que me encontre com ela rapidamente, pergunta-me onde vou, a que Missa, quer me abraçar, sente-se mal, precisa de mim.
Na minha cabeça mesquinha muitas perguntas se formulam, e a nossa discussão? E tudo o que te disse? E todas as palavras que me magoaram e que te magoaram? Tudo parecia ter inexistido, somente o Amor Por Ele nos uniu.
Ouvi-a durante mais de meia hora, e senti que não queria estar comigo para se sentir bem consigo mesma, nem queria estar comigo para O agradar, queria estar comigo, porque achava que como irmãos que somos, devíamos aproveitar o Nascimento de Deus para irmos ao Seu encontro juntos e ajoelharmo-nos perante Ele, sem ressentimentos, sem dores, sem tristezas.
Combinamos encontramo-nos depois da Missa, visto que a nossa conversa já se tinha prolongado bastante.

Desliguei o telefone meio alunado, teria sido um sonho? Duas lágrimas surgiram nos meus olhos, não sabia que Lhe Agradecer, se pelo o facto de Ele me ter perdoado, ou se pelo facto de me ter feito perdoar, porque ambas eram coisas tão difíceis.

-Quem era Luís? – Perguntou-me a Inês, espantada com a minha cara.
-Era a Ana, vamos ter com ela depois da Missa, pode ser? Precisamos de lhe falar - disse-lhe.

Lá fomos nós para a Missa, uma das Missas mais bonitas do Ano, receber o Menino que tinha nascido, e no final da noite, estivemos com a minha irmã que nos recebeu como Ele de braços abertos.

Chegamos a casa cansados, a Inês foi se deitar , e eu fui rezar, precisava de Lhe falar e de perceber o que tinha sido “aquilo” e o porquê deste acontecimento. Eu sei que não há coincidências, tudo acontece por uma razão de ser, porque Ele quer, porque é a Sua Vontade.
Rezei sobre o assunto com Ele ao meu lado. E já estava tão cansado que quase adormeci, nem sei se cheguei a fazê-lo mas Vi algo, imaginei que me contavam uma história , o que quer que seja que aconteceu foi especial, e sei que teve a Sua Mão.

Todo aquele sonho, começava na noite em que me encontrava, recuava apenas algumas horas, eu e a Inês iríamos a casa dos meus Tios dar e receber presentes. A Inês iria querer levar o Vinho, e alguns doces típicos, assim que saiu mais cedo para ir a casa do António, seu irmão, buscar o que tinha preparado. Fiquei sozinho a embrulhar os últimos presentes, a riscar nomes da lista, a fazer o que menos gostava mas que era necessário. Ouvi bater à porta, pensei ser a Inês, porque distraída como era esquecia-se sempre da chave em cima da cómoda, irritado levantei-me e abri a porta, e dei com uma Senhora Grávida à minha frente. Suada e cansada, com a roupa gasta a pobre senhora apareceu à minha frente. Nada me disse, e eu olhava-A desconfiado, porque me bateu à porta esta Mulher ?, Perguntei-Lhe se queria alguma coisa, se precisava de ajudava, e apeteceu-me fechar-Lhe a porta na cara ao ver que nada me dizia. Eu tinha tanto que fazer, tantos presentes para embrulhar, tantas pessoas a quem ligar, e ainda “perdia” tempo com uma Mulher grávida a esta hora?
Foi então que ela falou. Docemente me disse:
-Ele vai nascer, preciso que me deixes entrar.

Fiquei em pânico, pensei em ligar a algum hospital, ou falar com a Inês, que poderia eu fazer?

Calmamente entrou, e sentou-se numa cadeira a meu lado, fui Lhe buscar água e comida, perguntei-Lhe se queria ligar a alguém, mas Ela continuava calma e calada. Após algum tempo a minha exaltação parou, e reconheci-Lhe o Olhar. Ela sorriu e disse:
- Obrigado Luís, por nos receberes, agora Ele já pode nascer no Teu coração porque me acolheste, Confia N´Ele porque mesmo sendo tão pequenino e frágil vai encher o Teu coração de ternura.

Acordei, ou melhor voltei onde estava e sorri-Lhe, e percebi, parecia tudo tão claro.
Ele veio ao meu encontro, eu acolhi-O, e a minha irmã, oh a minha querida irmã, quis que eu fosse com Ela recebê-Lo, porque juntos iríamos receber o Seu Amor como Ele queria que fossemos, de mãos dadas, abrindo a porta a Maria para que O tivesse ao nosso lado, para que ambos o Abraçássemos e abraçássemos também o Seu Amor.

