Saturday, December 30, 2006


Olhei para a folha branca que tinha diante de mim. Estava pálida e limpa tal como quando eu a tinha pousado. Virgem e intacta olhava para mim à espera que eu escrevesse algo nela.
Todos os anos, quando a altura era propícia, eu reflectia no ano que tinha passado. Pensava e rezava sobre todos os acontecimentos, bons ou maus, grandes ou pequenos. Relembrava me de momentos, de pessoas, de livros de ocasiões etc E de tudo o que tinha acontecido guardava o seu melhor, porque do pior só se tiram lições e não lembranças.

Todos os anos escrevinhava promessas e desejos para o ano seguinte. A esperança de mudar, era algo que me invadia desde o primeiro dia do novo ano, o desejo de fazer tudo ao mesmo tempo, de dar uma grande volta, de tornar tudo melhor. O novo ano, era uma lufada de ar fresco na minha vida, mas este ar, ao contrário do que eu pensava durava sempre pouco tempo. Eu nunca me tinha apercebido da ilusão em que vivia nesta quadra, até ao dia em que falei com o Francisco.

Encontramo-nos num café perto de casa dele. Já não nos víamos à mais de um mês, eu tinha ido à neve, e para meu grande desgosto, tinha a marca dos óculos estampada no rosto. Ele vinha de Timor, tinha estado dois meses como Missionário, e trazia um enorme sorriso contagiante.
A conversa fluiu normalmente, falamos de sonhos, de projectos, de vidas.
No meio da conversa surgiu o tema da passagem do ano, ele disse-me que era dos acontecimentos que menos festejava, porque para ele a festividade que se vivia à volta deste acontecimento era exagerada e além disso preferia o Natal. Perguntei-lhe com curiosidade o que queria dizer com isso de preferir o Natal, e ele explicou-me:
- O Nascimento de Cristo, que todos preparamos ao longo do Advento é para mim dos acontecimentos mais importantes do Ano. Eu quero recebê-Lo sempre no meu coração, acolhê-Lo e crescer com Ele junto a mim. Mas este acontecimento que é festejado num dia simbólico, e que é de tal modo importante que marcou a história de toda a Humanidade, é “esquecido” dias depois, e quase abafado por outras festividades que se impõem. – olhou para mim, que o fixava com interesse e prosseguiu:
- Não estou a dizer que não se deve festejar a passagem do Ano, mas penso que tudo deve ser feito com peso e medida, nada de exageros nem de ilusões. Por exemplo, hás-de reparar que a maioria das pessoas quando lhes perguntas o que esperam do novo ano, as respostas mais comuns, serão os desejos, as ambições, os projectos. Tudo coisas grandes e ambiciosas, muitas vezes ilusórias e pouco credíveis. E depois quando lhes voltares a questionar a meio do ano, irás reparar que tudo aquilo em que se iriam aplicar no início do ano, tudo aquilo a que se propuseram, já muitas nem se recordam, e outras tristemente não conseguiram realizar.
Olhou para mim à espera que eu comentasse, e eu respondi-lhe com vergonha:
- Pois isso já me aconteceu muitas vezes, olhar para o novo ano com esperança, e traçar projectos, ter imensos desejos e ambições que na maior parte das vezes nem realizo e que muitas vezes nem consigo perceber porquê.
Ele sorriu-me. Percebia-me perfeitamente e disse-me:
- Há uns anos isso também me acontecia, até ao dia em que um Padre me disse para fazer tudo com calma e seguir a regra dos três Pês. Esta regra consiste basicamente em três palavras: Poucos, Pequenos e Possíveis. E eu aplico-a por exemplo aos projectos que faço para o Novo Ano, faço Poucos projectos, para não me dispersar, Pequenos , que ao contrário do que muitas pensam não é o oposto de serem ambiciosos, e Possíveis de se realizar.
Mas os projectos que faço para o Novo Ano, só são escritos e ponderados após uma reflexão pessoal e muita oração sobre o Ano que passou.
Nessa Oração, faço sempre uma coisa que a minha Mãe me ensinou, e que me têm ajudado muito a crescer especialmente na minha Fé. Em vez de pedir os doze desejos, ao som das doze badaladas, escrevo as Doze Graças que dou ao Senhor pelo Ano que passou. Escrevo-as por Ele, porque ainda agora Nasceu em mim, e já tanto me deu.
Se soubesses o tão bem que me sabe, Entregar-Lhe a minha oração de Graças. É olhar para o ano que passou e Ver a mãozinha d´Ele presente na minha vida, é Ver com os Olhos d´Ele os acontecimentos do Ano, bons e menos bons, é um ponderar e crescer na Fé.

Espantada e pensativa fiquei o resto da tarde a falar com o Francisco. No final do dia, levou-me a casa, e lançou-me um desafio:
- Oh Teresa, e se este ano mudasses a tua passagem de ano por Ele?
Respondi-lhe perplexa:
- Que queres dizer com isso?
- E se fizesses uma oração de Graças ?- disse-me a sorrir.
Olhei para ele, e vi o Olhar de Cristo, a lançar-me um desafio, como que a perguntar-me se queria crescer com Ele na Fé.

Chegada a casa, tirei uma folha de papel branca do meu caderno. Lembrei-me do Francisco, das suas palavras, do seu sorriso, e sorri também.
Permaneci algum tempo parada a pensar. Ao contrário dos outros anos, não me apetecia escrever promessas e falsos propósitos.
Rezei, pedi-Lhe que me ajudasse a Olhar para o ano que tinha passado com os Seus Olhos.

Peguei na caneta e escrevi:

Oração de Graças pelo Ano que passou:

1- Obrigado Pai pela família que me deste, que me tem apoiado muito durante toda a minha vida, mas que me apoiou especialmente este ano, sem se queixar, mesmo quando eu passei momentos menos bons, em que só me apetecia desistir de tudo.

2- Obrigado Pai, pelos amigos que tenho, e pelos que ainda vou conhecer, que me tem feito crescer como Pessoa, como Mulher e como Cristã, pois na amizade que mantenho com cada um deles, é um elo que mantenho contigo, e uma maneira de Te revelares.

3- Obrigado Pai, pela oportunidade que me deste de iniciar o Mestrado, pela oportunidade de continuar a estudar, e de adquirir novos conhecimentos que é das coisas que mais gosto e das que menos valor dou.

4- Obrigado Pai, pela casa, pela comida, pela roupa, por tudo o que me rodeia, desde das pequenas coisas do dia a dia, como ter água quente ou roupa lavada, até às grandes coisas como ao carro que conduzo e ao sitio onde estudo, e que muitas vezes não dou valor, mas que me servem de muito e que já fazem parte da minha rotina, e sem estas, nada seria igual.

5- Obrigado Pai, pela oportunidade que me tens dado de Servir os meus irmãos no Hospital, e de conhecer outras vidas tão diferentes da minha, de lhes oferecer o Teu Amor, e de lhes dar um pouco de mim, que é para isso que eu estou aqui, para Te dar a conhecer, servindo os Outros e entregando cada momento a Ti, confiando e acreditando.

6- Obrigado Pai, pelas viagens que este ano fiz, que me abriram os horizontes e me fizeram crescer tanto e amadurecer em termos pessoais e profissionais.

7- Obrigado Pai, pelo António, que me ajudou muito nos momentos menos bons que passei ao longo deste ano, como quando chumbei aquele exame, pois sem ele, a minha motivação para estudar seria menor, e não teria corrido como sabes que correu.

8- Obrigado Pai, pelas ocasiões que me aconteceram, como o acidente de carro que sofri, a perna que parti, porque mesmo não sendo ocasiões das quais me goste de relembrar, sei que estiveste sempre presente e consigo ver as Tuas mãos a pegar-me ao colo quando me sentei no chão com vontade de chorar. Deste me o apoio e a força que precisei para dar a volta às situações menos boas, e mesmo não as compreendendo deste me a Fé para perceber que sem estas eu não saberia apreciar os momentos bons da vida, ou seja os momentos opostos aos que passei.

