Tuesday, November 07, 2006


Sempre fui daquelas pessoas que planeavam a vida antes desta acontecer. Vivia mais o futuro do que o presente, combinava tudo para segunda-feira estando ainda na terça anterior, em Fevereiro já tinha programado as férias do Verão, do Inverno e da passagem do ano. Sempre fui muito prático e rotineiro, com tudo organizado ao pormenor, contava os minutos, dias, meses, reorganizava tudo para inserir mais um ou outro compromisso. Queria aproveitar todo o tempo, programava todos os segundos, queria ter uma vida organizada, não queria apanhar sustos ou correr riscos em determinadas situações.
Decoro datas com imensa facilidade, tal como nomes e acontecimentos, se me perguntassem onde estive nesse mesmo dia há seis ou sete anos era capaz de responder com precisão.
Normalmente ia a todos os convites, mas tentava seleccionar os que mais me interessavam, para não me acontecer, o que era mais frequente, ter dois programas em conflito.
Quando era miúdo, esperava ansiosamente que saísse o meu horário para organizar as tardes de estudo, as idas ao cinema, as explicações e as tardes com a Rita. Também gostava de receber o horário dos testes para organizar os fins-de-semana que ia a casa do meu pai, e os que podia ir a jantares e festas ou ficar em casa a estudar.
Olho para trás e revejo-me, dia após dia a escrevinhar em agendas, a anotar datas, acontecimentos, compromissos, a programar dias, horas, minutos, a viver a vida que ainda não existia, sempre fui assim um programador nato, uma pessoa que planeava a vida ao pormenor, que criava expectativas de como tudo ia ser.
Até ao dia em que tudo mudou, tinha grandes expectativas, planeei tudo ao pormenor e ao contrário do que eu esperava após cinco longos anos, tudo correu ao contrário do que esperava, foi uma enorme desilusão, fiquei muito triste comigo mesmo, tinha planeado tudo, não tinha arriscado e contudo tudo tinha corrido mal.
Como podia ter errado? No meio de tantos planos, que tinha corrido mal? Estava tudo tão organizado, ao pormenor mesmo...
Rezei, pedi-Lhe que me ajudasse a compreender o que tinha feito mal, e foi no meio do silêncio da noite que O ouvi como se me sussurrasse ao ouvido, que tentasse ser mais “livre” planeando menos, sendo mais impulsivo, nada de extremos, mas vivendo os dias sem preocupações futuras, planeando com antecipação mas sem exageros. Deu-me todas as indicações que precisava, tinha que parar mais vezes para pensar, não viver a vida como se fosse só compromissos de agenda, ou encontros daí a sete meses, aproveitar cada momento bem planeado, sem preocupações, sem pressões, porque a vida é um caminho que vamos percorrendo, e muitas vezes ao tentarmos fazer atalhos percorremos o caminho mais longo e árduo.

Fez-me ver a graça da oração que nos ensina e conduz.Passei a fazer da vida uma oração constante em tudo o que faço até nos pequenos gestos do dia a dia.

Passei a planear tudo com mais calma, tendo uma agenda mais livre, reflectindo mais no dia a dia, e não vivendo mais o futuro que o presente. Comecei a estar mais tempo em casa, com os meus filhos, passei a divertir-me mais e a fazer o que muitas vezes achava que não tinha tempo. Não devemos ser nem impulsivos nem planeadores, devemos ser equilibrados, porque no meio está mesmo a virtude.

Porque tantas vezes no meio do stress do dia a dia não O ouvimos e Ele tem tanto para nos dizer.

4 comments:

Maria João said...

Eu também era assim. Planeava tudo e exigia o máximo de mim. Tudo tinha de correr como previsto.

Louca ilusão! Só DEus sabe o que vai acontecer. E aprendi isso da pior maneira: através da doença.

Agora descobri Deus, já O oiço mais vezes e é mais fácil entregar cad dia nas Suas maõs. Isto não significa ficarmos parados. Pelo contrário. Simplesmente, não somos tão exigentes com a vida e não stressamos tanto. Enfim... temos mais tempo para ver Deus nas pequenas coisas e é mais fácil deixar que o Oleiro nos molde segundo a Sua Vontade.

Maria João said...

Obrigada por me teres linkado. Parabéns para o teu blog. Faz-me reflectir. Obrigada pela sensibilidade com que escreves.


Bjs em Cristo

caminante said...

Amigo mío, has descibierto la sabiduría. Es la ciencia de vivir sabiendo que tenemos un divino especcatador. Él cuenta. Y a veces, no lo dejamos contar.
Te felicito: has descubierto el porqué y el para qué de tu vida.
Un fortísimoa abrazo.

Leonor said...

A mim foi exacamente ao contrário. Quando era mais nova acusavam-me de ser demasiado impulsiva, demasiado desarrumada, demasiado desmazelada, demasiado "deixa andar". Passei a planear tudo com mais calma, encontrando o tal equilíbrio de que fala o texto. E não é que resultou mesmo? Dantes, naquele dia-a-dia tão agitado e tão cheio demãos a bater na testa "Aii, esqueci-me" e tão cheio de correrias para ir sabe-se lá onde e fazer sabe-se lá o quê... não tinha tempo para parar e ouvi-Lo. Agora tenho... Pelos vistos, os extremos tocam-se. Em situações opostas passamos exactamente pelo mesmo problema... e o tal equilibrio harmonioso que consegui encontrar mudou imenso a minha vida...sinto-me muito melhor assim!!!.. enfim, o texto diz tudo

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