Fui me deitar, beijei a Inês na testa e agradeci-Lhe pelo Dia, estava desejoso de falar com a minha irmã, precisava tanto de lhe falar e de lhe agradecer por se ter deixado guiar pelo Espírito Santo.

Nesse dia percebi que o que aos nossos olhos muitas vezes parece impossível, não o é aos Olhos de Deus, como era a minha zanga com a minha irmã, que eu achava irreconciliável. Lembrei-me de Madre Teresa de Calcutá: “ É fácil amar os que estão longe, mas nem sempre é fácil amar os que estão a nosso lado “.
Também percebi que não vivemos de Pão e água, de poder e de consumismo, mas vivemos apenas do Amor de Deus, porque este nos enche por dentro, nos envolve, e só este nos torna capazes de sermos quem somos. Porque sem Ele, nada sou, pois Ele é o centro da minha vida

6 comments:

Leonor said...

Joana, ADOREI! Lembrei-me uma vez na missa do cupav que o padre carlos disse: Um dia Ele pode bater à nossa porta e, se nós não estivermos prontos para o receber vamos sentir-nos perdidos e pensar que aquele não era o momento ideal para Ele vir, que só esperávamos mais tarde, que ainda queriamos fazer algumas coisas antes de o receber maa fomos adiando... pensando que ainda tinhamos tempo mas, na verdade, temos de estar sempre pronto para O receber porque Maria pode bater à nossa porta quando menos esperamos, no dia mais comum ou no dia mais estranho da nossa vida. Temos de estar preparados para receber o Menino. Obrigada pelo conto que eu adorei mesmo!!! Fez-me pensar sobre isto de ir adiando as coisas e pensar 'depois faz-se' e só fazemos em cima da hora tudo mal feito. E uma vez disseram-me. "Esperar não é ficar parado. Esperar é preparar". E é verdade! Estamos à Sua espera e, para isso, temos de preparar a Sua vinda. Eu muitas vezes vou deixando passar o tempo porque estou cansada e não me apetece fazer nada e esqueço-me de coisas importantes que tenho de fazer. Neste Advento, aconteceu-me muito isso e gostava de conseguir mudar. E estórias como estas ajudam-me imenso! A sério, obrigada! :D

Leonor said...

ahh esqueci-me de dizer: adorei a imagem. lol beijinho

António Valério,sj said...

Joana! Adorei o seu texto! =) Com o Natal começa de novo a história de Deus connosco, numa intimidade que não é possivel ser mais concreta. Celebrar o Natal é recomeçar de algum modo aquilo que somos, num mundo com mais paz e perdão. E muita alegria e entrega. Que seja um Natal assim! Obrigado por tudo! E já agora, podemos tratar-nos por tu, não? Sinto a nossa proximidade tão bonita que não precisa de tanta formalidade! =) beijinho valério

Fátima F said...

Neste momento não tive tempo para ler o texto deste post, mas vinha fazer uma visitinha rápida para te desejar um Natal muito feliz, com um grande beijinho para ti à mistura :)

J said...

Nônô,

Ainda bem que gostaste da estória. Também me acontece muitas vezes o que dizes, de adiar constantemente por perguiça ou simplesmente por falta de vontade.Mas o Regresso de Cristo pode ser a qualquer instante e temos que estar preparados para O recebermos.
Gostei imenso desta imagem, achei que traduzia exactamente o encontro entre Cristo e cada um de nós, como o Pai da Parábola do Filho Prodigo que abraça o e perdoa-o, um abraço de Amor, que nos envolve.

Um grande beijinho


António,

é verdade com a chegada do Natal, começa tudo do inicio, uma entrega maior, mais confiança e mais proximidade é tudo o que desejo para cada um de Nós este Natal.

Relativamente à forma de tratamento, eu trato-o por você, por uma simples questão de respeito, mas se quiser que passe a tratá-lo por tu assim o farei. Contudo não era de maneira alguma uma um sinal de afastamento.

Um grande beijinho em Cristo

Gota de Chuva,

se tiveres tempo depois lês.


Um Santo Natal para ti também e que Deus nasça no teu Coração.

Um grande beijinho em Cristo

Maria João said...

Sim, devemos estar sempre preparados. Para o receber neste mundo ou no outro. Na semana de Natal, recebi a notícia de quatro mortes. Três na segunda, outra na véspera de Natal.

Ligação mais directa, só tinha com uma delas. Era uma pessoa muito doce e que vai deixar muitas saudades. Vai também deixar um grande exmplo: a luta pela vida. Sofreu muito, mas até ao último minuto lutou sempre.

beijos em Cristo

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