9- Obrigado Pai, por todos os momentos que passei ao longo do ano, e dos quais me relembro com um sorriso nos lábios, como a passagem do ano lectivo, a festa de anos do João, o jantar da Sofia, tudo momentos em que estiveste presente e me deste um grande abraço, obrigado por partilhares comigo estes momentos bons da vida, em que a Felicidade nos invade e envolve como o Teu Amor por cada um de nós.

10- Obrigado Pai, por todas as “coincidências “ da vida que este ano senti acontecerem, e pelas “voltas que a vida dá”, porque tantas vezes te peço uma coisa, e sei que o que me dás é sempre o melhor para mim. Tantas vezes olho para o que me deste e me queixo, sem ver que o que recebi era tão melhor, e mais adequado à minha pessoa do que o que eu pedi.

11- Obrigado Pai, pelo Francisco, porque sem Ele eu não estaria aqui a escrever-Te, e a agradecer por cada coisa que aconteceu ao longo deste ano, sem ele eu não teria a noção da sortuda que sou, e do quanto me tens dado, sem o Miguel, eu estaria agora a escrever mil pedidos, em vez de estar a agradecer o que me tens dado, porque é tão fácil pedir, e tão difícil agradecer. Obrigado por Te dares a conhecer através dele, e por o guiares com o Espírito Santo, dando a conhecer a Tua palavra e a Tua vontade.

12- Obrigado Pai, por estares sempre presente na minha vida, Obrigado pelo apoio que me tens dado, mas principalmente Obrigado pelo Teu Amor, que não compreendo, porque é algo que me envolve e me absorve de uma maneira única. Obrigado por me aceitares como eu sou, e me fazeres crescer na Fé. Obrigado


Dobrei a folha e rezei. Sentia-me tão profundamente agradecida, como é Bom dar Graças pelo que temos, porque tantas vezes não temos noção, não damos valor ao que Ele nos dá, não temos noção do que é ser sermos Filhos muito Amados.
Nesse momento pedi-Lhe que me desse força, para com o Espírito Santo, iniciar o Novo Ano com um grande balanço, um grande impulso para fazer tudo por Ele, envolvida no Seu Amor que esse é sempre Novo.

Sunday, December 24, 2006


Num dia tão especial como o de hoje, em que vai Nascer o Nosso Salvador, decidi ceder o meu lugar, a uma pessoa que gostava muito de ter conhecido pessoalmente. Deixo-vos aqui um texto, que gosto muito, da tão querida Madre Teresa de Calcutá:

Ele vem aí e quer amar-te

“Quero que saibas que cada vez que me convidas, eu venho sempre, sem falta. Venho em silêncio e de forma invisível, mas com um poder e um amor que não acabam.
Não há nada na tua vida que não tenha importância para mim. Sei o que existe no teu coração, conheço a tua solidão e todas as tuas feridas, as tuas rejeições e humilhações. Eu suportei tudo isto por causa de ti, para que pudesses partilhar a minha força e a minha vitória. Conheço, sobretudo, a tua necessidade de amor.
Nunca duvides da minha misericórdia, do meu desejo de te perdoar, do meu desejo de te bendizer e viver a minha vida em ti, e que te aceito sem me importar com o que tenhas feito. Se te sentes com pouco valor aos olhos do mundo, não importa. Não há ninguém que me interesse mais no mundo do que tu.
Confia em mim. Pede-me todos os dias que entre e que me encarregue da tua vida e eu o farei. A única coisa que te peço é que confies plenamente em mim. Eu farei o resto.
Tudo o que procuraste fora de mim só te deixou ainda mais vazio. Portanto, não te prendas às coisas passageiras. Mas, sobretudo, não te afastes de mim quando caíres. Vem a mim sem demora, porque quando me dás os teus pecados, dás-me a alegria de ser o teu Salvador. Não há nada que eu não possa perdoar.
Não importa o quanto tenhas andado sem rumo, não importa quantas vezes te esqueceste de mim, não importa quantas cruzes levas na tua vida.
Tu já experimentaste muitas coisas, no teu desejo de seres feliz. Porque é que não experimentas abrir-me o teu coração, agora mesmo, mais do que antes?”
Aproveito para vos deixar como presente de Natal, alguns blogs que recomendo que leiam, ou que dêem uma espreitadela, porque vale muito a pena:
www.portinhodeabrigo.blogspot.com é o blog da Xana, que nos serve de "abrigo" e onde encontramos uma boa amiga.
http://toquesdedeus.blogspot.com é o blog do Nuno Branco sj, que é Jesuita, e é sem dúvida dos Melhores blogs que existem, se não acreditarem dêem uma espreitadela, vale mesmo a pena,é tão bem escrito! E tem Deus presente em cada palavra.
www.jardimdeluz.blogspot.com é o blog da MC, que muitas vezes nos mostra a luz do caminho que nos leva ao Senhor.
www.esperaacreditaconfia.blogspot.com é um que considero fantástico, não por ser da minha querida amiga Inês, mas porque se derem uma espreitadela vão ver que tenho mesmo razão! Os pensamentos, textos, frases etc, que o enchem, envolvem-nos completamente como o Amor de Cristo!
www.sodeusbasta.blogspot.com é o blog de Dois Discípulos do Senhor que nos ajudam a compreender a Sua palavra.
www.fiat--lux.blogspot.com este é sem dúvida um blog muito bom, que vos aconselho a ir dar uma espreitadela. É da Nônô e da Sofia, e tem de tudo um pouco, dependendo dos dias, há dias em que nos faz pensar, dias em que nos faz rir, e dias em que nos faz Rezar.
www.espiritodivino.blogspot.com é um blog que vou muitas vezes para pensar, porque tem textos da "longe de ti" que apesar de muitas vezes serem partilhas pessoais, muitas vezes as dúvidas, os pensamentos etc de uns são também os meus.
www.queeaverdade.blogspot.com na minha mais sincera opinião é dos melhores blogs da blogosfera. O seu autor é o Joaquim, que através das suas Palavras nos transmite a Mensagem de Cristo.
www.almasemaspas.blogspot.com um blog que para minha grande pena só é escrito aos domingos, mas que vale mesmo a pena ir, porque os textos da MMaria, são verdadeiras obras-primas do Espirito Santo.
www.amar-tesomente.blogspot.com é o Blog do António Valerio sj, que é Jesuita, e partilha com todos os seus pensamentos. É um local óptimo para pensar e Crescer na Fé com a ajuda de Um Amigo do Senhor.
www.caminhandoaoencontro.blogspot.com é o blog de uma Catequista que partilha as experiências e vivências próprias de uma pessoa que ajuda e introduz muitas vezes outros na Fé Cristã.
www.deusemtudoesempre.blogspot.com é o blog da Maria João, que escreve muito bem e que nos transmite o Amor de Cristo de uma maneira especial através das suas palavras.
www.raparigadaaldeia.blogspot.com é o blog da Querida Gota de Chuva, que nos "molha " com a sua sabedoria, e nos faz pensar com a Graça do Espirito Santo no Amor de Cristo por cada um de nós.
www.parecianborrachos.blogspot.com , este é dos blogs que mais aconselho, por ser escrito por Jesuitas de vários países, que partilham experiências, orações, pensamentos e frases.
www.acreditarconfiarentregar.blogspot.com é o blog da Maria, que tantas vezes me põem a pensar, através dos seus textos que adoro.
www.euquecaminho.blogspot.com é o blog do Mike, que caminha como todos nós na Fé, e que nos vai fazendo rezar através dos seus textos e "obececações " . É um caminho que digo-vos vale muito a pena percorrer.
www.fidesintrepida.blogspot.com é o blog do Diogo, que escreve iluminado pelo Espirito Santo, e que nos põem a todos de boca aberta.
www.hajaoqhouver.blogspot.com é o blog do Zé Maria sj, que é Jesuita e escreve muito bem, faz parte do blog já referido anteriormente "parecian borrachos" e é das pessoas que mais me faz pensar em Cristo na nossa vida quotidiana.
www.pensarcristo.blogspot.com, é o blog do António e do Pedro, que eu considero meus amigos do Senhor, e que todos os dias nos dão a conhecer um bocadinho do caminho que percorremos juntos com Cristo, por Cristo e em Cristo.
www.entodoamaryservir.blogspot.com é o blog do Javier sj, que é um Jesuita espanhol, e que também faz parte do blog referido anteriormente "parecian borrachos". Leiam um bocadinho dos textos do Javier, porque depois já não vão conseguir parar de ler.
www.sonmishuellaselcamino.blogspot.com é o blog de outro caminhante, que nos ajuda a percorrer o Nosso Caminho com Cristo de uma maneira mais Cristã, fazendo nos Ver cada momentoda nossa vida com os Olhos de Cristo.
www.amorprimaveril.blogspot.com é o blog de dois amigos meus a Joana e o Pyny,que nos fazem rir e pensar no Amor que nos rodeia. Se estiverem num dia "não" dêem lá um saltinho para se rirem e verem o lado positivo das coisas, porque muitas vezes precisamos de uma gargalhada.
www.ilustrana.blogspot.com é o blog da Ana e que desenha maravilhosamente bem! Eu adoro cada um daqueles desenhos.

