Monday, November 06, 2006


Conheci o Jorge há mais de seis anos em casa de uns amigos. Rapidamente simpatizamos um com o outro, no meio de encontros em jantares, cafés e cinemas, ficamos amigos.
Os meses foram passando e aproximamo-nos com o tempo. Começamos a namorar em meados de Janeiro, quando o vento frio se fazia sentir na cara, e o vermelhão nos assentava nas orelhas e nas faces. Ainda me lembro do sorriso dele quando me olhou naquele dia, parecia a pessoa mais feliz do mundo, tal como eu.
Partilhávamos tudo, apontamentos, livros, bilhetes , músicas, gostos, momentos. Éramos o típico casal adolescente apaixonado.
O nosso namoro resistiu, a exames, a pressões de amigos, a encontros e desencontros , à distância, e a pouco mais…Foi numa manhã chuvosa, depois de ter tido aula de guitarra que me ligou para casa:
- Querida, precisamos de falar.
Pensei que lhe tivesse acontecido alguma coisa na faculdade, fiquei preocupada, apanhei o eléctrico e fui ter com ele conforme combinado.
- Que se passa Jorge?- perguntei, enquanto o olhava nos olhos, e lhe tocava com a minha mão na dele.
- Estive a pensar e tens que mudar…
- Mudar? Como assim? - perguntei perplexa.
- Tens que crescer! Há tanta coisa em ti que me irrita. Namoramos há tanto tempo e continuas com as mesmas ideias retrógradas em relação a tanta coisa, tens que deixar de ser tão egoísta e pensar também em mim.
Não sabia que lhe dizer, eu já sabia que ele queria que eu mudasse em relação a muita coisa, eu concordava que tinha de mudar mas não sabia como o fazer, e além disso não concordava com todas as mudanças que ele quase me impunha.
Se no inicio eu achava piada às posições politicas dele, agora enervavam-me porque me impunha que pensasse da mesma maneira que ele, se antes gostava que me elogiasse por andar tão “tapadinha” em termos de vestuário, actualmente ficava triste por insistir comigo para andar mais “despida “.
Foi no meio de uma discussão semelhante que acabamos, eu não conseguia mudar como ele queria que eu mudasse, eu não conseguia passar a ser a pessoa que ele queria que eu fosse, eu não conseguia deixar de ir à baixa às nove da manhã, mesmo sendo sábado, só para tomar um café e ler os jornais, eu não conseguia deitar-me tarde e não estudar todos os dias. Eu não conseguia cortar o cabelo mais curto, usar mini-saias, e sair á noite, dia sim, dia não consoante as festas do caloiro. Eu não conseguia deixar de ser eu.
Bem sei que numa relação a dois, deixamos o eu para nascer o Nós, e sabia que tinha de mudar em relação a muita coisa como pessoa, tinha deixar de pensar só em mim, para pensar mais nele, e em nós, tinha de ser mais sensível, tinha que dar mais importância ao dia a dia e não planear tanto, tinha que saber crescer.
Foi no meio de tantos pensamentos, discussões, desilusões e tristezas que acabamos efectivamente, ao contrário do que eu pensava não fiquei de rastos por termos acabado. Fiquei triste como é normal, mas não de rastos, rezei para que o Jorge continuasse a vida dele, e conseguisse ser feliz ao lado de alguém que não eu, que o preenchesse e o completasse da maneira que eu não conseguia fazer.
Tinha um desejo de mudar, mas não sabia como, fui-me aproximando de Deus, Ele mais do que ninguém compreende-me, ama-me como eu sou incondicionalmente, mesmo quando faço tudo mal, mesmo quando caio, Ele está sempre ao meu lado. O Amor de Deus fez-me pensar, no amor que os outros têm por mim, Ele não me obriga a mudar, Ele não me impõem decisões, Ele não me pressiona, Ele ama-me como eu sou. E foi assim que mudei, mudei porque Ele me moldou, e conduziu-me, porque me amou sempre e nunca deixou de acreditar em mim.

E hoje namoro com o Luis, que me aceita como eu sou, com os meus mil defeitos e as mil minhas qualidades, que se entregou totalmente sem receios e confiando totalmente e acreditando na nossa relação, que cresce comigo na Fé, que partilha comigo um namoro a três, eu ele e Deus.

5 comments:

Fátima F said...

Alguém podia querer melhor? :)

joaquim said...

Porque o amor não se impõe, porque o amor é aceitar o outro como ele é e juntos procurarmos o melhor para os dois.
Se eu quero que alguém mude para me agradar então eu não amo, amo-me.
Obrigado pelas visitas.
Abraço em Cristo

Maria João said...

E é tão difícil encontrar alguém que nos aceite como somos! Mais do que isso: alguém que partilhe a nossa Fé ou, pelo menos, que a respeite.

Sê muito feliz.

bjs em Cristo

"Deus em tudo e sempre"
S. Vicente de Pallotti

Anonymous said...

Vamos aprendendo com experiencias anteriores. E Deus lá está nos abrindo janelas quando se nos fecham algumas portas. Ele escreve direito..

Um bjinho.

Andante said...

Parabéns Joana pela tua atitude!
Numa relação não podemos, nunca, deixar de ser nós próprias, caso contrárioa ela nasce doente e manter-se-á enferma para todo o sempre.
Vai em frente e luta pelos teus ideais que Ele está sempre pronto a abrir-te os braços e acolher-te no Seu abraço de amor.

Beijos peregrinos

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