Saturday, December 23, 2006


Acabamos de Jantar, tal como nos anos anteriores, às dez e meia. A Inês foi para o quarto arranjar-se e eu fui arrumar a cozinha. Como sabia que ela ainda ia demorar, fui procurar os meus sapatos e engraxá-los.
Enquanto o fazia, pensava com o meu Espírito contente que daí a umas horas iria recebê-Lo, iria ao Seu encontro, iria estar com Ele. O meu coração encheu-se de felicidade e um sorriso esboçou-se na minha cara.

De seguida e como se fosse de propósito, Ela ligou-me, já não nos falávamos, à mais de três anos, muitos acharão isso impossível sendo ela minha irmã, mas na minha família sempre existiram discussões com demasiada frequência.
Olho para o telefone em silêncio, reconheço o número e penso:
- Porquê? Porquê hoje? - Deixo-o tocar, a Inês grita que o atenda, levanto-me e suavemente coloco o no meu ouvido. Já não ouvia a sua voz há tanto tempo, fala desalmadamente, quer que me encontre com ela rapidamente, pergunta-me onde vou, a que Missa, quer me abraçar, sente-se mal, precisa de mim.
Na minha cabeça mesquinha muitas perguntas se formulam, e a nossa discussão? E tudo o que te disse? E todas as palavras que me magoaram e que te magoaram? Tudo parecia ter inexistido, somente o Amor Por Ele nos uniu.
Ouvi-a durante mais de meia hora, e senti que não queria estar comigo para se sentir bem consigo mesma, nem queria estar comigo para O agradar, queria estar comigo, porque achava que como irmãos que somos, devíamos aproveitar o Nascimento de Deus para irmos ao Seu encontro juntos e ajoelharmo-nos perante Ele, sem ressentimentos, sem dores, sem tristezas.
Combinamos encontramo-nos depois da Missa, visto que a nossa conversa já se tinha prolongado bastante.

Desliguei o telefone meio alunado, teria sido um sonho? Duas lágrimas surgiram nos meus olhos, não sabia que Lhe Agradecer, se pelo o facto de Ele me ter perdoado, ou se pelo facto de me ter feito perdoar, porque ambas eram coisas tão difíceis.

-Quem era Luís? – Perguntou-me a Inês, espantada com a minha cara.
-Era a Ana, vamos ter com ela depois da Missa, pode ser? Precisamos de lhe falar - disse-lhe.

Lá fomos nós para a Missa, uma das Missas mais bonitas do Ano, receber o Menino que tinha nascido, e no final da noite, estivemos com a minha irmã que nos recebeu como Ele de braços abertos.

Chegamos a casa cansados, a Inês foi se deitar , e eu fui rezar, precisava de Lhe falar e de perceber o que tinha sido “aquilo” e o porquê deste acontecimento. Eu sei que não há coincidências, tudo acontece por uma razão de ser, porque Ele quer, porque é a Sua Vontade.
Rezei sobre o assunto com Ele ao meu lado. E já estava tão cansado que quase adormeci, nem sei se cheguei a fazê-lo mas Vi algo, imaginei que me contavam uma história , o que quer que seja que aconteceu foi especial, e sei que teve a Sua Mão.

Todo aquele sonho, começava na noite em que me encontrava, recuava apenas algumas horas, eu e a Inês iríamos a casa dos meus Tios dar e receber presentes. A Inês iria querer levar o Vinho, e alguns doces típicos, assim que saiu mais cedo para ir a casa do António, seu irmão, buscar o que tinha preparado. Fiquei sozinho a embrulhar os últimos presentes, a riscar nomes da lista, a fazer o que menos gostava mas que era necessário. Ouvi bater à porta, pensei ser a Inês, porque distraída como era esquecia-se sempre da chave em cima da cómoda, irritado levantei-me e abri a porta, e dei com uma Senhora Grávida à minha frente. Suada e cansada, com a roupa gasta a pobre senhora apareceu à minha frente. Nada me disse, e eu olhava-A desconfiado, porque me bateu à porta esta Mulher ?, Perguntei-Lhe se queria alguma coisa, se precisava de ajudava, e apeteceu-me fechar-Lhe a porta na cara ao ver que nada me dizia. Eu tinha tanto que fazer, tantos presentes para embrulhar, tantas pessoas a quem ligar, e ainda “perdia” tempo com uma Mulher grávida a esta hora?
Foi então que ela falou. Docemente me disse:
-Ele vai nascer, preciso que me deixes entrar.

Fiquei em pânico, pensei em ligar a algum hospital, ou falar com a Inês, que poderia eu fazer?

Calmamente entrou, e sentou-se numa cadeira a meu lado, fui Lhe buscar água e comida, perguntei-Lhe se queria ligar a alguém, mas Ela continuava calma e calada. Após algum tempo a minha exaltação parou, e reconheci-Lhe o Olhar. Ela sorriu e disse:
- Obrigado Luís, por nos receberes, agora Ele já pode nascer no Teu coração porque me acolheste, Confia N´Ele porque mesmo sendo tão pequenino e frágil vai encher o Teu coração de ternura.

Acordei, ou melhor voltei onde estava e sorri-Lhe, e percebi, parecia tudo tão claro.
Ele veio ao meu encontro, eu acolhi-O, e a minha irmã, oh a minha querida irmã, quis que eu fosse com Ela recebê-Lo, porque juntos iríamos receber o Seu Amor como Ele queria que fossemos, de mãos dadas, abrindo a porta a Maria para que O tivesse ao nosso lado, para que ambos o Abraçássemos e abraçássemos também o Seu Amor.

Fui me deitar, beijei a Inês na testa e agradeci-Lhe pelo Dia, estava desejoso de falar com a minha irmã, precisava tanto de lhe falar e de lhe agradecer por se ter deixado guiar pelo Espírito Santo.

Nesse dia percebi que o que aos nossos olhos muitas vezes parece impossível, não o é aos Olhos de Deus, como era a minha zanga com a minha irmã, que eu achava irreconciliável. Lembrei-me de Madre Teresa de Calcutá: “ É fácil amar os que estão longe, mas nem sempre é fácil amar os que estão a nosso lado “.
Também percebi que não vivemos de Pão e água, de poder e de consumismo, mas vivemos apenas do Amor de Deus, porque este nos enche por dentro, nos envolve, e só este nos torna capazes de sermos quem somos. Porque sem Ele, nada sou, pois Ele é o centro da minha vida

Wednesday, December 20, 2006


Desta vez resolvi ceder o meu lugar a uma pessoa que escreve muito bem e por quem tenho uma grande admiração. Deixo-vos aqui o Conto de Natal, escrito no dia 18 de Dezembro de 2006 no DN pelo Prof. João César das Neves:

"Zacarias quase deslocou o ombro, empurrado pelas escadas do Templo no meio do tumulto. Além de arruinado, quando todas as suas pombas voaram para longe, fora espezinhado. Tudo isto por causa da fúria daquele estranho Nazareno, que espantara animais, derrubara mesas e espalhara o dinheiro. O vendedor de pombas até simpatizava com Ele, mas agora ficou furioso.Estava mesmo farto desta mania dos Messias! Costumava dizer que essas conversas eram boas para o negócio, mas com a destruição dessa tarde mudara de ideias. À medida que os anos avançavam, até as profecias iam ficando mais violentas... Que tempos estes!Ele conhecia como ninguém a influência dessa tradição. Lembrava-se bem de a presenciar logo nos primeiros dias do seu negócio no Templo, quando ainda era um rapazola inexperiente. Dessa vez fora por causa de um bebé apresentado aos sacerdotes. O velho Simeão, que todos por ali conheciam bem, fizera um enorme barulho, dizendo que o Messias tinha chegado. Na altura Zacarias, na sua juventude ingénua, ainda acreditara que alguma coisa iria suceder. Mas claro que nada aconteceu.Depois durante uns anos as profecias acerca do Messias estiveram calmas. Ouvia-se falar de revoltas, mas longe do Templo. Ele só se lembrava da comoção à volta de um estranho rapazinho e das suas perguntas aos doutores da Lei. Nunca ninguém soube quem era, mas falou-se disso durante anos. Agora, quando já toda a gente quase se esquecera das profecias, vinha este nortenho criar problemas.Será que Zacarias acreditava realmente que o Messias um dia viria? Muitas vezes fizera a si mesmo esta pergunta. Estava convencido que sim, que acreditava. O seu melhor amigo, o cambista José, costumava dizer que havia mais incrédulos entre os sacerdotes que entre os mercadores. Mas a questão decisiva, a que não conseguia dar resposta, era se teria coragem, quando Ele chegasse, para deixar tudo e segui-Lo. Para um rico era muito difícil fazer essas coisas.Ao menos, pensou meditativo, esse obstáculo fora eliminado: ele agora era pobre. Zacarias, esfregando o ombro, ia coxeando por ali, avaliando os estragos e ouvindo as conversas indignadas. Então viu João. Apesar de ser também nazareno e discípulo do profeta, pertencia a famílias influentes em Jerusalém e até era conhecido do Sumo Sacerdote. Zacarias, que nada tinha a perder, decidiu pedir-lhe explicações. João respondeu citando um salmo: "O zelo da Tua casa devora-me" (Sl 69,10).Então Zacarias repetiu a justificação que tantas vezes ensaiara para si mesmo. Os mercadores exerciam uma tarefa necessária e útil. Sem eles como haveria culto e sacrifícios no Templo? Estes visionários arruaceiros, com os seus sonhos e irritações, não percebiam nada da verdadeira religião! João limitou-se a murmurar o que todos tinham ouvido durante o tumulto: "Está escrito: a minha casa há-de chamar-se casa de oração (Is 56, 7), mas vós fazeis dela um covil de ladrões."Ficaram ambos em silêncio alguns segundos. Então João disse: "Sabias que hoje é o dia do Seu aniversário? Não é curioso que tenha feito uma coisa destas na sua celebração natalícia?" Zacarias não respondeu. João continuou: "Provavelmente antevê o que os mercadores farão, um dia, da festa do seu nascimento, como hoje fazem de todas as festas. Vocês transformam em negócio as coisas mais sagradas!" Depois acrescentou: "Que mais saberá Ele acerca da celebração futura do seu aniversário?"Nesse momento passou por ali um grupinho de crianças, que se divertiam a correr atrás dos animais fugidos. Eles gritavam: "Hossana ao Filho de David." Então os Sumo Sacerdotes e os doutores da Lei ficaram indignados e disseram: "Ouves o que eles dizem?" Respondeu-lhes Jesus: "Sim. Nunca lestes: 'Da boca dos pequeninos e das crianças de peito fizeste sair o louvor perfeito?' (Sl 8, 3)."Ao ouvir estas palavras, Zacarias teve um um sobressalto. Lembrou-se da frase que sempre mais o perturbara, o último versículo do livro do profeta Zacarias: "Naquele dia, já não haverá mais comerciantes no templo do Senhor do universo" (Zc 14, 21). Há muito que esta antevisão do seu homónimo o tinha incomodado na sua profissão. José, sabendo desta perturbação, costumava assegurar-lhe a rir que tirar os mercadores do Templo era impossível. Mas agora a profecia do dia do Senhor estava bem à vista. O Messias chegara!"Então aproximaram-se d'Ele, no Templo, cegos e coxos, e Ele curou-os." (Mt 21, 14). Era Natal. "

Tuesday, December 19, 2006

Uma coisa diferente:
-A Malu começou e pediu que a Xana, continuasse e depois passasse:

-Há uma estrela no Céu
A brilhar o meu caminho:
Jesus Cristo que nasceu
Num lugar tão pobrezinho.

-Esta pequena bola azul
Vai tomar o seu lugar
Levar-nos a Norte ou a Sul
Onde O formos encontrar!

-De Blog em Blog vai passar
Levando consigo esta canção
Para cada um lhe juntar
Um pedaço do seu coração.

-Xana, agora é contigo
Que Jesus quer brincar,
Apanha a bola, vou-ta chutar

A Xana continuou e passou para o Joaquim:
-Que bom é dizer:”Jesus,
Contigo eu quero brincar!
”Dás-me tanto Dessa Luz,
estendo as mãos pr’á agarrar!”

Que bom é depois passar
Essa Luz a um amigo
e dizer-lhe, a cantar,
“Toma, Jesus tá contigo!”

Vejo amigos em redor
tão importantes pr’a mim
"Vou passar-Te, meu Senhor
para o Bom Joaquim.

-Que bom é passar-Te assim
E Tu sorris, adoras isto!
"Abre os braços, Joaquim,
sente Aquele abraço em Cristo!

-O Joaquim continuou e passou para quem está escrito no fim:

Recebo-Te assim, Jesus,
Bem dentro do coração
O Teu amor me conduz
Vem dá-me a Tua mão.

-Quero brincar e saltar
Com a bolinha, Senhor,
Amar, amar, só amar
Viver sempre do Teu amor.

-Ser Santo como Tu,
Como o Espírito quiser,
Com a Xana e a Malu,
E quem connosco vier.

-Tenho que Te dar, Senhor,
É para isso que eu existo,
Passar-Te ao Pedro, ao António,
Pra que brilhes no Pensar Cristo.
-Refrão:Este blog tem uma bolinha azul,ó tem, tem, tem......
António, Pedro, agora recebei-O e enchei o Pensar Cristo da Sua presença, como sempre fazeis.

-Felizes por ter brinquedo,
Com esta bolinha brincarás!
Obrigado meu bom Jesus
Pelos amigos que nos dás!

-Da Malu que inventou o jogo
À Xana que o jogou,
Logo vem o Joaquim
Que a bola nos passou!
-Todos são bons amigos,
Por seguirem esta Luz...
Muito carinho deles sentimos,
Neste Caminho que nos seduz...

-Este blog tem uma bolinha azul,ó tem, tem, tem......

-Querida Gota de Chuva,
Nossa boa companheira:
toma a bola que te mandamos,
entra nesta brincadeira!

-Um beijinho às amigas
E um abraço aos senhores,
Nesta quadra nos despedimos,
num sorriso de mil cores!!!
-Refrão:Este blog tem uma bolinha azul,ó tem, tem, tem......
-Gota de Chuva, agarra esta simpática bola azul! E abraça-a no Amor de Cristo, como fazes connosco! Com um bei-jo-
Numa bola Te embrulharam
E És o maior presente
Até na cor acertaram:
o azul deixa-me contente ;)

Vejo na bola o mundo,
e Senhor, vejo-Te no centro
Em cada nosso passo, curto ou longo,
Que estejas sempre bem dentro

Por Ti, nossos caminhos se haviam de cruzar
E agora neste Natal
Sabe tão bem fazer equipa e jogar
Com esta família de amigos virtual

Dos queridos PBP e AVC, a bola me foi enviada
E como queremos a estória continuar,
segue agora numa grande jogada
para a linda Joana também Te agarrar

J, passo-te esta bola com um beijinho e muito carinho, e sei que lhe vais dar o melhor caminho. ;)
Refrão:Este blog tem uma bolinha azul,ó tem, tem, tem......

Agarrei esta bolinha
Com ambas as mãos
Foi o presente de uma amiguinha
Que guardei no coração

Tudo começou na Malu
Que quis Dá-Lo a conhecer
Logo outros se seguiram
Para O receber

Gostava de puder contar tudo aquilo que Ele me diz
Mas o tempo é tão pouco e eu tenho que O Dar a Outro
Assim que o melhor que vos posso dizer
É que o seu Amor por nós, é o que nos faz “mexer”

Agora esta bolinha vai continuar o seu caminho
Vou passá-La à Maria João
Que tem um grande coração
Para Lhe dar um beijinho

Refrão:Este blog tem uma bolinha azul,ó tem, tem, tem......

Maria João, que tens um grande coração
Esta bolinha é para partilhar
porque o que é bom é Dar
Espero que O recebas com um grande abração.

Maria João, passo-te a bolinha com um grande beijinho, para que Partilhes com Outros, o Amor d´Ele por cada um de nós.

Saturday, December 16, 2006


Há dias em que me custa mais levantar da cama. O despertador toca, e eu nem o oiço, ou desligo-o sem dar por isso. Dias em que olho à minha volta, e a torrada com manteiga derretida não me sabe a nada, a roupa quente causa-me desconforto, e o beijo doce dela passa-me despercebido.
Dias em que me irrito por tudo e por nada, em que olho à minha volta e só vejo negativismo, e o pior é que me deixo envolver por ele.

Estive recentemente num desses dias, era uma segunda-feira, acordei indisposto, desliguei o despertador, deixei-me dormir. Tomei um óptimo pequeno almoço, mas a correr, dei-lhe o beijo do costume, e fui trabalhar. Apanhei trânsito, irritei-me, cheguei atrasado, chateei-me com colegas, gritei com empregados, almocei rapidamente, trabalhei sozinho durante toda a tarde, cheguei a casa cansado e triste, tinha passado um dia a correr e do qual não recordava nada de bom. O negativismo apoderou-se de mim, o desespero invadiu-me, há muitos dias assim, dias em que não sinto tanto a presença d´Ele, em que não O procuro, não O vejo, e não O sinto.
Dias em que não dou valor aquilo que Ele me dá, em que acordo de manhã e nem o cumprimento, em que não Lhe agradeço pelos alimentos que me oferece, em que não penso na importância daquele suave beijo, em que olho à minha volta e não vejo com os Olhos d ´Ele. Dias em que sou puramente pecador, em que me deixo invadir por medos e receios, em que me inibo, em que me fecho no meu mundinho, e me acho melhor que os outros, dias em que “atropelo” pessoas com o meu egoísmo, e magoo outras com a minha arrogância, dias em que abafo o optimismo e não Oiço a Sua Voz, porque só quero ouvir a minha e não deixo que o silêncio se faça, e no meio deste Ele se revele.

Nesses dias, paro por momentos e rezo.
Rezo muito, porque sei que preciso de Lhe falar, penso no que fiz, e peço-Lhe perdão, e dou-Lhe graças por tudo. Nessa altura, olho para o dia que passou e Vejo realmente a Sua presença, escondida, simples, e discreta na minha vida. Vejo o Seu Olhar, na senhora que me estendeu a mão a pedir ajuda junto ao banco, o Seu Sorriso no Senhor que me vendeu o jornal, a Sua bondade no meu colega, a Sua Sinceridade na minha mulher.

Rio-me com Ele dos meus comportamentos, peço-Lhe perdão pelas minhas fraquezas, e pelos meus defeitos, e vou apreendendo com Ele a caminhar aceitando as minhas limitações.

Nesses dias em que tudo corre menos bem, janto sossegado, por Lhe ter falado. E olho à minha volta com um novo Olhar, deixando-me guiar pelos Seus Olhos, pois nessa altura, já sou outro, porque em vez de ver defeitos e fraquezas, em vez de me deixar invadir pelo negativismo, deixo-me invadir pelo seu Amor.
E o meu olhar fica mais próximo da Verdade, e então tudo me é mais claro. Vejo realmente as qualidades que Ele nos deu, olho à minha volta e observo os que as põem a render, fico tão contente quando as encontro! A Bondade, a Humildade, a Sinceridade, o Amor, a Entrega, o Serviço, a Simpatia, o Altruísmo, o Empenho, o Respeito, a Generosidade, a Alegria, a Simplicidade, a Criatividade, e tantos outros. Que Deus, Nosso Pai, nos deu, e nos deixa usar. Mas essas qualidades, também se pedem, e se acolhem, porque não as temos todas, e só Ele nos dá esses Dons, como marcas do Seu Amor por nós.
E adormeço, agradeçendo-Lhe pelos talentos, que nos ofereceu, sabendo que no dia seguinte tudo será diferente porque irei apenas observar as qualidades que me fazem apreciar cada vez mais as pessoas. E o meu dia será fantástico, porque quando O deixamos estar ao nosso lado, e fazer parte do nosso dia, este corre sempre melhor.

Monday, December 11, 2006


Cheguei à porta de casa, rodei a chave lentamente, entrei. Pousei os sacos no chão e arrastei-me até ao quarto.
Sentei-me na beira da cama, e chorei em silêncio, chorei como já não me lembrava de chorar há muito tempo.
Mesmo sendo um choro silencioso, Ela ouviu e caminhou em pequenos passos até mim, apareceu ao meu lado e perguntou-me:
- Que se passa Joaquim?
Continuando a olhar para o chão, respondi-lhe:
-Estou triste. – E pus as mãos na cara.
Acariciou-me a cabeça, deu-me um doce beijo na testa e insistiu:
- Mas que se passa Joaquim? Que te perturba?
Demorei algum tempo a responder-lhe e no meio dos soluços disse-lhe:
- O mais estranho e estúpido é que não se passa nada.
-Joaquim, se não se passasse nada não estarias aqui a chorar…- respondeu-me com ternura.
- eu sei, mas – parei por momentos de falar, limpei as lágrimas que me enchiam o rosto com a palma das mãos e continuei – não aconteceu nada de diferente, foi um dia igual a todos os outros, acordei e fui para o Hospital fazer voluntariado, brinquei com os miúdos, li histórias, cantei, fizemos pinturas, corri com eles por entre as macas com os seus grandes companheiros a perseguirem-nos ou seja “ o soro “, e no meio de toda aquela brincadeira, igual às brincadeiras de tantos outros dias, encontrei uma menina que me fez pensar.
Senti a sua mão pousada no meu ombro, como que a incentivar-me a continuar, e fiz-lhe a vontade:
- Chama-se Bianca, não tem mais de um ano, estava na sua cama a brincar quando eu apareci, as enfermeiras disseram-me para ter cuidado, que era uma menina “ especial”, filha de uma senhora de alterne com HIV, tinha fibrose quistica* e tinha sido abandonada, estava ao encargo da santa casa da misericórdia. Não deixava ninguém tocar-lhe, e mordia com facilidade, era uma criança com um olhar triste.
Aproximei-me lentamente da sua cama, ao início estranhou e lançou-me um olhar furiosa, deitei-lhe a língua de fora, fiz montes de palhaçadas e ela continuava sem ceder, entretida num canto olhava para a parede e ignorava-me.
Continuei a fitá-la, fiz-lhe cócegas, escondi-me, mas nada, ela simplesmente nem olhava para mim.
Então, e apesar do olhar desconfiado das enfermeiras, agarrei-a por trás e coloquei-a rapidamente às minhas cavalitas, sentei-me no chão e finge que era um cavalo, percorri toda a sala com ela em cima de mim, a fazer as figuras mais ridículas de sempre, mas continuei, porque ouvi a sua gargalhada surgir, e após esta muitas outras surgiram, deitei-a na cama e beijei-lhe a barriga fiz-lhe cócegas com ela a ver, abracei-a, “atirei-a “ ao ar, pu-la ao meu colo, andei com ela por todo o lado, durante mais de duas horas, e as suas gargalhadas soaram por todo o corredor. As enfermeiras estavam de tal maneira chocadas que me pediram para lhe dar o jantar. Dei-lhe como se fosse minha filha, com muitos “ aviões “ e “barquinhos “ de colher à mistura, e apesar de ter ficado cheia de nódoas comeu tudo. E no fim adormeceu no meu colo, com um sorriso nos lábios e com a cabeça no meu ombro. Pousei a na cama e sai, não queria perturbar o sono daquele pequeno anjo.
Nesse momento parei e chorei.
- Porque choras? Não vejo motivo para chorares…- respondeu-me.
Ainda com lágrimas nos olhos respondi-lhe:
- Choro porque ao pousá-la na cama e vê-la sorrir senti um vazio dentro de mim, como se me tivessem tirado algo. Sai do hospital logo a seguir caminhei para o metro, e as lágrimas corriam me pela cara como se tivesse perdido alguém. Chorei de pena por aquela menina, porque sei que vai acordar sem ninguém ao seu lado, porque sei que é triste a situação que vive, porque olho para ela e sinto me mal, por ter a vida que tenho por me queixar tanto, quando comparado com ela nada me tenho a queixar.
Choro porque gostava de puder fazer algo por ela, e sei que nada posso fazer, choro porque como ela à milhares, choro porque me senti triste ao vê-la feliz, porque sei que não o é, porque vi nos seus olhos o reflexo da tristeza, porque sei que é uma pessoa doente e que dificilmente vai ser adoptada.
Tirou-me as mãos da cara e fez-me olha-la nos olhos, nesse momento sem que eu pudesse dizer algo mais respondeu:
- Não chores Joaquim, como ela à muitos mais nisso tens razão, mas vê o lado positivo das coisas apesar de não ter família ao menos deram-lhe a oportunidade de nascer, apesar de estar doente e de puder não vir a ser adoptada teve direito ao dom da vida, apesar de acordar e de não estares ao seu lado Ele estará sempre com ela e tu irás vê-la de vez em quando, e apesar de estar triste com o Amor que tu lhe dás irá passar a estar feliz. Sentes te mal por teres a vida que tens, por te sentires um sortudo em relação a ela, então torna-a sortuda e ajuda-a estando ao seu lado e apoiando-a, dá-lhe aquilo eu és, como hoje fizeste.
Podes te sentir triste e impotente face à situação dela, podes achar que fizeste tão pouco mas fizeste muito, sabes o que te diria a minha amiga Madre Teresa de Calcutá? – e sem que eu pudesse responder continuou: - “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar.
Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.” – Parou por momentos e prosseguiu:
- Vais ver que tudo se vai resolver, confia N´Ele, mesmo que não percebas, dar-lhe-ás o Seu Amor porque só este basta. Reza por ela Joaquim, para que cresça n Graça de Deus pede-lhe por ela, porque Ele diz “ pedi e recebereis “ e agradece, agradece por tudo o que Ele te dá.

Nesse momento olhei-a nos olhos e soube que era Maria, a minha mãe , que me falava, e abracei-a. Beijou-me a cara e sussurrou-me:
-Confia n´ Ele para que Seja feita a Sua vontade.

* doença genética, que provoca problemas digestivos graves e respiratórios, a esperança média de vida ronda os trinta anos.

Sunday, December 10, 2006


Chovia imenso como em qualquer dia de Inverno, entrei na sala encharcada e atrasada.
Sentei-me onde calhou, pousei as coisas e apontei tudo o que tinha perdido, como maneira de recuperar o tempo que tinha passado.
Dez minutos depois de ter entrado na sala, deram-me um bilhete simples de papel amarrotado, arrancado com desespero de um caderno. Abri-o com uma enorme surpresa. Estavam apenas duas linhas escritas com uma letra grossa e borrada:

Estou grávida
Espera por mim no fim da aula.

Não sabia que dizer, para um bilhete dizia demasiado. Eu era nova na turma por isso fiquei supreendida por alguém vir ter comigo, visto que eu conhecia mal as pessoas que me rodeavam, só falara com duas ou três , só entrava para ter duas aulas e ia para casa estudar.
Olhei à minha volta, para ver se conseguia detectar algum nervosismo no ar, alguém a olhar para mim, ou um sorriso triste. Mas ninguém olhou para mim, perguntei à pessoa que me deu o bilhete quem lhe tinha dado, e ela disse que lhe tinham posto na mochila e tinha o meu nome no verso.

A aula passou lentamente, não consegui parar de pensar na pessoa que precisava de falar comigo.
Esperei no meu lugar que alguém viesse ter comigo, o intervalo já estava a meio quando ela apareceu.
Era a rapariga mais popular daquela turma, magra e alta, cabelo arranjado como se viesse de uma festa, maneira de vestir arrojada. Corada e nitidamente preocupada sentou-se ao meu lado. Conhecia a de “olá e adeus” já tínhamos falado pelo menos três vezes mas todavia não éramos amigas.
Perguntei-lhe:
- Porque vieste ter comigo? o que escreveste é verdade ?- respondeu-me logo de seguida.
- Eu sei que não me conheces muito bem , mas sei que és das únicas pessoas que me podes ajudar.
- Que posso fazer por ti? – perguntei surpreendida. Parecia uma história de loucos, ela mal me conhece, e ainda quer que eu a ajude - Pensei.
-Acho que estou grávida, que posso fazer para sabê-lo? – perguntou.
- Vai à farmácia e faz o teste de gravidez - respondi naturalmente.
Respirou fundo e disse-me:
- Ninguém sabe disto...
- Eu sei que não tenho nada haver com isso – disse e continuei- mas, tens que me contar mais ou menos as coisas, não quero pormenores, é que se não me contares eu não sei do que estás a falar…
- Não me aparece à dois meses – respondeu
- Isso não quer dizer que estejas grávida- ripostei.
- Não mas … dormi com uma pessoa . – disse–me
- É teu namorado?
- Não.
- Então dormes com uma pessoa que nem namoras? – perguntei chocada.
- Bem íamos andar…
- Não te percebo mas a tua intimidade é algo que deixas que todos tenham acesso?
- Não mas íamos andar… - respondeu me secamente
- Sim claro… usaste algum método contraceptivo?
- Não….
- Não??! Mas vives em que século? Sabes a quantida de doenças que podes apanhar? – perguntei mais que chocada.
- Eu estava bêbada e ele também.
- Ainda para mais… desculpa mas vocês são uns irresponsáveis! - disse-lhe irritada.
- Eu sei, mas não volta a acontecer.- respondeu me e olhou para mim em desespero, eu sem saber o que lhe dizer respondi:
- Vai fazer o teste e depois diz me qualquer coisa, manda me uma mensagem, tens aqui o meu número.- respondi chateada pelas respostas que me tinha dado.
- Por favor não digas a ninguém.- sussurrou.
- Claro que não.- respondi

Sai da sala a pensar. Caminhava no meio das poças quando me lembrei d ´Ele.
Falei com Ele e disse-lhe:
-Eu sei que não sou ninguém para a julgar , mas há o minimo ... Sabes como eu sou em relação a essas coisas cada vez acho que as pessoas tem menos valores, não tem princípios, desde quando é que se dorme bêbada com alguém que mal se conhce?
E no instante em que O questionei lembrei-me da frase:
" Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra" Jo 8, 1-11
Soube então que não a devia julgar, quem era eu para a julgar? Eu que era tão pecadora ou mais que ela? Os pecados não são mensuráveis.

As questões surgiam na minha cabeça, tinha tanto em que pensar. Porque é que me contou tudo isto? Será que queria falar com Ele e não comigo?
Pedi-Lhe perdão por a ter julgado mesmo que inconscientemente, porque devia era falar com ela e tentar perceber o que se passava e o que podia fazer para ajudá-la, tal como Ele faria no meu lugar.

Nessa mesma tarde, recebi uma mensagem, dizia que o teste tinha dado positivo. Liguei-lhe, choramingava. Tentei acalma-la e dizer lhe que devia contar aos pais, recusava-se a fazê-lo visto que os pais achavam que ela era uma miúda de dezoito anos típica, que saia à noite com amigos, que se vestia bem, e que nunca tinha tido namorado.
Como podia ela dizer aos pais, que esta já não era a primeira vez que fazia o que tinha feito? Como podia dizer aos pais que estava grávida de um rapaz bastante mais velho e que estavam bêbados naquela noite? Ela que os pais julgavam que nunca bebia… Fiquei perplexa, será que aqueles pais conheciam a filha que tinham?
Pedi-lhe que nos encontrássemos, mas ela queria ir ter com o pai da criança que tinha no ventre, o que era compreensível.

Rezei muito naquela noite, pedi-Lhe que me ajudasse a falar-lhe como Ele me fala.
Pedi-Lhe que estivesse com ela, que a fizesse confiar n´Ele, e que tomasse a decisão certa, receava que ela fosse pelo o caminho mais fácil, que eu sabia não ser o caminho certo para aquele bebé.
Lembrei-me de Maria, e das suas palavras ao Anjo: " Eis a Serva do Senhor, faça-se em mim Segundo a Tua Palavra" Lc 1 38-39, e pedi-Lhe, que lhe desse a força para confiar N´Ele como Maria, sem medos, aceitando a vida daquele bébé.

No dia seguinte encontrei a na escola, com o ar mais natural do mundo fumava o quarto cigarro às dez para as oito da manhã. Fez-me sinal para não falar sobre nada, e ouvi a sua conversa banal com as amigas de longa data.
Senti-me estranha ao observá-las, saberia alguém que ela tinha um bebé dentro de si?
No fim das aulas falei com ela, expliquei-lhe o que achava, disse lhe o que Ele me dizia, e depois de muito falar ela respondeu-me:
- Não posso. Nem quero. Eu sei que tens razão fui uma irresponsável, mas se eu o tiver agora tenho a vida estragada. Além disso os meus pais não sabem nem sonham, nem podem saber!
Fiquei furiosa, ela queria fazer um aborto, discuti, tentei persuadi-la, mas nada… ela já tinha tomado a decisão.
- E o que acha o Pai da criança? – disse-lhe eu.
- Ele diz que eu é que sei, a barriga é minha, além disso, isto ainda nem é um bébé- disse e continuou - hoje vou a um ginecologista, depois logo vejo quando o faço.
Ainda tentei explicar-lhe porque é que não o devia fazer, mas já nem me ouvia, falei-lhe de associações que lhe podiam ajudar, pedi-lhe para ao menos falar com algum familiar, abanava a cabeça e já decidida disse-me:
- Não o quero, para mim isto não é um bébé, não percebes? Não é nada! - disse -me irritada.
Triste e desolada, caminhei para casa tropeçando nas minhas próprias lágrimas de fraqueza como é que se pode dizer que não a um filho? Para mim a vida é um dom de Deus e mesmo que não fosse desejado ou esperado, eu dava-lhe a oportunidade de viver, continuei a pensar no que faria eu na situação dela e tive a certeza que tinha aquele bébé, sim porque para mim já era um bébé, embora pequenino, embora ainda não passasse de um embrião, mas todos já fomos embriões faz parte do nosso crescimento enquanto humanos. Se não fosse um bébé então ela não estaria grávida estaria doente ou algo do género, mas a palavra grávida significa estar à espera de bébé. Pedi-Lhe perdão por não ter sido capaz de a ajudar, perguntei-Lhe que devia fazer, ligar aos pais dela e avisar? Mas eu nem tinha o seu número de casa! Falar com amigas? Mas ninguém me conhecia e achei que não era correcto espalhar algo tão intimo só para a “obrigar”a pensar.

Os dias passaram e eu rezei por aquele bebé, várias vezes discuti com ela aquele assunto, mas ela não nunca cedeu. Foi ao ginecologista e este deu-lhe o contacto de uma clínica em Espanha, três semanas depois, foi a essa clínica com o Pai da criança e duas amigas, disse aos pais que ia passar o fim de semana a casa da melhor amiga. O aborto foi assim feito, já ela estava grávida de três meses, por aspiração.

Quando regressou, veio ao meu encontro, eu nada lhe tinha perguntado, mas ela disse-me que antes de o fazer já não queria, porque tinha medo, mas que a agarraram e o fizeram, e segundo ela “ ainda bem que assim foi”, depois foi encaminhada para uma psicóloga, que lhe disse para não se dar com pessoas como eu, que era assim que ficava traumatizada.

Cheguei a casa desfeita, não tinha sido capaz, porquê? Questionei? a única altura que podia ter “salvo “ um bebé não o fiz, chorei de dor, e de tristeza. Só pensava naquele bebé, que já era um bebé, e que mesmo sendo tão pequenino merecia viver, mas que não o deixaram...

Senti o seu abraço envolver-me com Amor, disse-me que eu tinha feito tudo o que podia, que a culpa não era minha, que a decisão de o fazer não tinha sido minha e que rezasse não só pelo bebé mas também por aquele rapariga.

Rezar por ela? Ela que o matou, ela que é egoísta e que só faz disparates e que não assume o que faz? Ela que foi ao meu encontro para no fundo dizer me que vai fazer um aborto e que eu nada posso fazer para a impedir?

Sim por ela, porque ela precisa, que o Espírito Santo a ilumine e lhe dê força. Não te lembras que é importante amar mesmo os que nos viram a cara, pedir pelos nossos inimigos, pedir pelos que achas que não merecem? É verdade pede por Ela, porque Ela é a que mais precisa da tua oração.

E assim foi e ainda hoje, rezo por ela, porque sei que Ele aos poucos vai entrando dentro dela, e vai se revelando como faz em cada um de nós, e mesmo que ainda não o sinta, o Amor dele vai envolve-la e ela vai ficar tão surpreendida e tocada por esse Amor sem limites que Lhe vai pedir ajuda e Ele vai perdoa-la e levá-la ao colo como faz com cada um de nós.

Saturday, December 02, 2006


Apanhei o autocarro dez minutos antes do costume, tinha me levantado mais cedo do que era costume, contudo não tinha sono, vinha meia pensativa a caminhar pelo interior deste veiculo, quando um senhor se levantou para sair, gentilmente ocupei lhe o lugar. Era junto à janela como eu gosto, porque assim faço toda a viagem com uma mão no bolso a segurar no terço, e outra pousada no colo, vou com os olhos sempre postos na janela e vou agradecendo a Deus pelo dia, pelas pessoas, pelo que me rodeia, pela vida.

Não sei quanto tempo passou desde o momento em que me sentei, perdida em pensamentos com o Senhor, e o momento em que Ela chegou.
Era bastante mais velha do que eu, devia ter quase trinta anos, alta e de cabelo apanhado loiro, rosto ligeiramente pintado, um olhar muito bonito e um sorriso triste.
Muito calada, sentou-se ao meu lado e com as mãos suadas tocava constantemente na cadeira da frente como se estivesse a tocar piano.
Ficamos ambas em silêncio durante alguns minutos, eu em oração, e ela pensativa.
Até que o silêncio foi quebrado pela sua doce voz, que se dirigiu a mim como se já me conhecesse há imenso tempo:
- Estou cheia de problemas…- disse. A sua voz tremia devido ao nervosismo. Calou-se repentinamente e parecia esperar pela minha resposta. Eu olhei-a nos olhos sem saber que lhe dizer, visto que não a conhecia e ainda para mais, a conversa tinha sido iniciada do “ nada “ e sem um “ olá “, ou um “ bom dia “. Mas apesar da minha perplexidade ela continuou como se falando sozinha:
- Estou super stressada não sei se vou ser despedida do meu terceiro emprego em dois meses, um amigo meu morreu à dois dias, a minha irmã está internada com Pneumonia e o meu namorado com quem tinha uma relação à onze anos acabou esta semana comigo e já está a namorar com outra….- afirmou sem pausas. Eu ainda meia atordoada com tanta informação continuei a olhá-la nos olhos, com um ar meio aparvalhado.
Ela calou-se, as lágrimas ao contrário do que eu esperava não lhe invadiram os olhos ,mas apenas se viam dentro dela, escorrendo espessas, grossas sempre a verter no seu interior, sem parar, inundando tristeza.
Não fiquei mais de um minuto em silêncio, tinha que falar com Ela.
- Calma, eu sei que te deves sentir mal, mas vais ver que vai tudo correr bem, confia.
Tantas vezes olhamos à nossa volta e vemos a vida como um beco sem saída, mas tens que olhar melhor tens que olhar com os Olhos de Cristo, tens que fazer do sofrimento, da dor, da tristeza, Amor, Entrega, Alegria. Porque a vida é muito mais do que nós pensamos, a vida que nos foi dada por Deus, é um dom, é algo fantástico que nós simples seres humanos limitados, distorcemos e não compreendemos.

Calei me repentinamente como que espantada com tudo o que tinha dito, e rapidamente retomei:

- Vamos ver cada caso: o teu emprego, não sei que fazes, nem sei se vais ser despedida mas independentemente do que acontecer, tens que ver o lado positivo, porque mesmo tendo tido vários empregos vais ganhando experiência, e mesmo que muitas vezes nada te faça sentido, vais ver que mais tarde fará. Quanto ao teu amigo, tenho muita pena que tenha morrido, mas tens que aceitar a morte como parte da vida, quando nos morre alguém querido custa-nos porque não a compreendemos, por não sabermos o que acontece por termos medo, mas Jesus ressuscitou, e mostrou-nos que a morte não é o fim, temos que ter Fé, e se não a temos, devemos pedi-la porque a Fé pede-se cultiva-se e cresce com o Amor de Deus.
A tua irmã está internada com Pneumonia, reza por ela e pede ao Senhor que a salve se tiver alguma Missão para ela, senão que a leve para junto d´Ele para que fique envolvida no seu Amor. Sei que é um pedido difícil, mas é o que eu faço.
Relativamente ao teu namorado, tens que ser realista, se já está a namorar com outra, na minha opinião, e por mais anos que tenhas namorado com ele, e por mais que te custe tens que partir para outra, porque uma relação de tantos anos na minha sincera opinião, não se acaba de um momento para o outro e muito menos se recomeça outra logo a seguir, assim que se isso aconteceu e se não encontras explicação para isso, reza e Entrega a Deus as tuas preocupações partilha com Ele a tua vida, porque Ele vai te ajudar.

- Mas isso é o que faço, eu peço-Lhe um sinal, que Ele nunca me dá.- respondeu–me amargamente.

-Não podes pedir sinais, poque Ele dá, só que nós não os vemos, somos piores que os cegos, porque não queremos ver, Ele fala-te por palavras, por Gestos, por acções, Ele Fala-te no silêncio, na brisa nas pessoas, tens que estar atenta e Ouvir o que Ele tem para te dizer.
E se te sentires desesperada ou triste – e quando ia acabar a frase ela abanou a cabeça como que concordando com o que eu dizia., então prossegui:

- Bem quando eu me sinto desesperada ou triste penso em três coisas: Primeiro tenho a certeza que os meus problemazinhos comparados com os de muito boa gente são insignificantes, os meus problemazinhos, comparados com a criança órfã e com Sida que trabalha e que não sabe o que não é ter fome, não são nada! Sei que pode parecer extremista e horrível comparar-me com os que estão pior, mas acho que é assim que se deve fazer olhar para os outros e ver que há tantos que estão tão mal e estamos nós a queixarmo-nos, temos é que ajudá-los e temos que perceber o quanto insignificantes são os nossos problemas, portanto toca a desvalorizar e a arranjar soluções porque tudo tem solução, segundo lembro-me da frase “ Quando se fecha uma porta, Deus abre-nos uma janela “ , e terceiro faço uma reflexão para perceber se o que não correu bem, se foi por eu não ter deixado Deus participar nas minhas escolhas e ter vivido para mim, ou se foi quando eu estava a viver para Ele, que elas simplesmente aconteceram. E então aí percebo, se eu estava a viver para mim, passo a viver para Deus, porque só assim vou alcançar a felicidade, vou passar a querer que os outros tenham mais, vou passar a querer servir vou sair do meu mundinho e perceber que o meu umbigo não é o que me rodeia. Se eu estava a viver para Deus mas as coisas não correram como eu esperava, fico triste mas procuro perceber em que parte é que me afastei da vontade D´Ele e com humildade aceito que errei e recomeço dando-Lhe a mão com força para que juntos caminhemos de novo.

Fiquei supreendida quando a minha boca se fechou, só senti o forte abraço que me deu envolver-me. Levantou-se e agradeceu-me a chorar, ouvi os seus passos ao longe e fiquei a pensar que nem sabia o seu nome.

Passaram muitos anos desde esse encontro no autocarro, nesse dia fiquei pensativa e confusa tinha a tratado por “tu “ sem a conhecer e tinha-lhe falado D´Ele sem saber se acreditava.
Já não era a primeira vez que isto me acontecia. Ainda hoje vem ter comigo pessoas que nunca vi na vida e contam-me coisas íntimas, preocupações desejos, tristezas e alegrias. Partilham a sua vida, e se eu antes não compreendia e só me questionava “ porquê? “ , hoje sei que querem falar com Ele, sei vem ao meu encontro porque Ele Lhes fala através de cada um de nós, também, na altura não compreendia como é que eu que nem sequer tinha jeito para falar com as pessoas, que sou tímida, e que coro com facilidade, como é que proferia com tanta certeza frases tão belas e tão lógicas, mas hoje sei que é o Espírito Santo que me invade e que me faz dizer-lhes o que Ele me diz, que me faz sentir a Sua presença em mim, e que me fazer transbordar de Fé para os outros, servindo-os com o Seu Amor.

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